“O sonho continua intacto. O plano que estamos executando é o que estamos fazendo há 2 anos”. É assim que o argentino Diego Dzodan resume o atual momento da Facily. A sobrevivência do unicórnio do comércio eletrônico foi colocada em xeque em abril quando a companhia fez um corte que, segundo ex-funcionários, chegou a 60% da equipe direta e incluiu mais 900 indiretos. Diego diz que o corte não foi tão profundo, mas não revela o tamanho exato do enxugamento.
Para mostrar que continua no jogo, a companhia está lançando sua frota própria de entregas. São mais de 100 veículos de modelos VUC, van e utilitários que passarão a fazer as rotas de entregas a partir de um centro de distribuição em Osasco, atendendo a região da Grande São Paulo. De acordo com Dzodan, São Paulo é o maior mercado da companhia, e onde a questão da logística representava um gargalo mais forte. Mas a ideia é expandir a estrutura para outras cidades onde ela opera. A Facily está presente em 9 capitais e com cobertura em um raio de cidades próximas a elas.
O início da operação, adiantado com exclusividade ao Startups, marca uma virada para a companhia, reduzindo o tempo e o custo das entregas. “A última milha é o principal ofensor ou o principal alavancador no modelo de marketplace. Com a frota própria, agora podemos atender sem perder dinheiro em cada pedido”, afirma Dzodan.
Modelo de operação
A Facily opera com entregas não na casa do cliente, mas em pontos de coleta. Quando faz uma compra, o cliente escolhe um local próximo de onde lhe for conveniente. No modelo de logística terceirizada que vinha usando, a companhia só conseguia despachar 100 por entrega. Com os modelos maiores, o número salta para 800. Esse ganho de eficiência é fundamental para manter o modelo de negócios da companhia porque, por ter um foco no público de menor renda, com preços menores ou próximos ao do atacerjo, com a comodidade da entrega, a companhia tem uma política de frete grátis para todas as compras feitas.
Com um gasto por compra que é menos da metade dos R$ 150 do comércio eletrônico brasileiro, a Facily se apoia na não cobrança das entregas para crescer. Dzodan dá como exemplo o fone de ouvido usado por ele durante a conversa com o Startups. O acessório foi comprado na Facily por R$ 8. Em outros marketplaces, segundo ele, o valor para o comprador seria de R$ 24 por conta das comissões cobradas dos vendedores e do frete. “Com esse modelo não estamos em concorrência com ous outros marketplaces porque eles não conseguem ou não querem atender esse perfil de consumidor, que está fora do ecommerce”, diz.
Até o fim do ano, a expectativa é que a Facily apresente um crescimento de 15% ao mês. O ritmo é bem mais lento do que o apresentado pela companhia ao longo de 2021, mas, segundo Dzodan, vai acontecer de forma mais sustentável.
Onde deu ruim?
Nascida em 2018, a Facily levantou mais de US$ 502 milhões em 5 rodadas de investimento. Só no ano passado, foram 3 captações, sendo que na última, a série D, ela atingiu o status de unicórnio. Dzodan conta que em 2021 a companhia teve um crescimento “fora de controle”, chegando a avançar na casa dos três dígitos em alguns meses.
Essa expansão trouxe problemas na área da logística, que levaram a uma explosão nas reclamações dos consumidores e rendeu à companhia um puxão de orelhas do Procon – com direito a uma matéria bastante negativa no Fantástico. “Os comentários negativos são o legado do crescimento que não atendia a demanda”, assume.
De acordo com Dzodan, o processo de logística da Facily eram muito manual, com milhares de pessoas trabalhando em estruturas de triagem de encomendas (cross docking) espalhadas. Esse middle mile era muito caro de operar e muito ineficiente.
Com o apoio de consultorias para definir processos, a companhia centralizou as operações em Osasco, e digitalizou as operações, colocando, por exemplo, um equipamento para fazer o processo de separação de forma automatizada (sorter). O novo modelo está em operação há 1 mês e Dzodan garante que não há mais backlog de entregas. “Agora o que é pedido sai”, diz.
Com o olhar para a operação de logística própria, e a perspectiva de dificuldade de captação de recursos por um período que pode se estender por até 24 meses, a Facily tomou a decisão de apertar o cinto para reduzir o consumo de caixa e esticar sua sobrevida. “A redução dói, mas estamos ajudando o time que ficou com o reforço do senso de propósito, e as perspectivas de crescimento da companhia”, diz Dzodan.
Segundo ele, uma outra frente que será mais desenvolvida nos próximos meses é a de serviços financeiros. Em janeiro, a companhia colocou no ar um marketplace de empréstimos. O teste funcionou e a ideia é avançar nesse modelo incluindo novas ofertas. “Estamos bem ocupados por muitos meses ainda. Não é fácil a desaceleração, requer adaptação. Mas foi preciso porque exigia muito dinheiro. Mas o horizonte continua sendo de longo prazo. A Facily está viva”, reforça o fundador.