A Woba (antiga BeerorCoffee), apresentou aos seus coworkings parceiros uma mudança significativa em sua política de pagamentos. Com efeito imediato a partir de novembro, a medida despertou reações adversas de proprietários de espaços listados na plataforma, e alguns ameaçam até deixar o marketplace caso os termos não sejam discutidos.
Com a mudança comunicada agora em outubro, os pagamentos aos coworkings passarão a ser efetuados no 5º dia útil do segundo mês subsequente à reserva, com prazos que podem variar de 35 a 60 dias para recebimento dos valores. No modelo anterior, os pagamentos eram feitos no 5º dia útil do mês seguinte ao da reserva.
Segundo a Woba, a alteração na política serve para a companhia se alinhar às práticas de clientes de grande porte, que tem fluxos de pagamentos que podem variar entre 90 e 120 dias. Entre seus clientes estão Itaú, XP Investimentos, Banco Inter, Creditas, iFood, Rappi, Sodexo, MRV e Mapfre.
Como assim?
A mudança não foi bem recebida por proprietários de coworkings de médio e pequeno porte. “Alguns espaços menores têm 20% das suas reservas vindas da plataforma, e essa mudança afetou diretamente o fim de ano. Receber em 30 dias é algo sui generis. 60 dias o coworking quebra. Eles podem não conseguir pagar o 13º de seus funcionários”, pontua Matias Vazquez, cofundador da Colatam, entidade que reúne coworkings em toda a América Latina.
Segundo ele, a Colatam e a Associação Nacional de Coworkings e Escritórios Virtuais (Ancev) estão liderando um grupo de mais de 200 coworkings conectados à Woba para pedir uma revisão na nova regra. Segundo pontua o grupo, não houve opt-in, nem tempo hábil para ajuste ao novo modelo de pagamento, e a Woba se fechou para conversas.
A estimativa é que o número de coworkings que aderiu ao movimento contrário às mudanças na Woba represente cerca de metade da base disponível na plataforma, um total de 300 mil a 400 mil metros quadrados em área. “80% deste grupo já está no ‘vai ou racha’. Se não voltar para o máximo de 30 dias, vão sair da plataforma”, disparou uma fonte ligada ao grupo insatisfeito, que preferiu não se identificar.
Questionada sobre a quantidade de parceiros que teria ficado insatisfeita com a nova política de pagamentos, a Woba afirmou que ela representa uma parte pequena do total. A companhia, no entanto, não informa o número total de parceiros, apenas quantos espaços estão disponíveis na plataforma: cerca de 2,1 mil – o que inclui nomes que possuem mais de uma unidade e restaurantes que disponibilizam suas dependências como espaços de trabalho.
Os coworkings também reclamam que o diálogo está truncado. Os proprietários que entraram em contato para falar sobre as mudanças receberam uma mensagem padrão pedindo que procurassem seus gerentes de conta, com demora na resposta. “Hoje, nem leram. Ela sempre me respondia em menos de 10 minutos”, afirmou um proprietário de coworking em um grupo de WhatsApp que reúne diversos parceiros da Woba.
De acordo com Matias, desde que a comunicação foi feita na semana passada, os coworkings tentaram conversar com a Woba para rever a mudança, mas a plataforma não deu abertura, o que gerou a mobilização nos grupos e entidades. “Desde o começo todos, de maneira individual, tentamos conversar. Mas a resposta que tivemos foi a de que nada seria mudado”, comenta.
Resposta da Woba
Procurada pelo Startups, a Woba afirmou que as mudanças são uma volta ao fluxo de pagamentos que a companhia possuía antes da pandemia e que ela impacta o uso de mesas compartilhadas, salas de reunião e eventos. As salas privativas não serão afetadas. Abaixo a nota da companhia na íntegra.
