A Domestika, edtech espanhola de cursos online focados em áreas da criatividade, vinha em uma trajetória contínua de crescimento – pelo menos, era o que parecia para quem olhava de fora. Unicórnio há apenas 1 ano, a startup conquistou um valuation de US$ 1,3 bilhão depois de uma série D de US$ 110 milhões liderada pelo fundo israelense Zeev Ventures, e estava investindo na expansão internacional para aumentar sua base de usuários.
Mas parece que os ventos mudaram. Segundo apurou o Startups, a empresa (que atuava nos Estados Unidos, América Latina e Europa) está encerrando as operações em todos os mercados fora de sua terra natal. A plataforma atuará no Brasil até o dia 10 de fevereiro e os colaboradores – cerca de 30 pessoas – terão seus contratos terminados.
Fontes com familiaridade no assunto contaram à reportagem que a notícia não foi uma grande surpresa. “Já sabíamos que o negócio não ia bem, porque em setembro do ano passado começaram a fechar as operações em alguns países. Mas disseram que ainda queriam investir no Brasil, então não esperávamos [que o fim] fosse tão cedo”, disse uma das fontes.
“A gente esperava [o fechamento], mas pensávamos que a empresa durasse mais um pouco e que mudasse a estratégia no Brasil. O escritório da Espanha não escutava muito os outros países onde operava; a empresa agia no Brasil como se estivesse na Espanha, o que não funciona. Também tiveram alguns erros de divulgação, porque no Brasil pouca gente conhece a startup”, afirmou outra fonte.
Decisão final
O Startups procurou a Domestika para um posicionamento sobre a recente situação. A empresa diz ainda estar analisando o cenário atual e que informações oficiais devem ser comunicadas em breve.
“A Domestika, por questões de eficiência operacional, está analisando a possibilidade de consolidar a produção de cursos em português a partir de Madri, na Espanha. Consequentemente, caso a decisão fosse finalmente adotada, isso implicaria no fechamento dos estúdios de gravação em São Paulo, um percentual ainda não definido dos atuais 26 funcionários da Domestika Brasil seriam afetados.
Em nenhum caso isso alteraria o compromisso da Domestika com o mercado brasileiro, onde continuará marcando presença colaborando com os melhores profissionais do país, desenvolvendo parcerias e ações comerciais, incluindo a produção de cursos em português. Este processo de revisão está acontecendo neste momento, a partir da sede nos Estados Unidos, com colaboração das lideranças no Brasil. As decisões que serão tomadas tem como objetivo reduzir ao máximo o número de pessoas afetadas e fortalecer o crescimento da atuação da empresa no país.
A Domestika é a maior comunidade de aprendizado para disciplinas criativas do mundo, com mais de 3 mil cursos produzidos em 6 idiomas em mais de 15 estúdios em diferentes países ao redor do mundo por mais de 500 funcionários”, disse a empresa, em nota enviada ao Startups.
A Domestika no Brasil
Em entrevista ao Startups em maio de 2022, Rodrigo Ferreira, ex-Rappi e country manager da empresa no Brasil, disse que planejava trazer mais “brasilidade” para a plataforma, e que a Domestika estava tocando uma série de pilotos e projetos para alcançar esse objetivo. “Temos sorte de não precisar mexer no conteúdo, que é incrível e funciona muito bem, ou no custo. Queremos adaptar nossas formas de comunicação para que a marca se estabeleça de forma muito forte junto a um público mais amplo”, disse na época.
O objetivo da marca era justamente gerar mais identificação com os públicos locais para acompanhar a expansão global. A edtech queria expandir sua base para além do público elitizado, chegando também nos brasileiros das classes A, B e C. A startup dizia estar buscando uma série de parcerias com bancos, empresas e instituições de educação.
“Daqui a um ano, quero poder contar que estamos praticando uma Domestika mais brasileira, com comunicação, parcerias e produto em consonância com a realidade local. E que estejamos ajudando o criativo que existe nos brasileiros florescer, em um espectro ainda maior”, disse Rodrigo.
No ano passado, dos 8 milhões de usuários da edtech, cerca de 700 mil estavam no Brasil – número que crescia na faixa dos 30% anualmente. O faturamento no mercado brasileiro avançava 20% por ano e a empresa dizia querer manter o ritmo em 2022.