Em uma rodada de série D que chegou antes do previsto – o papo era que ela aconteceria no fim do ano – a foodtech chilena NotCo atingiu o aclamado status de unicórnio e se tornou a mais nova companhia da América Latina a ter essa classificação (tá quase perdendo a graça isso já, de tão comum que tem ficado…).
Na rodada de US$ 235 milhões que é quase o dobro dos US$ 130 milhões que ela tinha levantado até agora, a companhia que faz leite, sorvete, chocolate e carne a base de plantas foi avaliada em US$ 1,5 bilhão. O novo investimento foi liderado pelo maior criador de unicórnios dos últimos tempos… te peguei, não é a SoftBank. É a Tiger Global.
Segundo Ciro Tourinho, que comanda a operação da companhia no Brasil, os recursos serão usados para adicionar mais produtos às suas ofertas – com destaque para os substitutos de carne animal, como a recém-lançada carne moída – e ampliar a presença da companhia no continente americano, chegando à Colômbia, Peru, México e Canadá, mas também ampliando a presença e o número de produtos que ela oferece onde ela já atua, especialmente os EUA e o Brasil.
Segundo ele, São Paulo ainda concentra de 40% a 45% da demanda por produtos de base vegetal como os da NotCo, mas há potencial em outras regiões do país. “Hoje estamos muito concentrados em São Paulo. Mas queremos expandir para o Sul, Rio, Minas. O Brasilzão que nos aguarde”, brinca. Um produto que está prestes a ser lançado é o NotMilkinho versão infantil do leite vegetal.
Além do varejo, também está nos planos ampliar a presença em redes de restaurantes que vendam produtos feitos com ingredientes da NotCo, como a carne e o leite. A A Chapa e a Lanchonete da Cidade já são alguns nomes. Mas o potencial está bem aquém do possível, na avaliação de Ciro, e a expectativa é ampliar a presença nesse canal com a retomada da economia.
Tourinho chegou à companhia há quase 1 ano, vindo da PepsiCo e depois de passagens por Unilever, Ambev e Nestlé. “Você passa dos 40 e fica se perguntando como serão os próximos 20. Eu queria alguma coisa com mais propósito, mais autonomia. E quando apareceu a NotCo, deu match”, diz ele que se classifica como um flexitariano, tendo reduzido em mais de um terço o consumo de carne animal. “Talvez eu não vire 100% vegetariano”, diz.
A proposta da NotCo, aliás, é exatamente essa. Não tentar “converter” ninguém em vegetariano, mas dar às pessoas a opção de consumir também produtos de origem vegetal em diferentes situações. Mais ou menos como escolher entre tomar o café com açúcar ou com adoçante, compara Ciro.
Para ele, a criação desse hábito é um dos principais desafios para a foodtech. Mas ele diz ter tranquilidade de que isso vai acontecer por conta do portfólio e da abordagem da companhia. “Se você muda a origem da comida sem impactar na experiência de consumo, a migração vai acontecer. O sabor é rei. Você não precisa abrir mão do sabor para ter alimentação plant based”, diz.
O que a NotCo propõe como arma secreta neste sentido é o uso da inteligência artificial Giuseppe, que fica responsável por sugerir combinações de ingredientes para a montagem – e ajustes – das receitas.
A rodada
A rodada contou com a chegada de fundos como o DFJ Growth Fund o The Social Impact Foundation e o ZOMA Lab. Também entraram o cofundador do Twitter, Jack Dorsey; o cofundador do airbnb, Joe Gebbia e algumas celebridades como o tenista Roger Federer, o músico DJ Questlove e o piloto de Fórmula 1, Louis Hamilton – que segue uma dieta plant-based. Para um produto de consumo, nada melhor do que a validação de algumas personalidades, não é mesmo?
A rodada ainda contou com a participação de fundos que já investiam na NotCo, como o Bezos Expeditions, do Jeff Bezos; EHI; Future Positive, do outro cofundador do Twitter, Biz Stone; L Catterton e Kaszek Ventures. Com a série D, a gestora brasileira Maya Capital consegue seu 1º unicórnio e a G2D, o braço de investimento em empresas de tecnologia da GP Investments, que tem uma participação no fundo The Craftory, que investe na NotCo, também consegue mais um para a sua coleção.
Aliás, que sequência que a G2D tem conseguido, hein? Depois de abrir capital com a proposta de democratizar o acesso ao venture capital para os brasileiros, a companhia registrou, nas últimas semanas, ganhos com o IPO da Coinbase, o investimento da SoftBank no Mercado Bitcoin e a venda de sua fatia na Blu. Nada mal para 60 dias como empresa pública, né?
A NotCo tinha feito sua série C, de US$ 85 milhões em dezembro. Em junho, a companhia apresentou uma extensão, de cerca de US$ 12 milhões, feita pelo Enlightened Hospitality Investments (EHI). O fundo pertence à Union Square Hospitality Group (USHG), holding do fundador da rede Shake Shack, Danny Meyer. A ideia já era acelerar a expansão nos EUA. Por lá, a companhia estava disponível em 3 mil lojas, com expectativa de passar de 5 mil até o fim do ano.