A segurança digital nunca esteve fora da agenda das empresas, mas os recentes ataques do tipo ransomware às Lojas Renner, Fleury , JBS e outros colocaram ainda mais atenção sobre o vazamento de informações confidenciais e dados de milhares de clientes. Neste tipo de golpe, que virou “moda” nos últimos tempos, os dados são criptografados pelos criminosos e a chave para liberação só é fornecida mediante o pagamento de um resgate – normalmente cobrado em bitcoin ou em alguma outra criptomoeda.
Desde o início do ano, ataques de ransomware aumentaram em 92% no país, acompanhando um movimento global que registrou uma alta de 41%. Segundo dados da Check Point Software, ações do tipo seguem uma tendência de alta no Brasil. América Latina e Europa foram as regiões que mais sofreram com ataques de ransomware, registrando altas de 62% e 59% em seus números, respectivamente.
Mundo afora, incidentes cibernéticos são classificados como o 3º maior risco de negócios, atrás apenas da interrupção dos negócios e da pandemia, de acordo com outra pesquisa (Allianz Risk Barometer 2021). O relatório mostra ainda que mais de 40% das empresas se sentem ameaçadas por ciberataques, os quais são considerados como o risco de negócios mais preocupante neste ano.
Na conta dos envolvidos nesse cenário estão os criminosos, profissionais de segurança das empresas, de fornecedores e claro, cada vez mais de startups. Só no 1º semestre de 2021, investidores colocaram US$ 11,5 bilhões em companhias novatas dessa área ao redor do mundo, o dobro do aplicado no mesmo período do ano passado, segundo conjunto da AllegisCyber Capital, Momentum Cyber e NightDragon. Já tem até uma lista de potenciais unicórnios na área. Nela estão nomes como as americanas BetterCloud, Deep Instinct e Swimlane, além da israelense Guardicore, segundo a GlobalData.
Inovação em cibersegurança no Brasil
O Brasil tem um certo histórico de criação de empresas de segurança com nomes como Modulo, Cipher (comprada pela espanhola Prosegur em 2018) e Sikur (que recentemente mudou sua sede para a França) e PSafe na lista. Mas nos últimos anos, a criação de empresas tem se acelerado. Segundo levantamento feito pelo Distrito, entre 2015 e 2020, nada menos que 90 empresas nasceram com foco nessa área.
Uma delas é a Unxpose, de São Paulo. A novata investida Canary usa inteligência artificial para monitorar possíveis falhas de segurança na internet 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Funciona assim. Os algoritmos analisam a rede em busca de vazamentos de dados e brechas de seguranças em sites, aplicativos e sistemas de nuvem de qualquer empresa. Ao detectar falhas, o algoritmo notifica o setor de segurança das empresas para a correção de falhas, sendo que algumas delas podem ser executadas automaticamente pela IA da startup.
O serviço da Unxpose é por assinatura, e custa a partir de R$ 2,5 mil por mês. Mas, para quem quiser ter o gostinho de um aperitivo do que a empresa oferece, ela está lançando hoje o Você Protegido, um teste gratuito para ajudar empresas a descobrirem seu score de exposição – uma nota que identifica os riscos de segurança em três áreas (web, DNS e credenciais de pessoas).
Os fundadores da Unxpose: Josemando Sobral (de vermelho), Tiago Assumpção (verde) e Patrick Costa (amarelo)
As notas, que vão de A (baixo risco de exposição) a F (situação crítica de vulnerabilidade), são atribuídas a partir de um algoritmo proprietário que considera a relevância das falhas de segurança encontradas, o potencial impacto de cada uma e a probabilidade delas serem exploradas. Assinando a solução completa, o cliente tem acesso ao score de todas as áreas de sua empresa, pode cadastrar mais ativos, além de saber quais das vulnerabilidades encontradas devem ser resolvidas com urgência.
“Tem empresa que não faz ideia que seus dados estão expostos na internet. Durante nossos trials já vimos empresas que possuem ferramentas de BI abertas, com métricas expostas, código-fonte do produto da empresa aberto na internet, etc. O primeiro passo para se proteger é saber o que você tem”, afirma um dos fundadores da Unxpose, Josemando Sobral.
Desde março, quando recebeu o investimento da Canary, a startup usa o dinheiro para evoluir seu novo produto e aumentar sua força de vendas. “Nosso propósito é ajudar tanto as pequenas empresas, muitas sem divisão de segurança, quanto grandes empresas, com operações altamente complexas, automatizando a visão de um hacker”, acrescenta Josemando.
Quem também aposta suas fichas na democratização e expansão da cibersegurança no país é o Grupo CyberLabs, resultante da fusão entre a startup de inteligência artificial CyberLabs e a PSafe. O grupo criado em fevereiro projeta mais de R$100 milhões de faturamento para 2021. Seu principal foco é o mercado de PMEs, pela expansão do segmento e pelo mesmo ter sido um dos principais alvos dos cibercriminosos nos últimos tempos.
A estratégia da companhia é difundir ainda mais seus produtos baseados em IA, sobretudo o dfndr enterprise, solução contra vazamentos de dados empresariais. A tecnologia monitora a deep web e oferece proteção para empresas de todos os portes, pois funciona basicamente de forma automática ao identificar e bloquear as ameaças virtuais antes mesmo que se tornem um problema. A solução está disponível para sistemas Android, iOS, Windows e macOS e pode ser testada gratuitamente por 30 dias.
Movimento CyberTech
Para fomentar o ecossistema de inovação para o setor de cibersegurança no Brasil, o Distrito se uniu a Cisco, em junho, e lançou o Movimento CyberTech. A ideia é promover ações para divulgar conhecimento e capacitar profissionais e a inovação do setor no país, conectando empresas, startups, governo e demais organizações.
São 4 grandes iniciativas. A 1ª é o centro de inovação e experiências em segurança cibernética Cisco Secure CyberHub. O espaço, localizado no Distrito Fintech, em São Paulo, permitirá a experimentação de cenários complexos de ataque e defesa, trazendo conceitos e tecnologias de segurança cibernética.
As demais ações são o Inside CyberTech Report, relatório de dados, informações e movimentações sobre o mercado, produzido pelo Distrito Dataminer; Cybertech Digital Hub, plataforma de inovação aberta suportada por dados, com foco em soluções de cibersegurança; e o Cybertech Summit, evento sobre o mercado de cibersegurança com os principais players do segmento, a ser realizado em outubro.