Que 2023 foi tipo uma “parte 2” do drama do venture capital iniciado em 2022, a gente já sabe. Entretanto, neste fechamento de ano, a pergunta é se 2024 transformará essa saga em uma trilogia, ou se o filme será outro. Com esta pergunta em mente, a ACE Ventures e o Startups lançam o report Into The Future.
“O chamado inverno das startups demorou para passar, mas deve ficar no passado a partir de 2024 na visão de fundadores e investidores da América Latina”, crava o levantamento, logo em sua seção que prevê o comportamento dos VCs a partir do próximo ano.
Segundo dados da Latam Tech Report divulgados no estudo, 88,9% dos investidores preveêm um 2024 positivo, enquanto 11,1% acreditam que o cenário deve se manter no mesmo nível de 2023. No lado dos fundadores, a perspectiva também é otimista, com 77,8% apostando em um 2024 melhor, enquanto 17% ainda estão com o pé atrás, com o receio de tempos ainda instáveis. Os 4,4% restantes estão pessimistas, esperando um 2024 pior.
Para o sócio da ACE Ventures, Pedro Carneiro, a esperada retomada dos investimentos em 2024 será especialmente boa para um tipo de founder. “Para o empreendedor raiz, que se preocupa em arregaçar as mangas, o caminho se mostra mais livre sem os rivais que só faziam fumaça ou que concorriam de forma desleal por conta do mercado mega capitalizado”, dispara.
Segundo o estudo, essa observação começará a ser vista com ainda mais força no early stage, em que negócios precisarão demonstrar um produto refinado e aumentar de forma eficiente os resultados.
“Por conta da incompatibilidade entre as expectativas de valuation entre fundadores e investidores, mais líderes de startups devem optar por rodadas de extensão, em que as expectativas de receita recorrente anual são mais flexíveis do que avançarem para Série A ou B”, afirma a ACE no relatório. “Além disso, muitas dessas startups continuam a combater o inchaço operacional decorrente da mentalidade de crescimento a todo o custo dos últimos anos e a procurar caminhos para estender o runway, o que pode prejudicar as metas de receitas”, completa.
Desafios para o late stage
Já as expectativas para o late stage são mais preocupantes. Segundo o report, startups em estágios mais avançados enfrentarão desafios severos de financiamento, o que já se viu em 2023. “Mais uma vez, o setor segue em queda depois de seu ápice em 2021, quando fechados mais de 5 mil acordos (movimentando US$ 152,6 bilhões). Em 2023, foram realizamos 3,285 deals até setembro, com 57,3 bilhões em investimentos”, pontua o estudo.
Ainda de acordo com o report, startups maduras que não atingiram o ponto de equilíbrio do fluxo de caixa vão ter que ir ao mercado atrás de infusões significativas de dinheiro. O porém: a tendência é que meganegócios (acima dos US$ 100 milhões) sejam ainda mais escassos em 2024, o que pode resultar em downrounds e unicórnios deixando de ser unicórnios.
Para o editor-chefe do Startups, Gustavo Brigatto, 2024 tem tudo pra ser o ano em que a cautela exercida em 2022 e 2023 encontre um método concreto, somado à uma volta comedida do apetite ao risco, caso os juros caiam ao longo do ano. “Sendo bem pragmático, a correção era mais do que necessária. A abundância de capital fez muita feature ser lançada como produto. E a ideia de crescimento acelerado sem fim nunca se sustentou. Assim, a racionalidade imperou em 2023. E o pragmatismo deve ser o tom de 2024”, finaliza.
Além das previsões para 2024, o report Into The Future traz também números sobre o ecossistema em 2023, que você pode conferir na íntegra clicando neste link.