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A melhor qualidade de Dany Carvalho, segundo ela mesma, é se conectar com pessoas. Mas uma conexão que vai além do crachá, do cargo que elas exercem em determinada empresa ou situação. É conhecer de fato quem está por trás, seja em ambientes profissionais ou não. Não à toa, uma de suas atividades favoritas é visitar cafeterias, pedir uma xícara de café e sentar para conversar com alguém.

Natural de Itabirito (MG), hoje ela está à frente do Órbi Conecta, principal hub de inovação e empreendedorismo digital de Minas Gerais. Mas ao longo dos anos construiu uma trajetória que se mistura com a evolução do cenário digital no Brasil. Tudo começou em 2010, quando foi selecionada para trabalhar no Programa Mineiro de Empreendedorismo na Pós-Graduação, uma iniciativa do Inventta/Instituto Inovação em parceria com o Governo de Minas Gerais.

Em uma época que nem falava de startups, Dany tinha o papel de evangelizar o país sobre inovação e ajudar a construir as bases para o que o ecossistema viria a se tornar. “Me apaixonei pelo tema e pela oportunidade”, recorda. De lá, foi para a aceleradora Startup Farm e viveu de forma nômade em várias cidades do país como Campinas, Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro.

Fez parte do primeiro time do Cubo Itaú, trabalhou no Bridge Ecosystem e prestou serviços de consultoria para hubs de inovação, um deles o Órbi Conecta. Foi quando ao final de uma das entregas a então CEO, Anna Martins, a convidou para assumir a diretoria-executiva do hub. Depois de mais de uma década, voltou a viver em Minas Gerais. “Mexeu muito com o meu coração. Como sou daqui, é muito menos um trabalho e muito mais o retribuir para a comunidade. A Dany que fez toda essa jornada volta para o lugar que a gerou para gerar um impacto de verdade”, compartilha.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Dany falou sobre suas motivações, desafios e o ecossistema mineiro de tecnologia e inovação. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

Quais foram os maiores desafios enfrentados na sua trajetória?

São tantos. Como mulher, a gente tem que se provar muitas vezes mais, e como mulher negra, mais ainda. Mas aprendi que as pessoas não precisam gostar de nós se entregarmos resultados incríveis. Chega um ponto em que dependendo do resultado que você entrega, isso fala muito mais alto e forte do que todas as outras coisas.

Até 2016 havia poucas mulheres no mercado de empreendedorismo digital. Destaco a Ana Fontes (Rede Mulher Empreendedora), Maria Rita Spina Bueno (Anjos do Brasil), Camila Farani (G2 Capital e Mulheres Investidoras Anjo) e a Rosi Rodrigues (ex-Startup Farm e Associação Brasileira de Startups). A gente se sente sozinha na hora de conversar e ter alguém com quem trocar ideias. Algumas aceleradoras só tinham um banheiro feminino, porque a quantidade de mulheres era muito pequena.

Hoje é muito bacana ver tantas mulheres trabalhando neste mercado e empreendendo, embora o número de fundadoras ainda seja muito pequeno. Me incomoda muito o ecossistema ser tão masculino. Na cadeira em que estou, o que puder fazer intencionalmente para trazer mais mulheres para frequentar esse ambiente – como empreendedoras, falando de dinheiro, negócio, construindo a comunidade – vou fazer.

Fui a primeira pessoa da minha família a fazer um curso superior. Recentemente, meu pai me mandou uma foto de um jornalzinho da cidade de quando passei no vestibular. Virou notícia, porque de onde eu venho não era o que as pessoas esperavam de mim. A garota lá de traz que um dia só queria fazer uma faculdade na capital hoje está na cadeira de CEO.

Ser uma história de sucesso aumenta o peso da responsabilidade?

Não sei se eu diria que sou um caso de sucesso, mas quando recebi o convite para ser CEO do Órbi, fiquei meio sem reação. O que me passou pela cabeça é que talvez eu nunca tivesse tido o desejo de ser CEO, porque para mulheres como eu isso é muito distante, a gente nem chega a querer. Não tinha referências, até hoje são poucos CEOs negros no ecossistema.

Mais do que ser uma história de sucesso, quero fazer a diferença na vida de alguém. Quero inspirar meninas, mulheres, as pessoas da minha cidade que cresceram comigo para que elas também possam sonhar e batalhar para ter lugares como esse. Penso que essa é uma cadeira de realização, e busco formas de usar as minhas decisões, network, planejamento dos projetos para impactar positivamente o dia a dia de outras vidas. Não diria como responsabilidade, mas quero ser uma pessoa que ajuda e inspira outras a chegar até aqui. E quero que os outros me reconheçam pelo resultado do que eu faço e não simplesmente por quem eu sou.

Dany Carvalho, CEO do hub de inovação Órbi Conecta
Dany Carvalho, CEO do hub de inovação Órbi Conecta (Foto: Divulgação)

Quais são suas motivações pessoais e profissionais?

Quero muito que Minas Gerais seja visto e reconhecido como um epicentro de inovação, e o Órbi é uma ferramenta para fazer isso acontecer. Trabalhamos com grandes empresas, startups e a formação de uma nova geração de profissionais com habilidades digitais. Acredito que educação, tecnologia e empreendedorismo podem mudar a vida das pessoas para melhor.

