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5 Minutos com: Igor Mascarenhas, CEO, Pier Seguradora

O empreendedor falou sobre sua trajetória, visão para a Pier e paternidade

Igor Mascarenhas, CEO da Pier
Foto: Divulgação/Arte por Startups.com.br

A semente para Igor Mascarenhas começar a empreender foi plantada na faculdade, quando ele se tornou presidente do Núcleo de Empresas Juniores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nascido em Feira de Santana, interior da Bahia, mudou-se para o Sudeste em 2007 para estudar Engenharia Mecânica, mas nem chegou a atuar na área: pegou o diploma e caiu direto no mundo da inovação.

Ao longo de sua carreira, Igor foi gerente de operações no Start-Up Brasil, um programa nacional de aceleração de startups, e head de investimentos da aceleradora Startup Farm. Em 2018, ele se juntou a Lucas Prado e Rafael Oliveira para fundar a Pier, insurtech brasileira que oferece seguros para veículos e celulares.

Uma das primeiras startups a se arriscar pelo mundo dos seguros no Brasil, a companhia levantou R$ 108 milhões em setembro de 2021, uma captação fechada menos de um ano depois da rodada anterior, de US$ 14,5 milhões. Há exatos 12 meses, a Pier ganhou uma autorização inédita da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para deixar o ambiente experimental e atuar com uma licença definitiva em todo o Brasil a partir de 2022.

Em um papo de peito aberto com o Startups, o empreendedor falou sobre sua trajetória, visão para a Pier e paternidade. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

De onde vem o seu lado empreendedor? O Igor criança já se imaginava criando negócios?

O Igor criança nem sabia o que era empreender. Acho que minha geração não foi educada e ensinada para isso. Sou do interior da Bahia, então estava ainda mais distante dessa realidade. Mas sempre quis impactar o mundo de diferentes formas de acordo com o que meu privilégio me ajudava a enxergar. Já quis ser cientista, pensei em fazer algo relacionado a diplomacia e relações públicas, e com o passar do tempo segui a linha da pesquisa. 

No início da faculdade, fui muito aberto à experimentação. Fiz Iniciação Científica, morei em uma república com pessoas de diferentes cidades e backgrounds, participei do Centro Acadêmico e da Atlética. Mas me encantei pelo movimento Empresa Júnior, foi ali que entendi como podia deixar um impacto no mundo. Fui CEO do Núcleo de Empresas Juniores da Unicamp, uma organização com 500 alunos e 22 empresas, e me senti muito conectado com o desafio de gerir pessoas e colocar um negócio de pé.

Em 2016 era head de investimentos da aceleradora Startup Farm e fizemos um mapeamento em conjunto com a Visa. Investimentos em praticamente todas as teses, menos seguros. Isso foi muito impactante, porque é um mercado grande no Brasil, com muitas pessoas insatisfeitas, cheio de oportunidades de inovação. Vi que era o momento de empreender e comecei a empresa com meus sócios.

Eu tinha zero conhecimento de seguros especificamente, por isso, desde o começo trouxemos para próximo investidores-anjo e colaboradores familiarizados com essa indústria. O que eu conhecia era a indústria de tecnologia. Ao longo da nossa trajetória, ficou cada vez mais forte o balanço entre as duas competências: é preciso ter gente especializada em seguros, mas também é fundamental trazer pessoas de tech, dados e produtos.

Por que você decidiu sair da Bahia e se mudar para o Sudeste do país?

Provavelmente teria estudado em Feira de Santana e feito a graduação por lá. Mas comecei a me destacar muito em olimpíadas de física e matemática, ganhar medalhas e fazer treinamentos em outras regiões. Foi quando conheci universidades potencialmente mais desenvolvidas do que as que teria acesso.

A Unicamp fazia vestibular em Salvador, então tive a oportunidade de me conectar com a organização. Conheci coisas que estavam totalmente distantes da minha realidade e abracei cada oportunidade que aparecia. Mas o contato veio principalmente por causa das olimpíadas. A primeira vez que viajei de avião foi na mudança para Campinas, para fazer a faculdade.

Costumo brincar que o empreendedor no Brasil só tem duas certezas: a morte e morar em São Paulo. Não que precise ficar por aqui o resto da sua vida, mas em algum momento você terá que passar uma temporada na cidade, porque ainda é uma região que concentra muitos talentos e capital, e é mais fácil fazer benchmarking. Sou muito grato pela cidade, apaixonado por São Paulo. A chance de sucesso aumenta muito pela geografia em que você está, e no Brasil essa geografia é São Paulo.

Como tem sido conciliar as responsabilidades profissionais com o fato de você ser pai de primeira viagem e ter uma filha pequena?

