O agro representa um quarto do PIB brasileiro. Mas essa relevância ainda não está refletida no universo das startups. O segmento ainda perde feio para as fintechs em termos de valores aportados por investidores – ficando na faixa da centena de milhões de dólares, contra muito bilhões de dólares. Mas nomes como a Agrolend estão correndo para mudar isso.
Nascida em meio à pandemia, a agfintech que oferece crédito para produtores rurais e quer ser tornar o banco digital do agro, fechou sua 2ª rodada de investimento, trazendo para o caixa R$ 80 milhões adicionais. O aporte foi liderado pelo Valor Capital, e contou com a participação de investidores que participaram de seu seed, de R$ 10 milhões. Na lista estão Continental Grain Company, SP Ventures, Provence Ventures e Barn Invest além de investidores-anjo estratégicos, como a família Conde (ex-banco BCN).
Os recursos serão usados dentro do que normalmente acontece em uma rodada desse perfil, com ampliação das equipes de tecnologia, marketing e comercial.
Funding e carteira
Junto com a rodada de equity, a companhia concluiu a emissão de seu 2º Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Foram R$ 40 milhões captados com Itaú Asset, Verde Asset e Augme para dar fôlego à concessão de crédito. O 1º FIDC, também de R$ 40 milhões, “secou” em 3 meses, muito mais rápido do se imaginava, segundo Alan Glezer, que fundou a companhia junto com o irmão Andre, Valéria Bonadio, Leopoldo Vettor e Carlos Fagundes.
O plano é atingir uma carteira de R$ 1 bilhão em um prazo de até 2 anos, atendendo 5 mil clientes. Em um prazo de 5 a 7 anos, o montante pode ficar entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões.
Em 2022, o total deve chegar a R$ 400 milhões, 10 vezes o montante de 2021. A projeção é que em um prazo de 2 anos a carteira chegue a R$ 1 bilhão, com 5 mil clientes espalhados pelo país. Em 5 a 7 anos virá um novo salto, para R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões.
O mercado de crédito para produtores rurais é estimado em R$ 500 bilhões, sendo que deste total, R$ 200 bilhões são créditos subsidiados pelo governo, oferecidos pelo Banco do Brasil e instituições como o Sicoob, segundo Alan. Com a situação fiscal do país, esse modelo perdeu força, o que abriu uma oportunidade de crescimento para a startup. ‘Chegar a R$ 1 bilhão de carteira é uma fatia pequena do mercado, mas é um grande feito pra gente”, avalia.
Modelo de oferta
A oferta de crédito da Agrolend é feita em parceria com revendas de insumos. Atualmente são 40 parceiros ativos por todo o país. Os empréstimos, que entre R$ 200 mil e R$ 300 mil, em média, são feitos pelo WhatsApp e liberados em até dois dias, com prazo médio de financiamento que depende do tipo de cultura do produtor (6 meses no milho e 12 no café, por exemplo). Não são exigidas garantias reais e as próprias revendas entram como avalistas das operações por conta de seu relacionamento de longa data com os produtores.
Segundo Alan, há conversas com 150 novas revendas que têm interesse em se juntar à rede de “agentes autônomos”. Mas a ideia é ir além delas e buscar também outros perfis como fornecedores de peças e de tecnologia. “Temos um universo muito grande para explorar”, diz Alan.
Atuando com uma licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD), a Agrolend está se planejando para virar um financeira, o que vai permitir que, em algum momento, ela emita suas próprias Letras de Crédtio Agrícola (LCAs)
O movimento ajuda no ganho de eficiência no balanço, mas também coloca a companhia na rota de seu plano mais abrangente, que é o de se tornar uma instituição financeira, um banco voltado ao setor de agro, oferecendo crédito e outros serviços que o setor demanda.
Possível unicórnio?
Para colocar o plano em prática, Andre Glezer, cofundador da Agrolend e irmão de Alan, estima que a companhia terá que captar cerca de R$ 1 bilhão em equity. O que coloca a companhia na rota para se tornar um unicórnio do setor de agro. “Tem algumas empresas que estão mais adiantadas que a gente então não devemos ser o primeiro. Mas certamente estamos nesse caminho”, diz.