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Ah, trabalhar nas FAANG – Facebook (Meta), Amazon, Apple, Netflix e Google. Muitos profissionais de tecnologia sonham em fazer parte destas grandes companhias, conferindo prestígio ao seu currículo e carreira, e possivelmente ganhando bons salários e benefícios e uma experiência diferenciada para se destacar no mercado de trabalho. Contudo, as coisas não são bem assim nas Big Techs.

Pelo menos na avaliação de Dalton Caldwell e Michael Seibel, sócios da Y Combinator e nomes consagrados do mundo do empreendedorismo. Em uma conversa no canal do YouTube da aceleradora, eles destacaram algumas razões pelas quais potenciais fundadores interpretam de forma equivocada o valor que pode ser extraído de um emprego nestas grandes companhias.

“Vários [potenciais] founders com perfil técnico se sentem atraídos a trabalhar em uma FAANG, e várias pessoas querem trabalhar como funcionários, mas como bem sabemos, as trajetórias de um empregado e um potencial founder são bastante diferentes”, afirma Michael.

Para completar, os dois listaram alguns pontos-chave para ilustrar como trabalhar nas Big Techs pode nem ser tão iluminador assim – e pra quem quer abrir uma startup, o recado pode ser bem claro: talvez seja melhor largar seu emprego em uma FAANG.

1 – Expectativa x realidade

Seibel destaca que uma das expectativas mais comuns de profissionais interessados em trabalhar nas Big Techs tem a ver com experiência. Potenciais founders acreditam que as FAANG são o melhor lugar para adquirir skills ao lidar com grandes projetos tecnológicos, de alta complexidade, algo que pode ser importante no momento de ter o próprio negócio.

“Isso é apenas o que os recrutadores dizem para atrair pessoas”, dispara Caldwell, trazendo um pouco de realidade. “A maioria destes profissionais estão apenas trabalhando em algum ad server vagabundo, ou resolvendo algum problema de um pixel em uma página, ou trabalhando em algum projeto que em seguida será cancelado”, completa.

Apesar do sarcasmo, Caldwell admite que alguns poucos chegam a ter essa experiência técnica de alto nível dentro das Big Techs, mas é uma parcela pequena dentro do quadro gigantesco destas corporações.

2 – O que dá pra aproveitar?

Trabalhar em uma FAANG por um tempo pode conferir ao profissional habilidades que podem ser importantes na hora de montar sua startup, certo? Bem, para Dalton e Michael, as coisas não são tão simples assim.

“Em algumas situações, pessoas com pouca experiência podem aprender a trabalhar em grupo, conhecer melhor como uma grande organização funciona, entender a política envolvida nas relações de trabalho. Mas você ficaria surpreso com o quanto founders revelam que nada do que aprenderam em uma FAANG se traduziu de forma efetiva em suas startups”, afirma Caldwell.

A explicação disso está, em muitos casos, nas próprias ferramentas das empresas. Em corporações como Google ou Facebook, times trabalham dentro de sistemas e soluções proprietárias, ferramentas que podem não ser de muita utilidade para um founder que está começando seu negócio.

“Você aprende a fazer um monte de coisas, mas este monte de coisas envolve mexer nas ferramentas de uma FAANG, que você não vai usar mais quando abrir sua startup, aponta Caldwell.

Seibel também fala sobre como a burocracia dos processos nas Big Techs pode mais atrapalhar do que ajudar. Segundo o analista, para um projeto no Google chegar na fase beta, ele pode envolver um trabalho dez vezes maior do que o esforço de uma startup para criar seu MVP. “Vários founders que trabalharam em uma FAANG tiveram mais a desaprender do que aprender, quando passaram a trabalhar em uma startup”, completa.

3 – Um caminho para conseguir investimento?

Outro ponto levantado por Seibel tem a ver com o ponto de vista dos investidores. Segundo ele, VCs levam em consideração alguém que tem no seu currículo alguma passagem por uma FAANG. Para os analistas, essa ideia faz sentido em partes, mas pode também ser mal interpretada.

“As pessoas leem o TechCrunch e rapidamente pressupõem que investidores estão andando pelos corredores do Google apostando em todas as ideias dos funcionários por lá”, brinca Seibel.

Para Caldwell, muitas vezes os detalhes estão no que acontece fora da mídia – afinal de contas, ninguém lê notícias sobre os founders que foram rejeitados. “Parece que todo mundo está levantando dinheiro, todo engenheiro do Google está conseguindo, mas nunca ouvimos sobre aqueles que falham. Não caia nessa, não é assim tão simples”, afirma.

4 – Engenharia de retenção

Ok, então para seguir seu caminho de founder, o melhor é largar seu emprego numa FAANG. Mas estas companhias desenvolveram ao longo dos anos sistemas complexos e altamente gamificados de retenção de talentos, com o objetivo de manter seus profissionais por mais de uma década.

“Quando você entra em uma destas grandes empresas, você entra num fluxo de retenção que muitas vezes o seu próprio produto como um atrativo” aponta Seibel, explicando que uma das maneiras mais utilizadas para isso é através de bônus de pagamento e benefícios de participação no negócio.

“Mas é claro que esta participação é adquirida ao longo de quatro anos”, dispara Seibel. “Se você sair antes disso, você pode dar adeus a este dinheiro. E em seis meses você pode ganhar outro pacote de ações, mas que também leva quatro anos de aquisição”, completa.

Na visão de Caldwell, esta estratégia é um caminho complicado, que mexe com o medo das pessoas perderem seus benefícios. “Se você dá algo a alguém, mas com uma ameaça de possível perda, elas vão automaticamente valorizar isso e evitar perdê-la”, afirma, apontando inclusive que muitos profissionais ficam por anos e anos em função destas reservas de dinheiro, muitas vezes maior que qualquer outra de suas economias guardadas.

“‘É, eu odeio a minha vida, mas as coisas são assim'”, relata Caldwell, reproduzindo o comentário de alguns profissionais que optam por ficar em seus empregos em vez de buscar novos caminhos. “É triste ouvir certas pessoas explicando sua realidade profissional e justificando porque nunca conseguirão abrir uma startup”.

Quando é a hora de sair da Big Techs?

Para quem tem o desejo de trabalhar numa FAANG antes de ter sua startup, Seibel dá algumas dicas para fazer isso da melhor forma, adquirindo experiência sem cair nas “armadilhas” de retenção, ou sem permanecer em projetos que possam fazer o profissional odiar seu trabalho ou até mesmo o setor de tecnologia.

Ao analisar sobre qual seria o melhor momento de alguém deixar seu emprego em uma FAANG, Caldwell é direto. “Se você ou algum amigo chegar a um ponto em que está buscando justificativas para ficar, ou não sabe o por quê de ainda estar no emprego atual, talvez seja um sinal que é melhor não fazer mais isso”, afirma.

Antes de qualquer pedido de demissão, Seibel ressalta que o conselho se aplica a uma parcela pequena dos profissionais que estão nestas grandes corporações. Contudo, uma pesquisa lançada em 2020 pela AngelList mostra que menos de 50% dos funcionários das FAANG, em média, estão satisfeitos com seus empregos, enquanto que em startups esse percentual passa dos 60%.

“Mas se você conhece alguém que está infeliz com seu emprego numa FAANG, e quer fazer outra coisa, saiba que é possível fazer. Dá pra quebrar o feitiço”, finaliza Seibel.

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