A Wayra Brasil, hub de inovação aberta da Vivo, tem adaptado seu modelo de atuação ao longo dos anos para se adequar às demandas do mercado e da operadora móvel. Fundada em 2010 na Espanha, com sua versão brasileira no ano seguinte, a companhia atua para que as startups e o ecossistema façam negócios com as marcas do Grupo Telefônica.
Nos primeiros anos, o foco era atuar como uma aceleradora. A Wayra já acelerou mais de 80 startups, incluindo Gupy, Docket, Monkey Exchange e Getup. Segundo Guilherme Amorim, head de parcerias do hub, essa era uma operação bastante independente do ponto de vista de encontrar soluções de tecnologia que fossem aderentes à empresa. No entanto, a partir de 2018, a companhia se reposicionou como um fundo de investimento corporativo do Grupo Telefônica, e esse tem sido seu carro-chefe desde então.
“O fundo busca startups que façam sentido para as unidades de negócio da Vivo. Soluções, serviços ou produtos que gerem um link e tenham uma sinergia operacional com a empresa”, afirma Guilherme, em entrevista ao Startups. Isso não significa aportes só em startups de telecom. Serviços financeiros, agronegócio, saúde, educação, entre outros segmentos também podem ser considerados. “A Vivo, por ter diversas áreas, vai muito além dos serviços de telecom e isso é essencial para construirmos o nosso portfólio.”
A Wayra já investiu na mineira ATIVA Soluções, que desenvolve equipamentos e sistemas de telemetria e gerenciamento remoto usando comunicação máquina a máquina (M2M) e Internet das Coisas (IoT), e na GamerSafer, startup norte-americana criada por brasileiros que garante segurança aos jogos online por meio de sua solução SaaS.
Com esse modelo, a Wayra se propõe a fazer todos os processos internos de fundos de institucionais, do dealflow e gestão do portfólio à análise do desempenho, valorização e valuation das investidas. A companhia realiza coinvestimentos em estágios pré-seed e seed, oferecendo até 350 mil euros (cerca de R$ 2 milhões), além de visão de longo prazo, networking e contato com o mercado.
“Há 15 anos as grandes emprsas mal tinham seus programas de aceleração. Nos últimos anos, a maioria já tem e se relaciona com startups de alguma forma. A evolução natura ldo mercado foi que as organizações passassem a ter seus fundos de investimento para atender suas próprias necessidades”, analisa Guilherme.
Mas ainda tem aceleração
Apesar do foco no CVC, Guilherme afirma que a Wayra ainda faz projetos de aceleração para empresas parceiras do Grupo Telefônica ou do próprio hub. Um deles é o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Juntas, as empresas tocam o programa de aceleração BNDES Garagem. A iniciativa visa estimular o empreendedorismo no Brasil por meio do apoio a startups com foco na resolução de desafios sociais ou ambientais.
Neste programa, a Wayra trabalha também ao lado da rede de inovação Liga Ventures e da Artemisia, organização que apoia negócios de impacto. A 1ª edição, realizada entre 2018 e 2019, contou com mais de 5 mil startups inscritas e 79 participantes. Em 2021, 45 empresas foram selecionadas de um total de 1.300 inscritos. Este ano, mais 45 negócios, 25 na fase de tração e 20 de criação, podendo receber prêmios de R$ 30 mil e R$ 20 mil, respectivamente.
“Da mesma forma que a gente investe em startups que tenham um mínima sinergia com a Vivo, os programas de aceleração seguem a mesma regra”, pontua Guilherme, No caso do BNDES Garagem, ele cita o compromisso da operadora com causas ESG, focada em apoiar negócios e soluções de impacto social, ambiental e de governança. No ano passado, a Wayra ajudou o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em uma parceria com a Organização Mundial de Turismo e o Ministério do Turismo brasileiro, a tocar um programa com traveltechs, frente aos impactos do setor de turismo durante a pandemia.
O papel da Wayra hoje
“A Wayra é como uma multinacional”, descreve Guilherme. A a companhia reporta à matriz espanhola e coordena suas estratégias com os country managers das outras geografias – são 9 no total: Brasil, Alemanha, Espanha, Reino Unido, Argentina, Colômbia, Chile, México e Peru. No entanto, cada Wayra tem parceria com a sua Telefônica local que, no caso do Brasil, é a Vivo.
“Nossa interação com a Vivo é sempre muito forte, principalmente pelos trabalhos de cultura, intraempreendedorismo e negócios”, pontua. Guilherme explica que os projetos de inovação são desenvolvidos em 4 mãos entre o hub e a operadora. A Wayra tem um trabalho constante de escutar as dores e demandas das diferentes áreas da Vivo e coordenar estratégias em busca das respostas.
Sobre o momento atual do mercado, com alta de juros e maior aversão ao risco por parte dos investidores, o executivo diz não ter notado muita diferença nos negócios na Wayra. A principal mudança foi em relação aos valuations: a companhia, assim como outros fundos ao redor do mundo, está reavaliando os valores de mercado das startups a serem investidas, buscando valores mais realistas.
No meio da instabilidade no ecossistema, a Vivo lançou um novo veículo de investimento chamado Vivo Ventures, que na prática é um fundo de CVC. O braço foi anunciado em abril com R$ 320 milhões para injetar em startups inovadoras. Em agosto, o Vivo Ventures fez o seu primeiro aporte: cerca de US$ 3 milhões (cerca de R$ 15 milhões) na rodada da Klavi, companhia de Software as a Service (SaaS), que no total levantou US$ 15 milhões com Iporanga e Parallax.
Segundo Guilheme, o Vivo Ventures é um veículo complementar à Wayra, cogerido entre o hub no Brasil, Espanha e a Vivo. Ele se posiciona como um passo seguinte na jornada de investimento em startups. Enquanto isso o hub faz aportes menores, de no máximo R$ 2,5 milhões, o Vivo Ventures olha para estágios série A e B, com cheques até R$ 25 milhões.
Guilherme afirma que a Wayra segue em negociações com empresas e deve fazer pelo menos mais aportes em 2022. “Temos um time dedicado a olhar o ecossistema e temos interesse em trazer novas empresas para o portfólio, além dos reinvestimentos”, conclui.