O que me move é perceber como o surgimento de novas tecnologias facilita a vida e muda o comportamento das pessoas. Sinto um pouco do meu trabalho no dia a dia da sociedade. Uma startup que vinga abre caminho para que outras possam surgir e criar novas soluções. Acho isso fantástico, simplificar o dia a dia das pessoas. No final das contas, trabalho não só com empresas, mas com a forma como elas impactam o cotidiano das pessoas.

Além disso, tenho como valor fomentar o empreendedorismo feminino. Sou parceira da Rede Mulher Empreendedora e tenho feito vários trabalhos no programa Cresça com o Google, cujo tema principal é networking. Faço parte do Grupo Mulheres do Brasil, de Ana Luiza Trajano, como membro do comitê de igualdade racial e sou mentora em programas de aceleração de carreiras. São projetos que mexem muito comigo e com o legado que quero construir.

Como você enxerga o ecossistema de startups e de inovação em Minas Gerais, em termos de oportunidades e desafios?

Voltei para Minas Gerais depois de uns 13 anos. Se perguntar para uma pessoa quais startups mineiras ela conhece, provavelmente a resposta será Hotmart, Sympla, e Sambatech. Sinto que há um gap de 2014 para cá e que precisamos fomentar o surgimento de uma nova geração de startups.

Além disso, quando pensamos no conceito de empreendedorismo digital é importante considerar vários agentes: governo, aceleradoras, hubs de inovação, startups, grandes empresas, investidores e fundos. Mas aqui temos menos fundos de investimento, já que a maioria é de São Paulo. Há um gap para suprir em termos de investidores-anjo e fundos atuando mais próximos dos empreendedores.

Como potência, o Órbi busca dar condições para que surja uma nova geração de startups de Minas Gerais para todo o Brasil. No ano passado tínhamos cinco startups residentes, hoje estamos com 30. Nosso movimento está fomentando novos empreendedores, com a possibilidade das pessoas testarem, validarem e colocarem seus negócios na rua trazendo soluções para o dia a dia da sociedade.

O nosso foco é Minas Gerais e temos começado a trabalhar muito ao lado de outros players. Me considero uma networker, acredito que ninguém consegue trabalhar da melhor forma se estiver sozinho. Por isso, estamos o tempo todo chamando pessoas e iniciativas para trabalharmos juntos. A gente tem que ser intencional para ajudar o ecossistema, e há um envolvimento muito bacana dos diferentes players que compõem a comunidade do San Pedro Valley para alavancar Minas Gerais como a região merece.

E quando você não está trabalhando, o que gosta de fazer?

Estou curtindo muito estar próxima dos meus pais, porque antes fiquei muitos anos fora de Minas. Uma das coisas que mais gosto é ir para a casa deles, sempre levo uma cerveja porque meu pai gosta de bater-papo igual a mim. Ficamos na varanda bebendo cerveja e conversando. É simples, mas para mim é muito especial.

Adoro conversar, tenho uma mania de tomar café com pessoas diferentes em cafeterias distintas, visitar várias. E gosto muito de falar com as pessoas sem um crachá, ou seja, sem olhar só para a função que elas ocupam em determinada empresa. Estou aqui falando com você como repórter do Startups, mas curiosa para saber quem está aí além do crachá.

Há alguns anos, percebi que tinha acesso a pessoas com histórias e repertórios incríveis e queria transformar essas conversas nas cafeterias para alcançar mais gente. Criei o podcast #CaféComigo e estou preparando a próxima temporada. Quando temos coração aberto percebemos que todo mundo tem um ponto de conexão e isso é maravilhoso. Para cada pessoa com quem a gente se conecta, estamos abertos para um mundo novo. Além disso, tento ir à academia o maior número de vezes na semana possível. Quero ir todos os dias, geralmente de manhã. Faço musculação, mas prefiro as atividades mais coletivas.

Raio X – Dany Carvalho

Um fim de semana ideal tem: Cerveja com o meu pai

Um livro: “Em Busca de Mim”, da Viola Davis. Essa mulher é uma potência e grande inspiração. Hoje, se você me perguntar quem eu sou, vou dizer muito mais do que “CEO do Órbi”. A Dany Carvalho CEO é quem eu estou, porque isso é passageiro e não me faz. O livro faz essa diferença e mostra como é potente olhar para trás e ver nossos avanços.

Uma música favorita: Ouço Maria Bethânia todos os dias. E tenho uma mania sensorial para dias felizes: em muitos filmes estadunidenses quando alguém está feliz toca Aretha Franklin de trilha sonora. Então gosto de acordar e colocar Aretha Franklin simulando isso. 

Uma mania: Já morei em casas com muita gente. Quem convive comigo fala que tenho mania de arrumar o guarda-roupa.

Sua melhor qualidade: Conexão com pessoas. Chegou em um ponto que percebi que muitas pessoas me procuram para ensiná-las como conectá-las com outras. Tenho muita facilidade de nutrir pessoas ao longo do meu caminho.

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