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5 Minutos com: Jordana Souza, cofundadora e CRO, VOLL

Em um papo de peito aberto com o Startups, Jordana falou sobre sua trajetória, maternidade e desafios profissionais

Jordana Souza, CRO VOLL
Foto: Henrique Coelho/Divulgação/Startups

São muitos os adjetivos para descrever Jordana Souza. Empreendedora, executiva, mãe, catarinense, apaixonada por ciclismo… e a lista continua. Aos 33 anos, ela lidera a área comercial da VOLL, traveltech de gestão de viagens e mobilidade corporativa que cofundou em 2017 após uma temporada de 2 anos como head of growth no Cabify.

Nascida em Criciúma, Santa Catarina, Jordana saiu de casa aos 16 anos para estudar no Rio de Janeiro e se tornou a primeira pessoa da família a ter um título de graduação. Com a VOLL, ela atende clientes como Itaú, McDonald’s, PepsiCo, Estácio, Vivo/Telefônica e Cargill. A companhia faturou R$ 200 milhões em 2021 e atua em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.

Em um papo de peito aberto com o Startups, Jordana falou sobre sua trajetória, maternidade, desafios profissionais e como aproveita seu tempo livre. Veja, a seguir, os melhores momentos da conversa.

De que forma as experiências e aprendizados no Cabify te ajudam a tocar a VOLL atualmente?

Entrei na Cabify em 2016 quando a empresa chegou no Brasil com o intuito de promover uma experiência diferente da Uber, que já tinha uma grande notoriedade no país e já tinha mudado muito o conceito de mobilidade urbana, mas para a frente corporativa. O objetivo era expandir e criar os negócios corporativos da Cabify. Entrei no time de Belo Horizonte e para abrir a praça de Brasília e foi na Cabify que tive a primeira experiência em startup.

Em startup, cada dia que passa te dá a experiência de 1 ano em uma empresa tradicional. Com o pouco que você tem, precisa entregar muita coisa e ser multitarefas. A apesar de termos recebido uma grana grande dos fundos, não tínhamos os processos formados, pessoas para um time grande ou estratégias definidas. A Cabify já era bem consolidada na Espanha, mas ainda não era nada no Brasil.

Toda essa bagagem e know-how eu trouxe para a VOLL. Foi, inclusive, pela Cabify que conheci os meus sócios. Na época, eles tinham um outro negócio e eu apresentei o projeto da Cabify para a empresa deles. Depois, saí da Cabify para poder empreender. Começamos com 4 pessoas, fazendo tudo. Atender telefone, servir café, negociar contrato. A VOLL é um projeto muito sonhado, com cada um de nós se complementando em habilidades. Muito da resiliência, pulso e visão de negócio que eu aprendi na Cabify foi o que fez a gente estruturar na VOLL.

Você rejeitou uma proposta do Cabify para um cargo internacional para apostar na VOLL. O que te motivou a recusar essa oferta e a fundar a sua empresa?

Na época que eu recebi essa proposta, já tinha o projeto da VOLL com os sócios, mas não tinha tomado a decisão de empreender. Até por ser mãe solo de 2 filhos, estava analisando qual era a decisão mais confortável para o momento. O que me fez recusar a proposta e foi acreditar no que a VOLL tinha de potencial, acreditar na proposta e propósito que tínhamos desenhado. Foi isso que me motivou a embarcar nesse projeto. Ainda há muitos desafios, mas cada dia mais consolida a nossa proposta de valor que começamos lá atrás e a essência que não podemos perder. A essência do que é a Jordana de 2017 e a visão de negócio e de crescimento que a gente vem fazendo todos os dias.

Modéstia à parte, eu sempre trabalhei muito bem para todo mundo, me dediquei muito. Se estava trabalhando dessa forma para os outros, por que não colocar essa energia em algo que eu agregasse ainda mais valor na vida das pessoas? Levanto uma bandeira feminina muito forte, até pelas dificuldades que vivi vindo de uma família muito simples e sendo a primeira da família a fazer faculdade. Sempre tive um propósito muito grande de impactar a vida de mais pessoas através do que eu gosto de fazer. Gosto de vender, tenho um lado comercial muito grande.

Você saiu de casa cedo, aos 16 anos. Por que decidiu mudar de cidade e como foi tomar essa decisão?

Meus pais são empreendedores também, minha mãe desde cedo vende alguma coisa, hoje eles têm um supermercado. Naquela época nem eram considerado empreendedores, eram “faz-tudo”. A família da minha mãe tem um lado muito forte de empreendedorismo feminino. Eu sempre me via morando um lugar muito pequeno. Mas as coisas que eu queria fazer me levaram para outras regiões. Primeiro, queria cursar Engenharia Civil, mas não tinha uma faculdade lá perto – o mais próximo seria Florianópolis. E queria muito falar inglês, então fiz um curso fora do país, já tinha uma tinha que morava lá, o que me ajudou a me receberem.

