Para criar seus braços de investimento em startups, os famosos corporate venture capital, ou CVC, as empresas brasileiras têm encontrado nos fundos de investimento em participações, ou FIPs, o caminho mais interessante para sua estruturação.
Segundo um mapeamento do mercado divulgado hoje pela ABVCAP adiantado so Startups, em 2022, 53% dos CVCs nascidos nos país optaram pela estrutura prevista nas instruções 578 e 579 da CVM. Isso representou um crescimento de 33 pontos percentuais na comparação com 2021, e deixa o Brasil com um perfil bem diferente das iniciativas que acontecem ao redor do mundo.
Globalmente, mais de dois terços das empresas (69%) prefere fazer os aportes nas startups diretamente de seu balanço. A avaliação é que criar uma estrutura dedicada como um FIP traz mais benefícios em relação à segurança jurídica e também em questões tributárias, já que a tributação FIP é menor que a que incide no formato direto.
Rise of the corporate venture
Os CVCs, têm ganhado espaço no Brasil nos últimos anos. Só em 2022, cerca de R$ 3 bilhões foram adicionados ao bolo com iniciativas anunciadas por nomes como Totvs, Locaweb, Ânima, B3, Suzano e Vivo. A estimativa é que cerca de 150 empresas façam investimentos diretos em startups no país.
No mapeamento feito pela ABVCAP, os fundos de corporate venture capital apresentaram portes que se concentraram em R$ 50 milhões e também na faixa de R$ 200 milhões a R$ 500 milhões. A busca é majoritariamente por empresas nas fases seed e série A. Quase dois terços são geridos pela própria empresa por meio de times internos. A maior parte das equipes tem entre 3 e 5 pessoas, sendo a maior parte delas pessoas mais experientes, com idade entre 30 e 40 anos.
A remuneração das equipes é feita no formato tradicional de salário e bônus corporativo. Só 21,9% das empresas adotada práticas típicas do mercado de venture capital, como carry e ações da empresa.
Em 40% dos casos, a prestação de contas é feita diretamente para o CEO da empresa. O percentual é um pouco maior do que a média mundial, de 25%. Na hora de tomar as decisões sobre os investimentos, os CEOs também têm voz ativa, participando dos comitês de investimento junto com diretores de inovação e CFOs.
Com a maior parte dos CVCs fez de 3 a 5 investimentos, Sandro Valeri, que acabou de deixar a Ahead Ventures para tocar um projeto próprio, diz que o estudo comprovou uma percepção que já se sabia sobre o mercado: ele ainda está só no começo. E de fato, sete entre cada 10 iniciativas (72,8%) ainda está na fase batizada de inicial, ou seja, tem menos de 3 anos de existência. Só 12% está na fase de resiliência, com um histórico de 7 anos ou mais.
Apesar de ainda pouco experientes, as empresas já entenderam o papel estratégico que o CVC tem. Os “insights estratégicos” sobre tecnologia, mercados e modelos de negócios emergentes aparecem na pesquisa como o principal motivador. Acesso e opcionalidade, – que significa a criação de novos negócios e M&A, aparece em segundo.
Mas ainda é preciso melhorar alguns aspectos, como tirar dos contratos cláusulas típicas de acordos de fusão e aquisição – sendo uma delas o direito de ser o primeiro a ser consultado no caso de uma oferta de compra da startup (right of first refusal).
Gabriela Toribio, managing director da Wayra e do Vivo Ventures, destaca ainda a necessidade de não se esperar retornos parecidos com os de um fundo de venture capital tradicional – algo que 53,3% das empresas esperam. “Você tem o retorno esperado, mas outra alavanca deve ser avaliada é a sinergia operacional, o potencial de negócios que pode trazer”, diz.
Para os dois, as empresas tendem a ganhar mais espaço diante do atual cenário de apetite mais comedido por parte dos fundos de venture capital tradicionais. “Os CVCs serão muitoa ativos e vão ajudar na construção das teses, não só acompanhando rodadas, mas também liderando”, pontua Gabriela.
O estudo
O estudo da ABVCAP contou com a participação de 41 empresas sendo que 34 possuem iniciativas de CVC. As outras 14 têm planos de criar e pretendem fazer isso com a contratação de consultorias especializadas (71,4%) e também com talentos internos (57,1%). EloGroup, O Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC), Wayra Brasil, Vivo Ventures, Global Corporate Venturing (GCV) e ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) apoiraram a iniciativa.
Composto por 60 perguntas, o levantamento avaliou aspectos como volume de investimento, tipo de veículo utilizado, remuneração da equipe, como avaliam retorno sobre investimento, entre outras informações.
A metodologia usada foi a do inglês Global Corpate Venturing, que acompanha o mercado globalmente há mais de uma década. Em março, quando próxima pesquisa sobre o setor for divulgada, os dados do Brasil já estarão incorporados. Segundo Sandro, o plano é fazer rodar a pesquisa todo ano, com atualizações trimestrais sobre novas iniciativas criadas pelas empresas.