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Empresária, empreendedora e investidora serial, Carol Paiffer é muito mais do que um dos “tubarões” do Shark Tank Brasil. Graduada em Administração de Empresas, ela atua no mercado financeiro desde 2005 e, 10 anos depois, cofundou a empresa de traders Atom S/A, onde atua como CEO e dedica-se a ajudar o maior número de pessoas a terem mais de uma fonte de renda, com disciplina para que seus resultados possam ser consistentes.

Carol é também uma das sócias do Instituto Êxito de Empreendedorismo, sendo a única mulher em meio a 33 homens. Com isso, ela fundou o Êxito Ladies, braço feminino do projeto, para incentivar outras mulheres a aprender sobre empreendedorismo e acelerar seus negócios.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Carol falou sobre as motivações para empreender no mercado financeiro, sua atuação no Shark Tank Brasil e a responsabilidade de ser uma figura pública no Brasil. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

O que a Carol criança pensava ser quando crescesse?

Quando era criança, pensava em trabalhar no mundo da moda. Inclusive, fiz faculdade de Administração para ter uma empresa no setor. Minha mãe já trabalhava na área quando nasci. Ela começou a fazer roupas para minha irmã, as amigas gostaram, compraram e ela montou uma loja de confecção. Gostei da ideia de criar uma empresa de moda, mas vi como era desafiador. Decidi, então, fazer Administração para depois ter a minha companhia. Na época, meu irmão cursava a mesma graduação e me apresentou ao mercado financeiro. Achei fantástico e acabei me apaixonando.

O que te motivou a fundar a Atom?

Empreender sempre esteve no meu radar, mesmo sem saber o que isso significava. Hoje se fala em empreendedorismo, mas antes se falava em ser empresário, montar um negócio e fundar uma empresa. A Atom foi acontecendo. Eu e meu irmão começamos a estagiar em um escritório em Campinas e apresentamos um projeto para o dono para montar um braço educacional. Ele falou “claro que não”, sugeriu que a gente estudasse e aprendesse mais antes disso, porque éramos muito novos, eu com 17 anos e meu irmão com 19.

Decidimos montar o nosso escritório em Sorocaba. No início, atuando como agente autônomo, e depois como gestora. Aí veio a ideia de criar uma mesa de traders, que é o modelo da Atom hoje. Empreender foi uma consequência da oportunidade, de alguns “nãos” que recebemos, de não conseguir fazer o que queríamos no universo em que estávamos e, principalmente, de entender a necessidade do mercado ao longo da jornada, percebendo que havia um gap educacional.

Você atua no mercado financeiro há mais de 15 anos, quando a presença feminina no setor era ainda menor do que hoje. Como foi se arriscar na profissão em um momento em que pouquíssimas mulheres tinham essa oportunidade?

Quando comecei, cerca de 5% dos investidores eram mulheres. Mas esse é um dos mercados mais meritocráticos que conheço. Ou seja, não importa a sua religião, orientação sexual, idade, sobrenome – e o mercado respeita muito isso. Quanto mais você traz resultado, mais tem espaço no mercado.

Sofri pouco com preconceito nesse setor. A palavra já diz tudo: preconceito significa a pessoa te julgar antes de saber quem você é. Quando você abre a boca, tem a chance de mudar esse preconceito e criar espaço para um conteúdo ou conhecimento. Quando você mostra propriedade e resultado, o julgamento se rompe muito rapidamente no mercado financeiro, porque as pessoas estão preocupadas com resultado, com o que você vai gerar para os negócios.

É muito bacana estar em um mercado que valoriza de fato. Esse é um dos motivos de eu querer trazer cada vez mais mulheres. Hoje, 23% dos investidores são mulheres – o que mostra um avanço importante, mas ainda de forma muito modesta em relação ao potencial que existe para as mulheres nesse segmento.

Como foi receber o convite para o Shark Tank?

É uma grata surpresa. Há 10 anos, comecei a ser abordada por algumas pessoas falando que seria interessante eu entrar no programa. Na época, tinha 25 anos, era muito jovem e o Shark ainda nem tinha uma edição brasileira. Quando o reality chegou no Brasil, não fui convidada, porque no geral ele recebe jurados mais velhos e experientes. Isso começou a mudar recentemente, trazendo pessoas mais jovens e com outros perfis.

Até que conheci a Fabi Saad Niemeyer, do Mulheres Positivas, e ela também achava que eu deveria estar no Shark. Me indicou e o programa marcou uma reunião para me conhecer. Além de ter grana, a pessoa tem que estar a fim de fazer o negócio acontecer, empreender, passar por vários perrengues e ser sócio de um monte de gente. Recebi o convite no meio da pandemia.