Foi uma decisão relativamente fácil de tomar, porque eu não tinha nada que me impedisse, tinha 16 anos, sem muito medo na vida. Para os meus pais foi mais difícil, mas acho que ficou mais tranquilo para a minha mãe também, porque dava menos trabalho. Passei no vestibular no Rio de Janeiro para Engenharia Civil e fiz faculdade por lá.

Ao longo da sua trajetória você teve que conciliar a sua vida profissional com a maternidade. Como foi viver esse momento?

Acabei engravidando muito cedo, mas nunca deixei que as situações em que eu estava limitassem a minha capacidade e vontade de fazer as coisas. Muita gente falava que minha vida iria acabar, mas sempre soube que não. Sabia muito bem onde eu queria chegar e o que queria fazer. Claro que eu poderia ter feito tudo mais rápido, mas não iria abrir mão dos meus filhos.

A rede de apoio é o principal para conseguir crescer. Minha filha mais velha, a Maria, conheceu todos os meus professores da faculdade e meus colegas de turma, porque ela ia junto comigo quando eu tinha prova. Minha família toda mora em Santa Catarina, mas a outra avó dos meus filhos morava no Rio de Janeiro e sempre me ajudou muito. Ela ficava com a Maria para eu trabalhar, ir para a faculdade e fazer estágio. Quando não podia, a Maria ia comigo.

Não é fácil, não dá para romantizar. Como mulher é muito mais difícil. Eu tinha 19 anos quando tive a Maria. Com 21 estava na metade da faculdade, trabalhava o dia inteiro. Para o homem muda pouco e a mulher tem que segurar tudo. Hoje, olhando para trás, acho muito legal que ela tenha passado tudo isso comigo. Agora ela vai fazer 15 anos e temos uma história de cumplicidade muito forte, porque ela sempre viveu tudo comigo.

O que você faz no seu tempo livre?

Eu pedalo, gosto muito de fazer mountain bike. Recentemente até competi em Tiradentes (MG). No tempo livre, geralmente estou fazendo algo com os meus filhos. Quando eles estão com o pai parece que falta um pedaço de mim. Gosto muito de esportes, faço atividade física odos os dias e muitas pessoas me chamam de doida, porque vou malhar às 23h. Mas é a hora que eu consigo. Chego em casa, tomo banho e durmo. Tenho uma pessoa que me ajuda em casa e com os meus filhos. O pai deles também ajuda muito. Ele mora no Rio de Janeiro, mas vem para São Paulo todos os finais de semana, religiosamente, para passar um tempo de qualidade com as crianças.

A tecnologia e o ciclismo são duas áreas bastante masculinas. Quais desafios você enfrenta como mulher nesses espaços?

Recentemente uma pessoa me perguntou se eu gostava de estar no meio de ambientes masculinos por estar competindo com homens. E eu respondi que não. Não estou competindo com homens, mas quero mostrar que nós mulheres também somos capazes de fazer o que historicamente só homem fez. Hoje vemos várias mulheres no ciclismo. No mountain bike, é mostrar que a gente também pode.

Para que através disso outras mulheres se inspirem. Vejam que elas podem ser mães, podem pedalar, estar no meio da tecnologia e da mobilidade. No Brasil não há um olhar feminino para a mobilidade. Não é fácil, ainda escuto muito esse tipo de pergunta e ainda recebo olhares de julgamento. Mas aos poucos temos conseguindo provar que a gente é capaz. Na VOLL, mais de 60% do time é formado por mulheres em cargos de liderança. Entre os sócios, sou a única mulher e nunca fui desrespeitada ou diminuída por isso. Me sinto muito privilegiada pelo ambiente que estou, mas quando a gente sai do espaço VOLL, percebo que não é tão simples assim.

Como CRO, também são pouquíssimas mulheres no ecossistema. É um desafio duro, solitário na maioria das vezes. Mas encontro pessoas incríveis que me dão o empurrãozinho que posso precisar às vezes.

Raio X – Jordana Souza

Um fim de semana ideal tem: Meus filhos

Um livro: “O momento de voar”, de Melinda Gates. Tinha muita expectativa para ler e superou tudo. Ela tem um olhar social muito grande. O que tiro da leitura é que olhando para a pobreza, o anticoncepcional pode mudar a vida das pessoas e transformar a realidade de pobreza dos países, mas muitos não têm acesso. A autora debate muito sobre isso e sobre o empoderamento feminino através do anticoncepcional

Algo com que não vivo sem: Vou repetir a resposta, mas são meus filhos, Maria e Gabriel

Uma música favorita: Tenho fases de músicas. Meu filho vai fazer uma apresentação e ultimamente só estamos escutando “La vie en rose”, na versão da Zaz, que ele vai cantar. Não falo francês, então estamos tentando pronunciar a letra

Um prato preferido: Churrasco

Uma mania: Atividade física. Literalmente muda o meu humor

Sua melhor qualidade: Sou uma boa ouvinte, gosto de escutar histórias. Histórias motivam e inspiram