Depois de dois anos de um mercado de venture capital de poucas movimentações e muitos ajustes, 2024 vai chegando com uma perspectiva mais otimista, na avaliação de Alex Szapiro, executivo que comanda as operações da SoftBank no Brasil. “Estou bem animado com o ano que vem”, disse ele em conversa com o Startups.
De acordo com Szapiro, o otimismo é explicado por uma conjunção de fatores: um cenário mais positivo macroeconômico do ponto de juros; por grande parte, senão a totalidade dos ajustes já terem acontecido nas empresas; e pela entrada de gente de nível mais sênior nos quadros das companhias ao longo dos últimos 18 a 24 meses.
Em seu portfólio na América Latina, o SoftBank tem 80 empresas. Desde que desembarcou por aqui com o seu Latin America Fund, em 2019, a companhia direcionou US$ 8 bilhões para aportar em companhias em estágio de desenvolvimento mais avançado – late stage, ou growth. O fundo original, de US$ 5 bilhões, já foi completamente investido, enquanto o fundo II, de 2021, ainda tem recursos para aplicar. Ainda não há perspectiva para um fundo III, mas, se for preciso mais recursos, é possível acessar o bolso do megalomaníaco Vision Fund II.
Sobre o portfólio, Szapiro diz que a maioria das companhias tem caixa para mais de 12 meses e está em break even, o que faz com que não necessitem de capital tão cedo. Em relação a novos investimentos, ele contou que ao longo de 2023, foram analisadas 50 empresas, para 2 investimentos concretizados. Uma conversão de cerca de 6%. Em termos absolutos, os números são menores que os registrados em 2022, quando foram 111 negócios avaliados, com 4 cheques assinados. Proporcionalmente, o resultado foi o mesmo.
Segundo Szapiro, isso deve ao fato de haver menos empresas que estão na situação ideal para o SoftBank investir. Mas a roda segue girando, com novas oportunidades aparecendo com frequência. “É interessante que o nosso radar de acompanhamento não para de crescer”, disse.
Confira a íntegra da conversa.
Os anos de 2022 e 2023 foram bem complicados para as startups e para o venture capital. O que esperar de 2024?
Eu estou bem animado com o ano que vem. Grande parte dos ajustes foram feitos a gente tá olhando muita coisa nova. A quantidade de empresas que a gente está avaliando, fazendo diligência e que provavelmente, se a gente investir, vamos comunicar no ano que vem, é relativamente grande.
A gente viu uma aceleração para growth – porque geralmente early stage eu acho que sempre tem coisa vindo. Pra growth é um pouco mais difícil porque você tem que ter a empresa naquele momento para captar. Ou às vezes é uma empresa que quer fazer um movimento grande. É uma empresa que não tinha ninguém no captable, nunca teve venture capital. Então a gente está vendo isso. E eu estou otimista.
Mas isso significa que está tudo bem agora?
Lógico que a gente ainda tem um cenário macroeconômico mundial incerto. Mas tudo indica que, do ponto de vista de taxa de juros americana, já aconteceu tudo o que tinha para acontecer. E isso tem um impacto direto na indústria de investimento.
E qual será esse impacto?
Eu acho que há uma tendência nos próximos 2 anos de a gente começar a ver as saídas – os IPOs, os M&As. A gente até teve alguns M&As. Tivemos a Pismo com a venda para a Visa. Tivemos a Avenue para o Itaú. Então, na nossa visão, é business as usual. A gente continua olhando. Continua aportando capital nas empresas do portfólio que precisam.
E essa é uma outra coisa interessante. Grande parte das empresas do portfólio (88%) tem hoje caixa para mais de 12 meses. E grande parte delas, na verdade, está em break even, ou seja, a empresa não vai precisar mais de capital. Então eu acho que isso também é muito positivo.
Você acha então que em 2024 há espaço para já acontecer alguma coisa de saídas, de ter mais liquidez via IPOs?
Se você me perguntar se as empresas estão prontas para isso, eu diria que a gente já tem algumas no portfólio que sim. A pergunta é muito mais se a janela vai abrir mundialmente e na América Latina também.
