Apostando no crescimento no número de empresas atentas à saúde mental de seus funcionários, a Crescera Capital liderou um aporte série A de R$ 35 milhões na healthtech Vittude. Outro investidor que entra para o captable é o Scale Up Ventures, da Endeavor, acompanhado pela Redpoint eventures, que liderou a rodada seed na empresa em 2019.
Com uma plataforma de mais de 700 psicólogos ativos, a startup de terapia online teve um crescimento significativo nos últimos anos, com uma base de clientes que saltou de 7 empresas em 2019 para 160 companhias atendidas. Nomes como Banco do Brasil, SAP, Sky, Grupo Boticário, Saint Gobain e outras startups, como a Adventures, Inc oferecem o serviço da Vittude como benefício, que é utilizado por cerca de 600 mil pessoas.
A empresa deve usar o aporte para apoiar uma expansão no quadro de funcionários – atualmente com 60 funcionários, a Vittude deve chegar nos 150 colaboradores até o final do ano. Além disso, a ambição é continuar seniorizando a empresa – que contratou CMO, CTO e CFO, além de outras funções-chave nos últimos meses e atraiu mulheres para metade dos cargos de liderança – além de triplicar o faturamento em 2022.
Além da expansão do time, objetivos da Vittude para os próximos meses incluem o aumento da presença no universo corporativo e uma evolução dos produtos lançados nos últimos anos. Entre eles, está o Vittude Match, que utiliza modelos de machine learning que visam conectar o funcionário que usa o sistema com o profissional que melhor atende as suas necessidades. Além disso, a startup vai desenvolver escalas proprietárias para medir condições como o burnout.
“Com a evolução desse algoritmo, começamos a munir os departamentos de recursos humanos com dados para que atuem não só no tratamento da saúde mental, mas também de forma preventiva. Conseguimos entregar valor para uma empresa no momento em que as ajudamos a antever um adoecimento, já que isso custa muito menos do que tratar uma pessoa doente”, diz a CEO e co-fundadora da Vittude, Tatiana Pimenta, em entrevista ao Startups.
Mais que capital
Segundo Tatiana, que não revelou o atual valuation da empresa, a aproximação com o fundo que liderou o novo aporte se deu há cerca de um ano atrás, através de um analista de outro investidor que estava paquerando a startup. A conversa com este fundo não foi para a frente, mas o analista mudou de emprego, a ponte foi feita com a Crescera (antiga Bozano), e o papo avançou.
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“No início do processo, o Rodrigo [Comazzetto, partner da Crescera que liderou o investimento] estava interessado em saber se eu tinha uma visão de vender a empresa logo, de passar por um M&A. Respondi que fundei esse negócio porque tive depressão, é uma história de propósito, pensada para o longo prazo – meu objetivo é IPO. Acho que essa conversa inicial casou muito com a visão e os valores do fundo”, diz Tatiana.
Os meses que se seguiram desde aquela conversa inicial foram de aprendizados para Tatiana e o co-fundador e COO da empresa, Everton Hübner. “[A Crescera] fez uma avaliação muito profunda do negócio para entender os riscos, que foi algo que achei extremamente importante, pois nos fez subir a barra em uma série de coisas, apesar de sermos muito enxutos e ‘certinhos’ desde o começo”, diz a empreendedora, em referência ao processo de due diligence, em que estiveram envolvidas empresas como a Alvarez & Marsal.
Segundo Tatiana, foi importante buscar um investidor que pudesse aportar mais do que somente capital. “Minha experiência até então, com a Redpoint, foi extremamente positiva: o Romero [Rodrigues], que toca o dia a dia conosco é um mentor sensacional, a Carol [Strobel], que é a única partner mulher no fundo também me apoia muito e abre uma infinidade de portas”, aponta a fundadora.
“Vi na Crescera essa mesma vontade de participar e uma disposição de atuar como mentores e ajudar a construir uma empresa que deixa de ser uma startup para se tornar uma corporação de fato. Queria ter esta certeza, pois muitas vezes a trajetória de um fundador é solitária e esse apoio é fundamental,” diz Tatiana. A fundadora também fez a lição de casa e, antes de bater o martelo, conversou com founders que tinham sido investidos pela Crescera, como Rodrigo Dantas, fundador da Vindi, e Marcelo Furtado, da Convenia, e ambos relataram experiências positivas com o fundo.
A entrada da Endeavor no captable segue a mesma linha, de alinhamento de ideias e visão de mercado. A Vittude foi acelerada pela organização no ano passado, um processo que “abriu os olhos” para uma série de questões de negócio como vendas, levou a startup para um novo nível de amadurecimento, diz Tatiana. “Ter passado pela aceleração da Endeavor foi muito bom, e eles terem aportado capital na empresa foi sensacional, pois demonstra que eles confiam no que estamos fazendo.”
Folga no caixa
Ter uma relativa tranquilidade financeira foi primordial para tomar boas decisões ao atrair um novo investidor: a Vittude tinha cerca de 20 meses de caixa, um buffer criado em parte pelo fato que a empresa conseguiu escalar sem fazer contratações com altos salários, diz Tatiana. “O ideal é começar [a captação] o mais cedo possível e uma folga de caixa, ao invés de fazer isso quando faltam dois meses para o dinheiro acabar”, ressalta.
Por outro lado, não ter pressa para captar também que não quer dizer que o processo não foi cansativo: “Com a pandemia, fui procurada por fundos que queriam entender mais sobre o espaço de saúde mental, e percebi que muitos não tem uma tese muito clara, ou percepção das oportunidades. Também fica claro que há um real estigma sobre o setor”, conta.
Mensagem para as empreendedoras
Uma das poucas fundadoras a levantar uma Série A no Brasil, Tatiana acredita que a rodada tem um significado especial para outras empreendedoras. “Não vemos tantas mulheres fazendo captações com esta robustez. [Rodadas como a da Vittude] vem para mostrar ao mercado que tem mulher fazendo coisa legal, e para as fundadoras, mostra que pode até ser mais difícil, mas a gente consegue”, pontua.
Segundo Tatiana, fundos começam a olhar para questões de meio ambiente, social e governança (ESG) – e ter um portfólio mais diverso passa a ser algo cada vez mais importante para certas gestoras. “Em várias ocasiões, sentei para conversar com fundos que não estavam a fim de ouvir pelo fato de eu ser uma mulher. Mas as coisas estão mudando,” finaliza.