
“O mapa de oportunidades de investimentos na região Sul mudou muito.” Com essa afirmação, José Augusto Albino, um dos sócios da Catarina Capital, explica uma das razões para a mudança de foco — e de nome — da gestora. Agora chamada Primus Ventures, a troca de nome vem acompanhada de um novo fundo, cujo plano é investir R$ 100 milhões em startups dos três estados sulistas.
O Sul Ventures é o primeiro Fundo de Investimentos em Participações (FIP) da Primus, cujo lançamento oficial acontecerá nesta semana, durante o South Summit Brazil, em Porto Alegre. Entretanto, a gestora falou em primeira mão com o Startups para dar mais detalhes sobre o veículo.
Conforme explica José Augusto Albino, o novo fundo terá como foco negócios em estágio inicial, com cheques de R$ 500 mil a R$ 2 milhões. A atuação será concentrada em startups que desenvolvem soluções para empresas (B2B), com foco em setores como fintech, retailtech, insurtech, healthtech, IoT, indústria 4.0, agritech, energia e infraestrutura de TI.
“Nossa ideia é fazer 20 investimentos neste formato, alocando de 40% a 50% do montante total do fundo nesses cheques de early stage, entrando em rodadas pré-seed e seed”, explica o sócio da Primus.
A Primus também tem planos de assinar cheques maiores — de até R$ 10 milhões —, mas, segundo José Augusto, isso deve ser reservado para alguns follow-ons estratégicos, investindo em startups que “subiram na escada” do venture capital. “Dependendo do potencial das startups, vamos entrar em alguma rodada seed maior ou até mesmo em alguma série A”, explica o executivo.
Até o momento, o Sul Ventures já conta com R$ 50 milhões captados e dois cotistas importantes: o Badesul, agência de fomento ligada ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, e o BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul) assinarão um protocolo de intenções como os primeiros cotistas institucionais do fundo, durante evento de lançamento no South Summit.
De acordo com José Augusto, a expectativa é que o fundo alcance a captação de R$ 100 milhões até o fim do ano. “Estamos em negociações avançadas com investidores institucionais e privados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Também estamos conversando com family offices e investidores estratégicos de São Paulo, interessados em acessar o potencial da Região Sul”, explica.
Quanto ao volume de cheques, a expectativa da Primus Ventures é fazer de 5 a 6 investimentos por ano, e os primeiros aportes devem ocorrer no segundo semestre de 2025. “Ainda temos todo o trabalho burocrático a finalizar no primeiro semestre, para então começar a assinar cheques”, avalia.
As proporções mudaram
Quanto à troca de nome da gestora, José Augusto explica que ela representa uma espécie de “retorno às raízes”, já que o primeiro fundo operado pelos sócios — Adonay Freitas, José Augusto Albino, Renata Buss e Raul Daitx — foi o Cventures Primus, lançado em 2013 pela Fundação Certi, e que foi investidor inicial de startups como a Hiper (vendida para a Linx), Zygo (vendida para o PagSeguro), entre outras.
“Fomos os primeiros a investir na Asaas, quando a empresa faturava R$ 30 mil por mês emitindo boletos”, revela o executivo, mencionando a fintech catarinense que, no ano passado, protagonizou uma das maiores rodadas da história, captando R$ 820 milhões em uma rodada liderada pela BOND, com participação da SoftBank, 23S Capital e Endeavor Catalyst.
Segundo ele, na época, o ecossistema catarinense estava mais avançado no desenvolvimento de novos negócios, o que levou os executivos que operavam o Cventures Primus a reforçar seu foco no estado e a criar a Catarina Capital em 2019. “Naquele momento, 80% dos investimentos eram em Santa Catarina, 10% no Rio Grande do Sul e 10% no Paraná.”
Corta para 2025, e o sócio da Primus tem certeza de que as proporções já são totalmente diferentes, embora não arrisque dar uma nova estimativa em porcentagens. “Rio Grande do Sul e Paraná aceleraram muito, com ecossistemas como o do Instituto Caldeira, em Porto Alegre, e o Hotmilk e Vale do Pinhão, em Curitiba”, aponta José Augusto.
Além disso, o plano da Primus Ventures é prospectar startups além das capitais dos estados do Sul. “Queremos explorar e olhar para regiões pouco vistas pelo venture capital, no interior de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e no oeste do Paraná, que têm iniciativas interessantes, mas pouquíssimo investimento”, pontua.
Por outro lado, o foco reforçado no Rio Grande do Sul e no Paraná não significa que Santa Catarina ficará em segundo plano. Contudo, de acordo com o sócio da Primus, atualmente as startups catarinenses já vivem outro momento.
“O ecossistema catarinense continua muito forte, mas agora com mais qualidade e maturidade nos negócios, já com fundadores em sua segunda ou terceira jornada, e pretendemos investir nessas ideias”, explica.
Entretanto, de acordo com o sócio, com mais investimentos nos dois outros estados da região, o plano da Primus é nivelar todos esses ecossistemas “por cima”, criando uma cadeia em que todos saiam ganhando.
“A região Sul ainda é muito carente em volume de investimento. Os três estados têm 24% das startups do país e menos de 8% do volume de investimentos de venture capital. O Rio Grande do Sul tem 7% das startups e apenas 1% dos investimentos. O trabalho de base nesses estados já está feito. Agora, o nosso objetivo é levar todo mundo para a primeira divisão”, finaliza.