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Não é de agora que se fala sobre a concentração de mercado que o iFood conseguiu no mercado nacional. É um assunto que se estende há tempos, gerou discussões entre nomes grandes (como a Rappi) e provocou a saída de alguns players (como o Uber Eats). Entretanto, ontem (08), o Cade tomou uma decisão que pode mudar o jogo: o iFood firmou um acordo com o conselho em que sofre duras restrições em seus contratos de exclusividade com restaurantes.

Segundo os termos combinados com o Cade, que terá validade de 4 anos, o iFood terá 6 meses para colocar as medidas em prática.

Numa primeira análise, dois aspectos bastante significativos chamam a atenção. O primeiro tem a ver com os contratos com grandes marcas: o iFood não poderá mais assinar contratos de exclusividade com marcas que tenham 30 ou mais estabelecimentos – ou seja, adeus exclusividades com marcas como McDonald’s ou Outback, que hoje só operam no marketplace do iFood. Segundo a nova regulamentação, os contratos que já estão em vigor só podem valer até setembro deste ano.

Outro ponto importante tem a ver com o volume de faturamento que o iFood pode tirar destes acordos de exclusividade – ele não pode exceder 25% de seu total de pedidos. Além disso, os acordos em vigor com as redes menores, com duração superior a dois anos, perderão a validade em seis meses, e o iFood deve passar por uma quarentena de um ano para fazer um novo contrato de exclusividade.

Em nota no seu site oficial, o iFood tentou colocar panos quentes sobre a situação. “Ele (o acordo) reconhece não só a dinamicidade do setor de delivery de comida, marcado pelo surgimento de diversos modelos de negócio, como também a importância e a legalidade da prática de exclusividade, desde que respeitados certos limites estabelecidos no acordo. A atuação do iFood sempre se deu dentro dos limites legais”, afirma Arnaldo Bertolaccini, vice-presidente de restaurantes do iFood, no comunicado.

Apesar de tudo, o executivo não escondeu que ele terá impactos relevantes em seus negócios. “Nossa primeira ação será trabalhar junto aos restaurantes parceiros que serão impactados para garantir que eles continuarão recebendo o nosso melhor atendimento, mesmo sem o contrato de exclusividade”, pontua.

Concorrência comemora

Para as plataformas concorrentes no mercado, a decisão do Cade animou. Para a Rappi, uma das mais vocais críticas da concentração de mercado do iFood, a novidade foi celebrada, mas é apenas o primeiro passo na direção de um mercado mais competitivo.

“Acreditamos na importância da intervenção do órgão em casos como esse para garantir um ambiente competitivo saudável, favorecendo o mercado como um todo e, especialmente, os restaurantes e consumidores”, destacou a empresa, em nota enviada ao Startups.

Vale lembrar que a Rappi subiu o tom nas suas oposições ao iFood no ano passado, quando protocolou petição junto a Cade para a revisão e encerramento de todos os contratos de exclusividade da plataforma. A petição foi protocolada em fevereiro, pouco tempo depois de o Uber Eats anunciar que sairia do mercado nacional – exatamente por conta da dificuldade de concorrer contra o gigante iFood.

Quem também não resistiu no mercado foi a 99Food, que encerrou seu serviço de delivery (modelo fullservice), deixou a responsabilidade da entrega para os restaurantes, e passou a operar apenas como um player de marketplace, a fim de diminuir seus custos operacionais.

Segundo dados do final de 2021 da Abrasel, o iFood detinha 80% do mercado de delivery de comida no país, seguido por Uber (25%) e Rappi (18%). E nada indica que houve mudança neste cenário desde então.

Na nota sobre a recente decisão do Cade, Arnaldo Bertolaccini do iFood se pronunciou sobre a estimativa. “Esse dado que a Abrasel apresenta não tem uma metodologia clara e não leva em conta todas as modalidades de entrega. O Brasil conta hoje com inúmeras plataformas de delivery, especialmente fora dos grandes centros. A competitividade é grande, com empresas como Magazine Luiza, Americanas, Ambev e Grupo Pão de Açúcar investindo no setor”, disparou.

Será que vai fazer diferença?

Ao final de toda esta discussão, ainda resta uma pergunta. Será que esta decisão vai realmente fazer alguma diferença? Para Denis Lopardo, executivo de longa experiência no mercado de delivery e logística e que hoje toca a bdoo, a resposta é não.

“O iFood ganha mercado pois opera em um modelo em que ele foi pioneiro, e é um modelo de operação bastante oneroso, inclusive para o próprio iFood“, pontua. Segundo ele, a determinação do Cade pode trazer mudanças para o modelo de negócio do iFood, mas não mexe muito na atual configuração do mercado. “Resumindo, está caro para todos os players, mas o líder já está consolidado, e já é sinônimo de categoria”, completa.

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