O cenário segue desafiador para o venture capital global. E, no Brasil, não tem sido diferente. A elevação da taxa básica de juros pelo Banco Central ao longo de 2025 adicionou ainda mais pressão a um mercado já retraído e contribuiu para que os investimentos recuassem no segundo trimestre. Entre abril e junho, as gestoras de venture capital investiram R$ 1 bilhão em apenas 20 transações, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (07) pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP).
O volume investido representa uma queda expressiva, de 60%, frente aos R$ 2,5 bilhões distribuídos em 33 deals no mesmo período de 2024. Na comparação com o primeiro trimestre deste ano, quando o setor movimentou R$ 1,5 bilhão em 24 operações, a queda foi de 33%.
“De fato, há uma redução do volume de capital disponível, especialmente quando comparado ao período de 2021 e 2022. Os investidores estão mais seletivos, mas ainda há bons deals sendo feitos. Lembrando que essa é uma indústria de longo prazo, que deve ser sempre avaliada levando em consideração esse aspecto. O cenário macro, sobretudo de juros altos, não tem nos ajudado muito, mas de certa forma somos uma indústria que está acostumada a ambientes voláteis”, afirma Priscila Rodrigues, presidente da ABVCAP.
Apesar do cenário adverso, alguns aportes se destacaram. É o caso da Onfly, por exemplo, que levantou R$ 240 milhões em uma rodada série B, liderada pelo Tidemark, fundo de venture capital do Vale do Silício, e participação da Endeavor Catalyst e da Left Lane Capital.
A Mombak, especializada em créditos de carbono, captou R$ 168 milhões com investidores como AXA IM – Real Assets, Bain Capital, CCP FIP, Kaszek Ventures, Lowercarbon Capital e Union Square Ventures (USV). Já a Justos levantou R$ 92 milhões, com apoio de Endeavor Catalyst, Kaszek Ventures, Ribbit Capital e Scale-Up Ventures.
A concentração dos recursos também indica a seletividade dos investidores. No primeiro semestre, 46,93% do capital foi destinado ao setor de Tecnologia da Informação (TI), enquanto os Serviços Financeiros concentraram 32,77% e o setor de Consumo, Produtos e Serviços, 13,94%. Ainda no período, foram realizadas 14 saídas, sendo 13 via trade sale e uma transação secundária.
No corporate venture capital (CVC), o momento também é de retração. No segundo trimestre, os investimentos somaram apenas R$ 10,5 milhões em três transações. O valor representa uma queda de 62% frente ao primeiro trimestre (R$ 300 milhões em oito transações) e de 85% na comparação com o segundo trimestre de 2024, quando foram investidos R$ 200 milhões em 20 deals.
Nesse segmento, a preferência por tecnologia foi ainda mais expressiva: 50% dos investimentos no primeiro semestre foram destinados ao setor de TI. Em seguida vieram os Serviços Financeiros (25%) e, empatados, os setores de Healthcare e Consumo, Produto e Serviços, com 13% cada.