Essa história poderia muito bem começar com um “nascida há 4 meses, a ZAK acaba de levantar uma rodada de dezenas de milhões de reais”. Mas isso não contaria tudo já que a epopeia da companhia começa em 2018 com o nascimento de outra empresa, a Mimic.
Mas para adiantar as coisas e seguir a regra do bom jornalismo – respondendo às perguntas de quem, o que, quando, onde, como e por que logo de cara – é isso. A ZAK acaba de levantar uma rodada de R$ 80 milhões (US$ 15 milhões). O aporte, que está sendo chamado de uma série A porque se segue a uma captação de US$ 9 milhões que a Mimic tinha feito no fim de 2019, é liderado pela Tiger Global (que já investiu na Toast, uma das inspirações da ZAK) e contou com a participação de Valor Capital, Monashees, Base 10 e Canary, que já eram investidores.
A proposta é oferecer tudo que um restaurante precisa para funcionar, desde a frente de caixa (o famoso PDV) com meio de pagamento integrado até o aplicativo próprio. “Queremos construir o sistema operacional do restaurante. Ser a fonte da verdade de tudo que acontece na operação”, diz David Grandes, cofundador, diretor de tecnologia e co-presidente da ZAK.
Agora sim, o contexto
Logo que começou a pandemia, Marina Lima, David e Andres Andrade perceberam que o modelo de operação da Mimic, startup criada para pegar o movimento de cozinhas como serviço, ou dark kitchens, tinha limitações.
Com o isolamento, o delivery, que para muitos restaurantes era uma atividade pouco estratégica, passou a ser a única atividade possível e não fazia sentido a proposta de ter um 3º administrando essa atividade. Ao mesmo tempo, a onda da digitalização bateu forte e trouxe uma demanda pelos sistemas de gestão que a Mimic tinha desenvolvido para si própria. Dar ferramentas para os restaurantes passou a fazer mais sentido do que operar as cozinhas.
Com essa proposta, eles decidiram dividir o negócio e criar uma empresa nova, a ZAK. Segundo Marina, diretora de receita da companhia, a operação original da Mimic está em fase final de venda. Jean Paul Maroun, que fundou a Mimic com David e Andres segue na operação.
Um quê de fintech
O modelo de negócios da ZAK é de software como serviço, mas com um forte componente de fintech. Ela não tem um valor fixo para uso de seus sistemas. A receita vem uso do seu meio de pagamento e a companhia, inclusive, já se tornou uma subadquirente. Além disso, ela já oferece antecipação de recebíveis e pretende usar a rodada para ampliar sua oferta de serviços financeiros. “Isso cria uma barreira de saída muito forte”, diz Marina.
A oferta de serviços financeiros está na rota de 10 entre 11 empresas de diferentes setores no momento, impulsionada pelas tecnologias de banco como serviço. O iFood quer se estabelecer como o banco do restaurante e até a Ambev tem seu próprio banco digital. Para Marina, a diferença da ZAK para seus competidores é que ela oferece de forma integrada tudo que os outros apresentam separadamente. “Trata-se de uma indústria esquecida. Os restaurantes precisam de ferramentas. Mas dinheiro não resolve tudo por si só. O buraco é mais fundo”, diz Andres.
Operação e expansão
A lista de clientes conta atualmente com 400 nomes e um volume total de vendas (GMV) da ordem de R$ 100 milhões. O foco está em marcas com 3 a 4 lojas e receita na casa de R$ 500 mil por unidade. A atuação está concentrada na cidade de São Paulo e o plano agora é expandir para mais cidades. Na lista para o curto prazo estão 5 capitais – dentre as quais estão Rio, Belo Horizonte e Brasília. O ciclo de vendas é, em média de 15 dias. O próximo passo, segundo Marina, é tornar a oferta acessível também para restaurantes de menor porte.
Enquanto cria as bases no Brasil a companhia já traça planos para ser a “Toast da América Latina”. Segundo David, o 1º passo nesse sentido deve acontecer em 2 ou 3 anos com um desembarque no México.
Atualmente com 170 pessoas, o objetivo é dobrar o número até o fim do ano que vem. A maior parte das contratações será na área de tecnologia, especialmente para construir um time de análise de dados. “Com uma equipe pequena construímos as formas de captar dados, mas não estamos preparados para prever eventos. Vamos construir isso nos próximos 12 meses”, diz. Segundo ele, a arquitetura orientada a eventos adotada pela companhia dá autonomia aos times e acelera o desenvolvimento de novas funcionalidades.