Qual o balanço dos últimos dois anos para os fundadores do portfólio? Quais as perspectivas?
Os últimos 18/24 meses foram extraordinários para os founders ajustarem a casa. Alguns deles até contrataram gente mais sênior porque eles entenderam que foram muito bons do zero até aqui. Mas para levar a empresa para o próximo patamar, não são as pessoas certas.
Então, essa combinação de um cenário mais positivo macroeconômico do ponto de juros; de grande parte, senão a totalidade dos ajustes já terem acontecido; e de gente muito boa colocada nas empresas, se você tem um bom negócio, a tendência que você vai continuar vendo, de saídas em 2024, 2025 e 2026, ela é muito positiva.
E, no final do dia, para nós, que somos um negócio de investimento, investir não é só colocar dinheiro. Investimento significa ter uma saída em algum momento.
Do ponto de vista de novos investimentos, já houve um movimento forte de aportes nas empresas que estavam mais avançadas. Tem ainda bons alvos nessa fase de growth para colocar dinheiro?
Sim. A roda está girando. Neste momento a gente está avaliando duas grandes oportunidades. E a gente está falando de cheques de milhões de dólares que, eventualmente, a gente pode vir a fazer. Ou seja, o time o time não parou de trabalhar.
Se você olha o nosso pipeline, a gente olhou, desde janeiro, mais de 50 empresas. Fizemos dois investimentos novos e follow ons foram 4. Se você olhar percentualmente, é OK. Porque você tem, sei lá, 40 e poucos 50 empresas. E você faz 2 ou 3 investimentos, a gente tá falando de 7%, 6% de investimento. Em 2022 foram 111 empresas e 9 investimentos. Proporcionalmente fica a mesma coisa. É o nosso pipeline. Tem que continuar funcionando.
Proporcionalmente vocês continuam trabalhando, mas desacelera em números absolutos, até por conta de toda a situação do mercado…
E chega uma hora também que nem sempre tem empresas que estão no nosso alvo. Às vezes tem empresas que a gente vai falar e não está pronto para growth. Mas fica no nosso radar para ir acompanhando.
É interessante que o nosso radar de acompanhamento não para de crescer.
Os investimentos de agora em diante vão acontecer de forma mais racional, sem os tropeços do passado, de colocar grana para crescer, crescer, crescer. A lógica não é mais essa? Ou ainda pode acontecer?
Primeiro, a gente só vai poder julgar nosso resultado daqui a 5 ou 10 anos tá certo. E outra coisa: tropeços. Nós não somos perfeitos! Mas eu acho o seguinte. A nossa visão é uma visão muito clara. A empresa tem que fazer algo muito diferente, tem que ter um moat [defesas estratégicas], logicamente que tem que ter um TAM, tem que ter o tamanho do mercado, tem que ter o time e certo et cetera.
E quando isso acontece, e você começa a ver uma tendência de a empresa queimar cada vez menos capital, e aí lógico não estou falando que a empresa tem que continuar crescendo. Até porque a gente investe em late stage que chama Growth.
Mas o crescimento a qualquer custo que a indústria viu em 2019 e 2020, eu imagino que isso não vai se repetir.
Em termos de indústria, eu tenho ouvido que fundos estrangeiros estão começando a olhar o Brasil de novo, procurando oportunidades aqui e na América Latina, depois de um tempo de afastamento. Vocês têm sentido isso, têm recebido contatos?
Eu acho que os empreendedores ficaram mais ressabiados com os fundos turistas. Lógico, todo mundo quer capital. Mas quando você tem uma boa empresa, você tem a capacidade de escolher que capital você quer no teu captable. Você quer alguém que conheça a região. Que está aqui, que pode agregar valor. Que pode ajudar.
Por exemplo, a gente recentemente teve uma conversa com um empreendedor – não era nem um investimento pra agora – mas a verbalização dele foi de ter a gente com um menor valuation, do que alguém que não está no país que pode pagar um maior valuation. Nem sempre um fundador tá focado de ter o melhor valuation. Ele quer capital de verdade.