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Umbler capta R$ 10 mi em venture debt para brigar no WhatsApp

Com os recursos, empresa quer acelerar com o uTalk, solução para mercado de atendimento via chat

Umbler capta R$ 10 mi em venture debt para brigar no WhatsApp

A Umbler não é uma companhia nova, atuando no setor de internet (hosting e email) desde o começo dos 2010s, sempre no bootstrapping. Porém, para a startup de Gravataí, na grande Porto Alegre (RS), o cenário mudou: para acelerar no mercado e dar escala para um de seus novos produtos, a empresa foi buscar investimento. Contudo, em vez do venture capital, a companhia optou pelo venture debt, captando R$ 10 milhões com a Brasil Venture Debt (BVD).

O investimento será usado no impulsionamento do uTalk, solução de atendimento via chat com foco no WhatsApp. De acordo com o fundador e CEO da Umbler, Flávio Cardoso, o produto  – que ele chama de “um Zendesk dentro do WhatsApp – vem surfando uma onda de crescimento desde o começo da pandemia, com um crescimento de receita de 10x no último ano. Contudo, a concorrência é concorrência é alta, e reforçar o caixa foi preciso.

“Tem outros players entrando no mercado de Whats(App) e tá virando uma guerra”, disparou Flávio, ao comentar a competição que deve enfrentar daqui para a frente. A plataforma da Meta está cada vez mais se tornando um dos canais queridinhos para empresas com soluções de atendimento, com concorrentes capitalizados. Um exemplo recente é o da Take Blip, que levantou R$ 70 milhões em série A liderada pela Warburg Pincus. Outra com grana é a Zenvia, que fez um IPO de US$ 1,1 bilhão na Nasdaq ano passado.

Ao comparar o seu aporte com o de outros players, Flávio reconhece que não é um montante tão chamativo, mas o plano do executivo com a Umbler é um pouco diferente. A estratégia é a de ocupar o mercado de PMEs, utilizando do modelo self-service de venda do uTalk para vender em volume. “Assim não entramos em competição direta com quem é maior e está mais focado nos clientes enterprise”, avalia Flavio, explicando que as empresas que utilizam a sua plataforma têm um ticket médio de R$ 250, enquanto as concorrentes passam dos R$ 1 mil.

Apesar de não abrir número gerais de faturamento, a Umbler conta atualmente com cerca de 110 mil clientes no total, e a base atual do uTalk é de 8 mil clientes. “O plano para os próximos 12 meses é ir pra mais de 15 mil clientes. Vamos deixar de ser mais low profile e entrar pesado na parte de aquisição de clientes”, completa Flávio.

Para chegar na meta esperada, a empresa já foi ao mercado contratar e abriu cerca de 30 vagas – nas áreas de tecnologia e marketing – só nas últimas semanas. A Umbler tem hoje 160 colaboradoras, operando num formato 100% remoto (a companhia desativou a sua sede física em Gravataí durante a pandemia).

Motivos para o venture debt

Para sustentar a sua opção pelo venture debt, Flávio afirmou que preferiu deixar a diluição da empresa para mais na frente, ganhando tempo para estruturar melhor a rodada de VC de sua empresa. A empresa chegou a conversar com investidores para uma possível série A no final do ano passado, e viu animação junto aos fundos. “Precisávamos de aporte para pisar no acelerador, mas já tínhamos dinheiro no caixa e estávamos em break even. Então procuramos opções fora do VC”, explica o CEO.

Até então, a Umbler nunca tinha ido de fato ao mercado para levantar fundos. Segundo o CEO, o máximo que a empresa fez foi um pequeno crowdfunding de R$ 1 milhão, por uma participação pequena do negócio, pela Captable em 2020. “Foi algo mais simbólico do que exatamente para fazer dinheiro, então nem acho que dá pra contar”, avalia o executivo.

Flávio Cardoso, fundador e CEO da Umbler

Outro ponto levantado por Flávio em favor do venture debt foi a rapidez para acessar o capital. Comparado aos vários meses que uma rodada de VC tradicional pode levar, o negócio com a BVD já colocou o cheque na mão em menos de 90 dias. “O produto (uTalk) está crescendo, está escalando, e não queríamos esperar o tempo que uma rodada de VC”, explica Flávio.

Agora, com o caixa mais encorpado e o runway estendido, Flávio afirma que a rodada de venture capital deve vir no próximo ano. “Vamos para uma rodada (série A) daqui a 12, 18 meses com mais ‘tchananã'”, pontua o CEO, explicando que o tal “tchananã” é um produto mais robusto e uma presença fortalecida no mercado.

Opção para o mercado?

De acordo com Gabriel Marques, cofundador e manager na Brasil Venture Debt, o negócio com a Umbler dará a capitalização para a empresa alcançar seus objetivos, sem a diluição do equity, mas ainda contando com o apoio que um fundo de VC tradicional fornece.

“Costumamos dizer que nos encontramos entre o venture capital e um credor tradicional. Isso, pois, apesar de dar autonomia para investida, apoiamos nossos empreendedores e estamos constantemente em contato com eles para ajudá-los com seus objetivos. Temos uma parte da nossa remuneração atrelada ao sucesso da empresa”, explica.

De acordo com o executivo, o venture debt está começando a ganhar tração no Brasil, em parte devido ao momento delicado do mercado, em que investidores estão cortando agressivamente os valuations. Frente à isso, muitos founders estão buscando novas formas de estender seus runways antes de diluir mais as suas participações.

“Empresas inovadoras que já possuem um produto provado no mercado e que estejam em fase de scale-up e crescimento, ou seja, com uma maior previsibilidade de receita, estão optando pelo venture debt”, completa Gabriel.