A Ant Financial, fintech do grupo Alibaba – que a essa altura deveria ter entrado para a história como o maior IPO do mundo, mas acabou abortando o plano – fechou um acordo com os acionistas da Dotz para comprar uma participação de até 15% na companhia.
A operação será dividida em um investimento inicial de integração de 5% do capital e uma opção de compra de até 10% adicionais em um prazo de até 24 meses depois do IPO da companhia brasileira. O acordo entre as companhias foi firmado no dia 18 e apresentado em uma nova versão do prospecto preliminar da oferta, que a companhia subiu na CVM ontem.
A Dotz entrou com pedido de IPO no fim de fevereiro e espera captar R$ 815 milhões. A faixa indicativa das ações está entre R$ 16,20 a R$ 21,40.
O aporte na Dotz pode servir com uma âncora para a realização da oferta em um momento de menos otimismo com os IPOs na B3 por conta das incertezas na política e seus reflexos na economia.
Namoro antigo
O Startups apurou que as conversas entre as duas companhias começaram em 2017 quando a Dotz participou de uma missão para a China. Nas tratativas, os chineses disseram que se a Dotz atingisse determinados indicadores, eles considerariam um investimento.
A Dotz começou como um programa de fidelidade e vem ampliando sua atuação para se tornar um provedor de serviços financeiros mais amplo – sim, o tal do superapp, mas me recuso a escrever isso. O posicionamento – que também é a estratégia da Méliuz e de praticamente todo varejista e até empresas de software – casa com a proposta da Ant Financial, por isso o aporte faz sentido.
Tanto que pelo acordo firmado entre as partes, aliás, está previsto não só o aporte financeiro, mas também esforços comerciais conjuntos e uma participação de executivos da Ant Financial no conselho da da Dotz. Além de indicar um membro do Conselho, a fintech terá a co-presidência do Comitê de Estratégia (que será criado após o IPO) e poderá sugerir nomes para qualquer outro comitê.
No lado comercial, ela “se comprometeu a usar melhores esforços comerciais para cooperar com a Companhia em relação a
(i) compartilhamento de know-how, experiência e melhores práticas em relação a seus negócios de serviços financeiros para o desenvolvimento e evolução das capacidades de serviços financeiros da Companhia;
(ii) mediante solicitação, explorar cooperação em oportunidades comerciais, com a facilitação de discussões para a cooperação entre a Companhia e determinadas afiliadas do Antfin; e
(iii) identificação de novas estratégias e oportunidades para aumento da penetração de serviços financeiros digitais no mercado brasileiro, bem como maneiras de se obter benefícios adicionais das plataformas de serviços financeiros da Companhia”.
A Ant Financial já tinha feito um investimento no IPO da Stone na Nasdaq, mas o acordo não previa nenhuma colaboração ou participação de executivos na companhia de pagamentos brasileira.
A Tencent também já tinha feito uma incursão no mercado de serviços financeiros brasileiro comprando uma fatia secundária no Nubank em 2019.
Jornalista com mais de 15 anos de experiência acompanhando os mundos da tecnologia e da inovação, com passagens pelo DCI, Sebrae-SP, IT Mídia e Valor Econômico. Fundador e Editor-Chefe do Startups.com.br.