Criada para oferecer taxas e regras mais justas para entregadores e restaurantes, a startup de delivery AppJusto levantou mais de R$ 1,8 milhão em uma oferta de equity crowdfunding na plataforma Kria. A captação atraiu 939 investidores – um número recorde da modalidade no Brasil.
O AppJusto foi lançado em agosto de 2021 com um posicionamento de socialtech. A companhia visa gerar impacto social positivo na gig economy (de trabalhadores autônomos, como no caso dos entregadores) e ser uma alternativa para o monopólio do delivery de restaurantes, hoje concentrado nas mãos do iFood com 80% do mercado.
A plataforma tem cerca de 17 mil entregadores cadastrados, dos quais 3 mil já foram aprovados na capital paulista, e mais de 300 restaurantes em operação (de um total de 900 cadastrados). Desde sua fundação, a startup já realizou mais de 8 mil entregas e soma 22 mil usuários.
A meta é chegar a 3 mil restaurantes e 5 mil entregadores aprovados em 8 meses, chengado a 15 mil entregas. Os recursos do crowdfunding serão usados para aumentar a base de estabelecimentos e aprimorar o produto. Em breve o app deve ganhar novas funcionalidades como recebimento por Pix e avanços na operação logística.
Além disso, a startup, que até então não tinha feito investimentos em marketing, vai direcionar recursos para essa área. “Nossa estratégia de crescimento é diferente das outras plataformas. Não é criar cupons de desconto, promoções ou frete grátis. Quando falamos em marketing, pensamos em como alcançar mais pessoas. Isso envolve criação de conteúdo, tirar dúvidas sobre a Economia de Plataforma e mostrar como o AppJusto funciona”, diz Rogério Nogueira, cofundador da startup.
O executivo acrescenta que a companhia ainda não tem números altos de faturamento, mas que o produto está validado e em estágio de go-to-market. “Apostamos no modelo de flywheel, construindo um ciclo virtuoso em que uma etapa reatroalimenta a seguinte”, pontua Rogério. “Ter restaurantes cadastrados aumenta a oferta de produtos, que com bons preços atraem mais consumidores. Isso faz com que mais entregadores estejam interessados em trabalhar conosco e, com mais pedidos entregues com sucesso, mais restaurantes querem entrar na operação.”
Reforçando os ideais
Segundo Rogério, a escolha pela modalidade de equity crowdfunding foi feita pelas semelhanças entre a modalidade e os valores que orientam a startup. “Para ter um crescimento sustentável em um mercado que sofre de monopólio, a melhor coisa a se fazer é fomentar a união e a coletividade”, afirma.
O executivo diz se inspirar nos pilares do cooperativismo. “Um modelo em que todo mundo participa, tem um pouco da empresa e cresce junto. Um forte sentido comunitário em que todos ganham com o avanço do negócio. Considerando tudo isso, não teria como escolhermos um modelo diferente do equity crowdfunding”, pontua.
Também conhecida como financiamento coletivo, a modalidade permite que diversas pessoas façam investimentos e entrem com uma parte do capital necessário para atingir a meta de aporte definida pela startup. No caso do AppJusto, a captação teve como valor mínimo de aporte R$ 100 para facilitar o acesso dos mais diversos públicos e reforçar a construção de sua comunidade.
“O valor foi pensado exclusivamente para que os entregadores conseguissem investir”, afirma Rogério. O objetivo era viabilizar que quem usa o app como fonte de renda se tornasse dono daquilo que lhe traz sustento (ou, pelo menos, de parte dele). Do lado dos restaurantes, o valor permite que os empreendedores que sofreram com a pandemia e ainda estão se recuperando invistam e também lucrem com os retornos do negócio.
Entre os quase mil investidores, 30 são entregadores do app e outros 30 donos de restaurantes. “A gente esperava muito mais”, reconhece o empreendedor. “Mas entendemos que houve uma limitação de comunicação, tempo e de formalização da oferta. A crise financeira também prejudicou esse processo.”
O processo de captação esteve aberto durante 6 meses, e foi concluído no dia 28 de maio. Rogério garante que essa não será a única rodada de crowdfunding da companhia. O AppJusto tem dinheiro suficiente para operar por 9 meses e no início do próximo ano deve abrir uma nova oferta para reforçar o caixa.
O poder da rede
Rogério e seu sócio, Saulo Brito, não são novatos no ecossistema de startups. Eles já tinham fundado outras empresas por conta própria e lançaram juntos a Allya, uma rede colaborativa de benefícios corporativos. Em 2019, depois de seus exits, os empreendedores estudavam qual seria o próximo passo e se depararam com o episódio “Delivery” da série Greg News.
Estrelado por Gregório Duvivier, na HBO Brasil, o programa expõe a realidade e condições de trabalho dos entregadores de aplicativo. “Já tínhamos estudado a Economia de Plataforma e o monopólio do setor, mas o projeto do AppJusto surgiu quando vimos o episódio do Greg News”, conta Rogério.
Agora corta para 2022, alguns meses depois de a empresa inicar as operações. Um dos restaurante da base aconselhou seu cliente a fazer o pedido pelo AppJusto. O estabelecimento explicou os benefícios da plataforma: transparência, exibição igualitária dos restaurantes por ordem de distância do cliente, preços dos pratos até 20% mais baratos do que em outros apps e uma remuneração média de R$ 11,88 por corrida para os entregadores, não incluindo gorjetas.
O consumidor fez o pedido, gostou e compartilhou a experiência com seus amigos e colegas de trabalho. O que ninguém sabia é que ele trabalhava na produção do Greg News. Não demorou muito para que o próprio Gregório Duvivier falasse sobre o AppJusto no Twitter.
“Como vocês podem imaginar, eles não tem grandes investidores – só grandes inimigos. Tudo que eles precisam é de um empurrãozinho seu pra funcionar. Qualquer doação é bemvinda. Se não puder doar, por favor espalhe a palavra”, escreveu o ator e humorista brasileiro.
A postagem foi feita em maio durante a rodada de investimentos da startup. “O Gregório já tinha sido o pontapé para criarmos a empresa e coincidentemente foi o ponto de virada do nosso crowdfunding. Quando ele fez a postagem, o processo de captação acelerou”, relembra o fundador do AppJusto.
Segundo Rogério, o futuro da empresa parece promissor. “As pessoas começaram a ver que estamos operando bem, resolvemos um problema de mercado e que a chance do investimento render é real. A rodada foi muito simbólica, porque mostra que a gente não está sozinho. Isso fortalece o efeito rede e a estratégia de sociedade que tanto apoiamos”, conclui.