Foi um grande desafio. Na bolsa, compro e vendo e não preciso falar com ninguém, me relacionar com ninguém. No Shark, preciso ser sócia de outras pessoas e de fato lidar com aquilo depois. 

Além de já ter participado de diversas maratonas pelo mundo, você ainda pratica hipismo, ciclismo e futsal. Qual a importância e o papel do esporte na sua vida?

Sempre gostei, sou apaixonada por esporte desde criança e sempre fiz muita coisa, incluindo ginástica olímpica, ballet e handball. O esporte traz qualidade de vida, o que é importante porque se você não cuidar da sua máquina, ela vai acabar te decepcionando no longo prazo. Descobri na corrida um esporte que eu amo, porque te permite praticar sozinha, em qualquer lugar e consegue ver o seu resultado imediato.

É diferente de um jogo, em que há muitas pessoas envolvidas e alguns podem jogar super bem, enquanto outros jogam mal e isso prejudica todo o time. Na corrida, sou eu comigo mesma. Sempre gostei de atividades que me permitissem ter um resultado imediato.

Entre as demandas do Shark, da Atom e de seus projetos pessoais, como você faz para conciliar as responsabilidades?

Tenho uma agenda que funciona. Se estamos conversando agora é porque todo mundo que trabalha comigo sabe que estou nessa reunião e ninguém vai me ligar ou interromper. Além disso, organizo em que momento vou falar sobre cada coisa. De segunda a sexta, sou da Atom em horário comercial, o time todo está aqui e exploro muito bem a equipe nesse horário. O sábado de manhã está reservado para as empresas do Shark. Faço mentorias com as investidas e trago também mentores convidados.

E tenho uma agenda pessoal. Se vou sair para jantar ou almoçar na casa dos meus pais, coloco na agenda. É assim que consigo ter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. É importante ressaltar que se você precisa separar muito essas áreas, é porque não está curtindo a sua vida profissional. Eu gosto muito do que eu faço, então dificilmente sinto como se estivesse trabalhando. Estou sempre me divertindo, faço boas relações e as pessoas que investi no Shark são amigos. Esse é um ponto fundamental.

Ser modelo e referência para tantas pessoas aumenta o peso da responsabilidade?

Tem uma frase que gosto muito no livro “O Pequeno Príncipe”: “Tu te tornas eternamente responsável por tudo o que tu cativas”. Quando você tem uma vida pública, aumenta a responsabilidade porque cativa as pessoas. E há uma responsabilidade em cima da influência que você tem. Quanto mais pessoas te seguem, estão no seu time ou compram o seu projeto, mais responsabilidade você carrega.

Mas tem que tomar cuidado para analisar o quanto essa responsabilidade de fato é sua. Muitas vezes, as pessoas criam expectativas que você não criou. A mensagem tem que ser muito clara. Temos que tomar cuidado para não colocar uma placa nas costas sem precisar. É comum ver mulheres falando que elas precisam se provar, mas você não tem que nada. Só tem que ser feliz.

Tomo muito cuidado para não viver uma vida que as pessoas gostariam que eu vivesse, e sim a vida que eu quero viver. Mas também tomo cuidado com a minha fala e a minha mensagem, porque sei que isso pode impactar muita gente, positivamente ou negativamente. Se você chega no escritório, seu time está esperando o seu melhor e você chega desanimado todos os dias, dificilmente vai conseguir cultivar as pessoas ao seu redor e fazer com que elas se inspirem em você. É uma responsabilidade, e a consciência da responsabilidade.

Você pensa em empreender novamente no futuro?

Não parei de empreender. Ainda tenho muita coisa para fazer na Atom e no Shark. Empreendedorismo está enraizado na minha história. Com 8 anos, já tinha uma horta de alface e vendia para as pessoas ao redor, ainda na infância vendia geladinho. Não me imagino parando de empreender.

Hoje estou na presidência do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba, um projeto social. Sou sócia-fundadora do Instituto Êxito, voltado ao empreendedorismo. E estou empreendendo socialmente com a criação de um desenho animado para levar gratuitamente às escolas públicas. Não sei se vou parar de empreender por lucro, mas certamente não deixarei de empreender por propósito. Empreendedorismo não é montar CNPJ, é uma atitude, um estilo de vida, e dificilmente vou parar.

Raio X – Carol Paiffer

Um fim de semana ideal tem: minha família e as pessoas que amo

Um livro: “Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso”, de Carol Dweck, e “Mindset Milionário”, de José Roberto Marques 

Algo com que não vivo sem: paixão

Uma música favorita: “Viva La Vida”, do Coldplay, mas tocada pelo David Garrett no violino

Um prato preferido: Nhoque da Fortuna, que dia 29 é sagrado

Uma mania: Tenho muitas, mas acho que a principal é sempre fechar a porta

Sua melhor qualidade: Respeito

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