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World, de verificação de identidade, alcança 14M de humanos

Dois anos após o lançamento global, projeto da Tools for Humanity ainda enfrenta desafio de superar desconfiança

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Astrid Vasconcellos, diretora de Comunicação da Tools For Humanity na América Latina | Foto: Divulgação
Astrid Vasconcellos, diretora de Comunicação da Tools For Humanity na América Latina | Foto: Divulgação

A digitalização da economia e das interações sociais intensificou a necessidade de segurança no ambiente virtual – uma demanda que se tornou ainda mais crítica com a popularização da inteligência artificial. Foi nesse cenário que, há cerca de dois anos, Sam Altman e Alex Blania lançaram o projeto World, um protocolo de código aberto desenvolvido para oferecer uma prova de humanidade, com o objetivo de distinguir seres humanos de bots na internet.

O serviço, desenvolvido pela startup Tools for Humanity, chegou ao Brasil no final do ano passado e acaba de atingir a marca de 14 milhões de humanos com suas identidades verificadas, nos 160 países em que está presente.

Apesar do crescimento, a iniciativa ainda enfrenta um desafio: o da confiança. A verificação de identidade é feita por meio do Orb, um dispositivo que captura uma imagem de alta resolução do rosto e, em especial, da íris do indivíduo. Em tempos de recorrentes vazamentos de dados em larga escala, a ideia de ter informações biométricas tão sensíveis armazenadas por uma empresa privada desperta desconfiança em parte da população, o que tem dificultado a ampla adoção do serviço.

No entanto, a Tools for Humanity garante que não há risco de danos à privacidade dos indivíduos. A imagem capturada pelo Orb é imediatamente convertida por algoritmos em uma representação numérica da textura única da íris do usuário, chamada de código íris. As imagens são, então, criptografadas de ponta a ponta e enviadas para o telefone da pessoa. Depois, são deletadas do Orb.

A credencial, chamada de World ID, é armazenada no telefone do usuário. Já a verificação é feita por meio de provas criptográficas, validadas via blockchain.

“Existe um ponto do protocolo pouco entendido: em nenhum momento se armazenam os dados das pessoas. As imagens são processadas em código numérico, binário, e a foto original é encriptada e deletada da Orb. Em nenhum momento pede-se o nome, e-mail e outras informações da pessoa. O projeto só tem como dar certo se a gente assegurar a privacidade das pessoas, esse é um dos principais pilares”, explica Astrid Vasconcellos, diretora de Comunicação da Tools For Humanity na América Latina.

Segundo a executiva, o protocolo vem para dar mais transparência e segurança ao ambiente virtual, evitando golpes e fraudes, como a que ocorreu recentemente com o sistema do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Neste ano, foram divulgados casos em que golpistas tiraram fotos sem autorização de beneficiários da autarquia para realizar empréstimos consignados, por exemplo, que exigem biometria. A existência de um protocolo global de registro biométrico autenticado evitaria que esse tipo de fraude acontecesse.

Outro caso de uso é em aplicativos de relacionamento. A World está firmando uma parceria com o Match Group, conglomerado de aplicativos de namoro, para verificar a identidade dos usuários do Tinder no Japão. Recentemente, a World também anunciou uma parceria com a Razer, de games, para que jogadores online possam saber se estão jogando contra robôs ou humanos.

“A ideia não é que projeto seja centralizado em uma única empresa, mas funcione de forma parecida com a internet, que é um protocolo. O World visa ser essa nova infraestrutura que garanta a confiabilidade e segurança das interações digitais”, aponta Astrid.

Para ela, a importância desse tipo de protocolo fica ainda mais clara quando se pensa em todas as possibilidades trazidas pela inteligência artificial. Por exemplo, com a sofisticação dos agentes de IA.

“Esses robôs vão poder reservar passagens aéreas e hotéis, por exemplo, em nome de uma pessoa real. Isso vai ser muito produtivo, mas como você faz com que haja confiança? Com o World ID você atesta que o agente pode fazer isso em seu nome”, afirma.

Para aumentar o alcance do World, a Tools For Humanity tem apostado na Orb Mini, uma versão portátil da Orb, que facilita o acesso às câmeras para fazer a captura da íris, ampliando em dez vezes a escala da tecnologia.

“Existe hoje um desafio de mercado. Uma empresa só vai querer fazer a integração uma vez que haja escala. E só teremos escala se houver mais empresas fazendo a integração. Hoje são 14 milhões de pessoas verificadas globalmente. No Brasil são 500 mil. Mas é um país de 200 milhões de pessoas. Precisamos ter um número considerável para fazer sentido a integração”, diz.

Para atrair mais usuários, o World tem oferecido tokens para quem tem sua identidade verificada no sistema. Esses tokens, que não são criptomoedas, mas sim “tokens de utilidade” podem ser usados no ecossistema de Mini Apps do World. Recentemente, o World também firmou uma parceria com a Visa, para criação do World Card.

O cartão será conectado diretamente à carteira World App de cada usuário, permitindo que eles utilizem seus ativos digitais em qualquer lugar que aceite Visa, tanto online quanto em lojas físicas ao redor do mundo. Não será necessário converter ou transferir os tokens, a expectativa é que o cartão torne possível utilizá-los diretamente, com uma experiência fluida de cripto para moeda tradicional.