“Somos a maior plataforma de espaços flexíveis da América Latina, com mais de 2,1 mil espaços no Brasil, e protagonista para promover o crescimento sustentável do mercado de coworkings em todo o país. As atuais mudanças dizem respeito à retomada do fluxo de pagamento padrão e pré-pandêmico: os repasses serão efetuados após 30 dias do fechamento do mês, no 5º dia útil. As alterações se referem ao serviço do uso de mesas compartilhadas, salas de reunião e eventos; não impactam salas privativas. Prezamos pela transparência de nossos acordos e das condições comerciais individuais estabelecidas com os nossos espaços. Estamos à disposição dos nossos parceiros, que até o momento tiveram dúvidas pontuais”.
Por sua vez, a Associação Nacional de Coworkings e Escritórios Virtuais (Ancev), também divulgou o seu posicionamento sobre o caso, em nota assinada pela presidente da entidade, Rute Pogan.
“Viemos através desta expor a posição da Ancev em decorrência do comunicado unilateral expedido pela plataforma Woba, em que adotará política de pagamento diversa.
De início, revelamos que apesar de inúmeras tentativas da Ancev em estabelecer diálogo com a equipe da referida plataforma, visando sempre a busca de soluções para a problemática em questão, infelizmente, até o momento, as mesmas foram infrutíferas. A Ancev está ciente que a Woba anunciou, lamentavelmente, sua decisão em tratar individualmente com cada um de seus parceiros, o que tem gerado preocupações e insegurança.
É importante ressaltar que nós, como Ancev, não temos o poder de exigir de nossos associados que façam qualquer ato, como por exemplo, rescindam seus contratos com a Woba. Além disso, entendemos que cada associado possui suas circunstâncias particulares e que esta decisão deve ser tomada individualmente.
Entretanto, é importante informar que grande parte dos associados já manifestaram sua intenção em operar com a Woba somente até o dia 01 de novembro de 2023, às 12h, caso a mesma não reconsidere o prazo de pagamento determinado. E, em conjunto com esses associados, persistimos na busca de contato com a Woba, para tentarmos solucionar esse empasse da melhor maneira.
De pronto, recomendamos que nossos associados façam uma análise cuidadosa e com prudência de como esta ação da Woba pode impactar em seu faturamento, para poder tomar alguma decisão.
Estamos certos de que, a despeito das dificuldades, devemos continuar a fortalecer nossa associação e buscar soluções que beneficiem a todos nós. A Ancev sempre está comprometida em apoiar e representar os interesses de seus membros. Agradecemos a compreensão de todos e reforçamos nossa disponibilidade para auxiliá-los no que for necessário.”
A concorrência agradece?
Apesar de ser uma das plataformas mais relevantes do segmento, com presença em toda a América Latina, a Woba não está sozinha. Ela concorre com nomes como a Pluria e até mesmo com a gigante WeWork, que recentemente anunciou a criação de seu marketplace de espaços de trabalho, o Station, expandindo sua atuação para além dos escritórios próprios. Isso significa que os coworkings teriam opções no mercado.
Entretanto, de acordo com Matias, a mudança sugerida pela Woba pode abrir precedente para os concorrentes, afetando o recebimento dos coworkings no geral. Como forma de protesto, os coworkings estão organizando, para 31 de outubro, um dia em que não aceitarão reservas pela plataforma. Segundo ele, é uma forma de mostrar o impacto da parcela de insatisfeito nos serviços da companhia.
Nascida em 2015 como BeerorCoffee, a Woba assumiu sua atual marca há um ano. Quando anunciou seu rebanding, a companhia também apresentou um reposicionamento estratégico: de uma plataforma que conecta profissionais e empresas, para um ecossistema de soluções de escritórios.
A companhia parece ter navegado bem o período de dificuldades enfrentado pelas startups desde o começo de 2022, não tendo feito nenhum movimento de demissão. A última captação de recrusos feita pela companhia aconteceu em 2021, com uma série A de R$ 56 milhões liderada pela Kaszek e pelo Valor Capital.
Recentemente, a empresa trouxe o ex-Gympass (e já membro do conselho) Marco Crespo para a função de COO.