Depois de fazer aportes em 3 startups, a L4 Venture Builder, fundo de investimento da B3, criou seu primeiro negócio: a bolsa de comercialização de energia N5X. O negócio foi estabelecido no formato de joint venture com a Nodal, empresa do grupo EEX, que é controlado pela Deutsche Börse.
Para tocar o novo projeto, foi escalada Dri Barbosa, fundadora da hrtech Vaipe, que foi vendida para a Mereo no começo de 2022. Antes disso ela tinha montado a operação da empresa de pagamentos Payleven no Brasil, passou pela Mobly, IBMEC e foi consultora na A.T. Kearney.
Em conversa com o Startups, ela disse que, apesar de nunca ter atuado no mercado de energia, ela disse que ficou animada com o projeto por se tratar de um mercado que vai mudar muito nos próximos anos por conta de novas regras estabelecidas pelo governo, e que tem muito para ser digitalizado. “Eu gosto de tirar negócios do 0 e levar para o 1, entender o cliente final, o modelo para desenvolver, a melhor proposta de valor para cada elo. É algo que eu consegui nas minhas outras experiências”, disse.
Ela conta que chegou no projeto por conhecer Pedro Meduna, sócio da L4, dos tempos de Rocket Internet – que era a dona da Payleven. Ela foi chamada por ele para fazer uma consultoria para a operação da BridgeWise, e depois foi convidada a participar da criação da N5X.
Perguntada se o setor não seria menos atraente que outras áreas mais movimentadas como as fintechs onde ela mesma já atual, Dri foi enfática. “É um mercado muito sexy”, disse.
Atuação da N5X
A N5X vai atuar no chamado mercado livre de energia, uma modalidade que permite a negociação de capacidade energética diretamente entre consumidores e vendedores e movimenta R$ 150 bilhões. Essa opção existe desde 1996 e atualmente está restrita a grandes empresas que consomem pelo menos 500 kilowatts e operam em média e alta tensão – o que representa 35% do mercado. A partir de 1º de janeiro, o limite deixará de existir, o que vai adicionar 100 mil potenciais clientes ao mercado. “O giro no Brasil é de 4,27 vezes, enquanto em outros países chega a 10. O mercado não está em sua plena potência”, disse Dri.
Com essa expectativa de demanda, o primeiro produto que a companhia colocará no ar é uma plataforma para formalização de contratos estabelecidos entre consumidores e vendedores de energia. Com o tempo, a ideia é acrescentar mecanismos mais complexos. “Tem clientes que já operam com a EEX lá fora e não usam algumas coisas no Brasil porque não está disponível”, diz Dri.
O Brasil já tem uma outra plataforma de negociação de energia, o Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), nascida em 2012.
O Brasil é o 6º maior mercado consumidor de energia do mundo, com mais de 90 milhões de pontos consumo. O país também é o 7º maior produtor de energia, com 190 gigawatts (GW) no fim de 2022, capacidade que cresce 4% ao ano desde 2013. A maior parte da produção é de fontes renováveis (83%), sendo a hidroelétrica a principal, mas com eólica e solar ganhando espaço.
A tendência é que a diversificação de fontes continue aumentando, que as regras do setor sigam sendo flexibilizadas até chegar, em algum momento, na possibilidade de consumidores residenciais terem a opção escolher de quem vão contratar a energia de sua casa como acontece no mercado de telefonia.
Well funded
Apesar de nascer com “pais ricos” (B3 e Deutsche Börse) e compromisso de investimento de longo prazo, como um projeto iniciante, a N5X ainda tem muito para tirar do papel.
Hoje, a equipe conta com apenas mais uma pessoa além de Dri Barbosa. Segundo ela, a ideia é começar o processo de contratações a partir de agora. Outro ponto é a validação das necessidades dos diferentes atores do mercado para definir qual será o roadmap de lançamentos futuros da companhia.
Uma parte importante do trabalho será de conversas com Aneel, BC, CVM e Bacen para ajustar alguns itens ainda não cobertos pelo arcabouçou regulatório, como as operações de derivativos de energia.