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Quando o assunto é o conjunto de entraves enfrentados por empresas operando na economia digital, não é preciso pensar muito para lembrar de atração de talentos de tecnologia. Fundada por duas brasileiras, a Anywhere, startup baseada no Vale do Silício, se posiciona como aliada de organizações globais em busca por profissionais qualificados.

A alta demanda por profissionais de tecnologia é real no mundo todo, assim como a dificuldade em encontrar estas pessoas. Só no Brasil, há uma demanda média anual de 159 mil profissionais e apenas 53 mil pessoas formadas na área por ano, segundo dados da Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais). E a falha em preencher essa lacuna de talentos pode resultar em US$ 8,5 trilhões em receitas anuais perdidas, segundo o relatório Future of Work: The Global Talent Crunch, da consultoria Korn Ferry.

A Anywhere nasceu para ajudar empresas que se viram forçadas a recrutar pessoas especialistas em tecnologia de uma forma totalmente digital e global, a enfrentar os desafios que tem surgido nessa área desde o surgimento da pandemia. A startup, que se autodenomina uma TAtech (empresa de tecnologia focada em talent acquisition, ou atração de talentos), propõe não só apoiar o processo de recrutamento, mas também ajudar seus clientes a melhorarem suas práticas nessa frente.

“Está muito complexo contratar profissionais de tecnologia. Quando abrirmos conexões com outros países para aumentar o talent pool [contingente de profissionais que podem ser contratados], é possível reduzir o tempo de fechamento de vagas e alocar o tempo dos times para tarefas mais estratégicas”, diz a co-fundadora da Anywhere, Nathalya Nascimento, em entrevista ao Startups.

“Nosso objetivo é trazer soluções inovadoras e humanizadas para empresas que querem se empoderar e se desenvolver em relação a recrutamento. Conseguimos impactar vários indicadores, e trazer mais diversidade para estes negócios com processos mais inclusivos,” acrescenta a empreendedora.

Nathalya Nascimento e Aline Gonçalves, co-fundadoras da Anywhere.Foto: Divulgação/Startups

Faturando na crise

As operações da Anyhwere começaram no início de dezembro de 2021 e, desde então, a startup conseguiu atrair uma carteira de mais de uma dezena de clientes. O rol de empresas atendidas inclui a Neon, Sympla, Cora e empresas ditas tradicionais que recrutam profissionais de tecnologia intensivamente, como o Grupo Boticário. Além de apoiar companhias brasileiras atraindo talentos globais, a startup também atende companhias norte-americanas em busca de brasileiros em busca de trabalho remoto e diz ter trabalhado com mais de mil candidatos desde sua fundação.

Com mais de uma década de experiência como recrutadora desde o nível de estágio até o C-level, Nathalya tem em seu CV passagens por empresas como iFood, Nubank e a Movile, para quem trabalhava nos Estados Unidos antes de decidir empreender. Aline Gonçalves, que atuou como gerente de contas no segmento premium de bancos como Itaú Unibanco e Bradesco, é a outra co-fundadora e responsável pela área comercial da startup. Ambas são baseadas na região de San Francisco, nos Estados Unidos.

Por falar em comercial, a Anywhere tem tido resultados animadores nessa frente. Segundo Nathalya, além do próprio tempo e expertise, as fundadoras não investiram um centavo do próprio bolso para começar o negócio. No entanto, a empresa gerou um faturamento de R$ 1 milhão em cinco meses de operação. A previsão é triplicar a receita ainda em 2022 e dobrar a base de clientes.

A oferta da startup inclui desde soluções personalizadas para otimizar a experiência de pessoas candidatas, treinamento e apoio na implementação dos principais sistemas de recrutamento (conhecidos no meio como applicant tracking systems, ou ATSs), até um modelo ágil de recrutamento com foco específico em diversidade e estratégias de employer branding. A startup trabalha com uma rede de 10 “talent advisors”, profissionais de recrutamento que atuam em projetos de clientes.

E como ficou o modelo de negócio da startup depois do início da onda de demissões em massa que anda assolando o ecossistema mundial? Segundo Nathalya, os últimos acontecimentos no ambiente de startups – que no começo do ano eram o principal público-alvo da empresa – forçaram uma revisão na abordagem e foco.

“Quando percebemos esses movimentos acontecendo, nos conectamos com várias pessoas para entender como poderíamos atravessar este momento da melhor forma. Começamos, então, a direcionar nossos esforços também para empresas mais robustas, que não estavam desligando funcionários de forma significativa”, pontua.

“Algumas startups que estavam trabalhando conosco pararam seus projetos. E vimos muito rapidamente que a nossa estratégia seria ir para um outro público que estava um pouco mais estável no momento que estamos vivendo”, diz a empreendedora, acrescentando que empresas tradicionais que estão investindo em seus processos de digitalização tem conseguido absorver muitos dos talentos demitidos de startups.

Próximos passos

Entre os objetivos da Anywhere para os próximos meses, está o ganho de escala. Segundo Nathalya, isso deve acontecer pela criação do ATS próprio da startup, cujo desenvolvimento já está em andamento. “Hoje, quando a gente olha para o mercado brasileiro, existem basicamente dois players, mas um foi comprado pelo outro [a Gupy, que comprou a Kenoby este ano]. Mas aqui já trabalhamos com vários outros ATSs e sentimos muita falta de ter algo assim no Brasil”, diz a fundadora.

“Quando falamos em ser uma TAtech, é sobre esse olhar de trazer tecnologia para escalar tudo o que já estamos fazendo. Implementamos vários sistemas de recrutamento diferentes em empresas para conseguir entender cada um deles e, quando fôssemos criar nossa própria plataforma, endereçássemos as dores que negócios tem”, acrescenta Nathalya.

O foco da Anywhere deve continuar sendo Brasil e Estados Unidos no ano que vem, com uma entrada na Europa prevista para o início de 2024. Sobre planos de captação, as fundadoras estão refletindo sobre a necessidade de impulsionar o crescimento com capital adicional. “Se o nosso negócio precisar de um investidor para suportar esse desenvolvimento, vamos para o mercado. Mas queremos garantir que vamos trazer o investidor certo e alinhado à nossa visão”, ressalta Nathalya.

Ainda sobre prioridades futuras, a fundadora diz que a startup quer reinvestir a receita na expansão do time, e preservar a composição diversa da equipe. “Temos muito orgulho de ter criado a empresa do zero e ter chegado neste ponto, considerando que tantos negócios demoram muito tempo para conseguir gerar receita”, frisa a empreendedora.

Considerando a trajetória de crescimento da empresa até aqui, Nathalya também quer que sua história inspire outras pessoas como ela, negras e periféricas – a empreendedora nasceu na Vila Gilda, bairro próximo do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo – para que elas lembrem que podem chegar onde quiserem.

“Eu nunca imaginava, por exemplo, morar um dia em São Francisco, ter reuniões com as pessoas que encontro hoje. Vejo que muitos têm medo desses movimentos, e acham que nunca vão conseguir. Quero reforçar que isso tudo é super possível: mesmo que a gente tenha nascido e crescido em lugares muito simples, podemos construir coisas muito grandes na vida”, finaliza.

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