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Fundada há duas décadas pela norte-americana Kelly Michel, a Potencia Ventures é um grupo global de investimentos de impacto que investe em fundos de venture capital e startups early stage. Após um ano turbulento no mercado, a companhia, que se movimenta para apoiar empresas no setor de educação e empregabilidade, está estruturando as estratégias para 2023 e busca construir um dealflow cada vez mais diverso.

A companhia trabalha nos Estados Unidos e em mercados emergentes da Índia e América Latina com foco em negócios seed e série A. O grupo conta com mais de 20 investimentos em empresas de capital de risco e mais de 15 startups de impacto em seu portfólio, incluindo as brasileiras Letrus, TAQE e 4YOU2.

Como boa parte do mercado, este ano a Potencia sentiu os efeitos da alta do juros e maior aversão ao risco por parte dos investidores. “Percebemos claramente essa segurada, e o nosso portfólio também. Muitos tiveram dificuldade de captar principalmente no primeiro semestre”, afirma Itali Collini, diretora da Potencia Ventures, em entrevista ao Startups. “Mas o perfil que buscamos, com mais mulheres, pessoas negras, periféricas e grupos sub-representados no geral não estavam sendo tão impactados, porque já estavam fora do circuito de investimentos. A grana diminuiu para quem encontrava dinheiro fácil”, explica a executiva.

Segundo a Itali, a Potencia Ventures tratou os investimentos com cautela ao longo do ano. O número de deals não mudou tanto em relação ao ano passado – foram 19 rodadas em 2021 e 18 em 2022. Porém, o tamanho dos cheques diminuiu: em torno de US$ 11 milhões este ano e US$ 14 milhões no anterior. “Embora os investidores tenham ficado mais cautelosos, aproveitamos esse momento para preparar um novo projeto que vai fazer com que o volume aportado seja maior no próximo ano”, diz a diretora.

A estratégia envolve aumentar a quantidade de cheques em estágio seed. “Estávamos fazendo um pouco mais de série A ou grandes rodadas de seed. Mas queremos fazer rodadas semente em deals menores”, afirma Itali. Com isso, a Potencia espera atrair mais investidores e captar oportunidades de negócio que talvez não estejam no radar de investimentos tradicionais. O grupo pretende entrar um pouco mais cedo nas startups do que está acostumada para desenvolver um relacionamento de longo prazo com os empreendedores. 

Diversificando o portfólio

Embora seu foco seja em educação e empregabilidade, a Potencia não investe apenas em edtechs e hrtechs. Startups de outras verticais que causem impactos positivos nesses setores também têm chance de receber investimento. Exemplo disso é a Flevo, fintech chilena que oferece empréstimo para a educação. “Estamos pensando em como o portfólio pode ser construído de maneira a se complementar, inclusive para que as empresas tenham sinergias entre si. Olhando para como as startups podem interagir e acelerar umas às outras”, explica Itali.

Quando assumiu a diretoria na Potencia Ventures, Itali decidiu conversar com os empreendedores do portfólio para saber a razão de eles terem escolhido trabalhar com o grupo. A resposta mais frequente foi o time. “São pessoas extremamente experientes em investimento de venture capital e impacto. A fundadora, Kelly Michel, e o investment advisor, Patrick Maloney, trazem muito conteúdo e visão estratégica sobre como testar modelos de negócio junto com o impacto social”, argumenta Itali.

Kelly é cofundadora da primeira aceleradora de impacto do Brasil, a Artemisia, e em 2009 cofundou a Vox Capital, empresa brasileira de capital de risco que investe em empresas de impacto. Já Patrick é o fundador da Occam Advisors, uma empresa de consultoria em investimentos de impacto que trabalha em parceria de longo prazo com a Potencia, e foi diretor da Imprint Capital, consultoria em investimentos de impacto.

“Essa experiência é muito relevante para os empreendedores, porque eles conseguem aprender mais rápido, evitar algumas ciladas e ganhar insights relevantes em termos de estratégia”, acrescenta Itali. Além disso, ela cita o fato de a Potencia ter um portfólio não só de fundos, mas também de fundos de venture capital. “Somos LPs de diversos fundos, o que é um valor agregado para as startups, já que atuamos como a ponte entre os empreendedores e investidores internacionais, permitindo que elas acessem mercados de capitais em outros países.”

Ainda de olho no smart money, a Potencia Ventures promete autonomia para os empreendedores e uma visão pró-fundador, ajudando os líderes das empresas a intermediar conversas com clientes e outros investidores, mediando eventuais conflitos de forma colaborativa e diplomática.

Segundo Itali, a companhia está otimista para o próximo ano, embora ainda esteja analisando o andamento do mercado. “As oportunidades não acabaram no Brasil e na América Latina; elas só crescem”, pontua. E a empresa já começou a se movimentar nesse sentido: na última semana, lançou o Potencia UP, um programa afirmativo para empreendedores diversos como mulheres, pessoas negras, da comunidade LGBTQIA +, pessoas com deficiência, periféricas ou com mais de 60 anos.

A iniciativa vai selecionar 20 startups com impacto em educação ou empregabilidade que tenham, pelo menos, um MVP (mínimo produto viável). Elas receberão um ano de benefícios para construção de
capital financeiro, intelectual e educacional, incluindo aulas de inglês, mentorias coletivas e individuais, conexão com investidores e apoio na estruturação da rodada. Durante o período, a Potencia elegerá 5 delas para investimento de cheques de até US$ 100 mil. As inscrições estão abertas até o dia 30 de novembro.

A postura da Potencia segue sendo de cautela, evitando colocar dinheiro em empresas com valuation nas alturas. “Somos um fundo que historicamente gosta de valuations pé no chão e fundadores que olham para o fundamento. Olhamos com otimismo para 2023, vamos aumentar os aportes na América Latina, mas continuar criteriosos e com o pé no chão, avaliando a capacidade de execução, o valuation e a intencionalidade do fundador”, conclui Itali.

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