Minha filha nasceu há 10 meses e minha família ocupa 100% do meu tempo quando não estou trabalhando. É meio estranho chamar de hobby, mas cuidar dela é o que me deixa muito feliz e animado. Acho que se as pessoas tiverem um pouco de abertura no olhar sobre a infância, podem aprender muito. Muitos adultos têm comportamentos parecidos com os de bebês. Tenho lido muito sobre educação infantil e primeira infância. Também gosto muito de terapia. O autoconhecimento é super importante para enfrentar desafios e vejo isso muito claro no bebê. Tudo é novo e ingênuo.

Outro dia, estávamos no shopping e minha filha começou a acenar para alguém que trabalhava na organização ou limpeza. Enquanto tinha uma fila enorme para tirar foto com a Mamãe Noel, minha filha estava dando atenção para essa outra pessoa, que muitas vezes passa despercebida. Tem uma coisa muito legal nesse olhar 100% ingênuo e não preconceituoso, e quem estiver aberto para isso pode aprender muito com a criança.

É difícil, não sei se consigo conciliar. Eu dou o meu máximo no tempo que tenho disponível. Me preocupo muito com a hora do banho da minha filha, é um momento especial, quase um ritual. Basicamente, antes e depois do trabalho, estou com ela. Tenho muita ajuda, uma rede de apoio profissional e familiar que faz com que tudo seja um trabalho em equipe.  Acordo muito cedo, fazia academia às 6h, mas agora acordo e fico com a família.

Recentemente, a Pier foi reconhecida pela Endeavor como uma empresa que tem feito um trabalho forte a favor da diversidade. Que ações têm sido feitas nesse sentido?

A Pier foi criada por três homens brancos, cis e hétero, que fizeram Engenharia na Unicamp e têm a mesma faixa etária. Não acredito que, dada a nossa origem, teríamos um time diverso sem intencionalidade. Primeiro, precisa medir as coisas para saber como está a realidade e ter ações afirmativas. Hoje temos um comitê que trata todos os temas e tem um orçamento definido, e pensamos estratégias para cada momento da empresa.

Hoje temos 50% da liderança C-Level feminina e 35% dos colaboradores se autodeclaram não-brancos – o que considero um marco muito forte na indústria de tecnologia no Brasil. Além disso, 25% das pessoas são LGBTQIA+ e temos diversidade de faixa etária e países. Isso é intencional e temos colhido resultados signicativos.

Sempre tivemos um olhar para a diversidade, porque ela gera melhor entendimento do produto, reduz vieses e coloca mais pessoas sob diferentes perspectivas. Acho que as pessoas se sentem melhor na companhia quando elas podem ser quem querem ser. De maneira geral, o produto fica melhor e o ambiente também.

Como você enxerga seu futuro profissional? Pensa em empreender novamente?

Tem uma frase que repito muito: “não deixe que minha ambição mate minha gratidão – nem o contrário”. Sou muito grato pelas coisas que a Pier já construiu. Vamos faturar mais de R$ 100 milhões este ano, temos mais de 120 mil clientes e somos quase 300 colaboradores. A gente tem conseguido criar mercado com uma marca forte, clientes satisfeitos e diferencial. 

Ao mesmo tempo, acho que estamos só começando e existe uma oportunidade enorme de mudar a realidade do país. Ainda existem muitas pessoas que poderíamos proteger que ainda não conseguimos, seja pelo produto ou momento da empresa. Olho para frente e quero continuar fazendo o que faço por muitos anos para mudar esse mercado. Meu foco absoluto hoje é ser grato pelo que fizemos e continuar ambicioso como se fosse o primeiro ano de operação, porque tem muita coisa pela frente.

O mercado de seguros é sub-penetrado no Brasil. Pouco mais de 7% do PIB vem desse setor. A maioria das pessoas não contrata seguros, cerca de 60% dos veículos e 70% das residências não têm. Mas esse é um produto financeiro que ajuda as pessoas quando elas mais precisam. O próximo passo é continuar crescendo e levando nosso serviço para mais pessoas.

Igor Mascarenhas, CEO da Pier
Igor Mascarenhas, CEO da Pier (Foto: Andre Porto/Divulgação)

Raio X – Igor Mascarenhas

Um fim de semana ideal tem: Minha família, esposa e tempo disponível

Um livro: “Princípios”, de Ray Dalio

Uma música favorita: Não sou muito musical. Mas no ritual do banho da minha filha sempre escutamos “Trem-Bala”, de Ana Vilela

Um prato preferido: Frango e comida japonesa

Uma mania: Sempre paro antes de responder. A pessoa pergunta alguma coisa e demoro alguns segundos para pensar, e às vezes fica um silêncio estranho. Não tinha percebido antes, mas ficou mais evidente quando fundei a Pier

Como gosto de relaxar: Gosto de sol e céu azul

Sua melhor qualidade: Sempre falei resiliência, mas também antifragilidade. Ao invés de suportar as adversidades, cresço com elas.