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Três meses depois de virar unicórnio, a plataforma de social commerce Facily já começou a estruturar seus próximos passos. A startup planeja entrar no setor de serviços financeiros, investir em infraestrutura e melhorar o atendimento ao cliente.

O app foi criado em 2018 por Diego Dzodan, ex-vice-presidente do Facebook para a América Latina, Luciano Freitas, ex-Airbnb e ex-Uber, e Vitor Zaninotto (ex-SAP) com foco em um público de baixa renda. Através da plataforma da Facily, usuários se reúnem com a família ou amigos para fazer compras em grupos de produtos com preços até 70% menores do que nos mercados e e-commerces tradicionais. O negócio soma mais de 17.5 milhões de downloads desde a sua fundação e recebe, em média, 400 mil pedidos por dia.

A proposta atraiu investidores nacionais e internacionais, entre eles o fundo DX Ventures e o aplicativo alemão de entregas Delivery Hero, que juntos injetaram US$ 250 milhões na série D da startup em novembro de 2021. O status de unicórnio veio 1 mês depois, quando a Facily levantou uma extensão da rodada de US$ 135 milhões e ultrapassou US$ 1 bilhão em valor de mercado. O aporte foi liderado por Goodwater Capital e Prosus, investidora da Movile, com participação dos fundos Rise Capital, Emerging Variant e Tru Arrow.

Com o caixa reforçado, a startup planeja entrar em serviços financeiros – algo que pode acontecer ainda neste ano. “Processamento de pagamentos é o mais óbvio, mas [o portfólio] vai continuar evoluindo. Talvez nossos consumidores não tenham acesso aos típicos serviços de grandes bancos e grandes seguradoras, e vemos um grande espaço para expandir”, diz Diego, em entrevista ao Startups.

“Uma das maiores particularidades da Facily é que estamos focados em ajudar um consumidor e uma base da população que está totalmente excluída do e-commerce”, pontua o cofundador. “[O objetivo é] aumentar os serviços para que eles não fique de fora.” Sem dar muitos detalhes, o executivo adianta que a expansão do portfólio pode acontecer por meio da integração de soluções terceiras à plataforma da Facily, com foco, é claro, nas fintechs. 

Diego Dzodan, cofundador e diretor-executivo da Facily - Startups
Diego Dzodan, cofundador e diretor-executivo da Facily
Foto: Murillo Constantino

Atendimento ao cliente e mais eficiência

A notícia do unicórnio chegou em um momento delicado para a startup. Embora o número de pedidos na plataforma tenha crescido para 7,1 milhões de janeiro a outubro de 2021, as reclamações contra a empresa no Procon chegaram a quase 60 mil em 2021, cerca de 80 queixas por hora.

O volume fez da Facily o aplicativo recordista em reclamações no ano. Com a repercussão negativa, a empresa se comprometeu a indenizar os consumidores afetados, reduzir o número de reclamações em 80% e criar um fundo de R$ 250 milhões para a reparação de danos ao consumidor.

Nesse contexto, melhorar a experiência do cliente tornou-se o centro das atenções da startup. Segundo Diego, com o dinheiro do aporte a empresa vai investir em ferramentas de autoatendimento para “dar visibilidade de tudo que está acontecendo com o pedido” em todo o ciclo de vida – do momento da compra à entrega na casa do consumidor. A solução permitirá que o usuário veja se o pedido está atrasado, cancele alguns itens, adicione outros, e acompanhe todo o processo digitalmente, sem precisar falar diretamente com um funcionário.

Além disso, a empresa está olhando para a tecnologia do aplicativo como um todo. “Construímos uma plataforma para cada ponta do serviço – o consumidor, vendedor e ponto de retirada – para ajudá-los em cada função e ter mais controle e visibilidade do que está acontecendo”, explica Diego, acrescentando que a startup tem uma grande área de desenvolvimento de tech para continuar aperfeiçoando a plataforma.

O dinheiro será também será alocado na logística, com novos e maiores centros de distribuição e capacidade de entrega. “Vamos continuar fazendo investimentos para otimizar a logística na última milha [quando a mercadoria sai do centro de distribuição para o destino final] para entregar mais rápido e com menos custo aos clientes”, diz o empreendedor, citando ainda melhoras nos processos de separação dos produtos, empacotamento e novos maquinários.

Apesar de não revelar números específicos, Diego diz que, com esses avanços, o time de 860 colaboradores deve continuar crescendo. “Queremos consolidar a equipe e melhorar os processos para que tudo fique muito eficiente antes de avançar em uma nova onda de expansão”, explica.

Novos mercados

Na teoria, a Facily está presente em 9 grandes cidades brasileiras, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte. Mas, segundo Diego, a atuação é ainda maior, já que os centros de distribuição dessas regiões atendem a cidades menores próximas das metrópoles. No estado de São Paulo, por exemplo, as entregas já são feitas em cerca de 20 municípios.

A meta para 2022 é continuar se aproximando do consumidor. “Estamos constantemente abrindo novos centros de distribuição ou expandindo a capacidade dos atuais, isso vai se manter nos próximos anos, conforme o negócio continua crescendo”, afirma o executivo. A startup também quer aumentar o numero de fornecedores que vendem na plataforma.

A expansão internacional também está no horizonte, a começar por México e Colômbia. A internacionalização, segundo Diego, deve acontecer entre o final de 2022 e começo de 2023. “Embora o Brasil seja um mercado gigante, acreditamos que exista oportunidade para ajudar mais pessoas de outros países”, diz o empreendedor. “A base da pirâmide [população de baixa renda] do México e Colômbia não é muito diferente do que a brasileira: são segmentos enormes de mercado, cujos consumidores estão preocupados com os preços, comparam os valores e compartilham dicas entre si”, explica.

Série E e IPO

Quando questionado se a Facily deve levantar uma nova rodada em 2022, Diego afirma que “a resposta para essa pergunta vai depender de como evoluam algumas variáveis macroeconômicas”. Ele cita como exemplo a evolução do aumento de juros, principalmente nos Estados Unidos, e o contexto da geopolítica diante da guerra entre Rússia e Ucrânia.

“Com o mercado e a realidade de hoje, não imaginamos uma rodada de investimento [neste ano], até porque não temos a necessidade. A menos que o mercado esteja muito favorável, não imagino que a Facily procure ativamente por um novo aporte”, afirma Diego, embora reconheça que o ecossistema pode mudar rapidamente, o que poderia abrir espaço para uma nova negociação.

O IPO também está no radar. Segundo o cofundador, a abertura de capital não deve acontecer tão cedo, já que “os investidores ainda têm um horizonte para manter os investimentos na Facily por bastante tempo e, no momento, ninguém precisa [aumentar a] liquidez”. 

Diego explica que a oferta vai acontecer no momento em que a startup tenha a necessidade de mais capital e não haja fundos de investimento privados que consigam atender aos volumes de financiamento necessários para continuar expandindo o negócio. “Imaginamos que isso aconteça daqui a pelo menos 2 ou 3 anos”, afirma.

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