Um unicórnio europeu avaliado em mais de 3 bilhões de euros, a GoStudent chegou ao Brasil na metade do ano passado sem fazer muito alarde. A empresa desembarcou em São Paulo para “atacar” a América do Sul, oferecendo sua solução no Brasil, Colômbia e Chile. Um ano depois, a edtech austríaca prepara novos movimentos para expandir seu crescimento na região.
Com sua plataforma que liga professores particulares a alunos em busca de aulas online de reforço em diferentes disciplinas, a empresa registrou no segundo trimestre um crescimento de três vezes em relação aos seus primeiros meses no país, um ritmo que a companhia quer manter na segunda parte do ano.
Como toda boa multinacional, a GoStudent não é muito afeita a divulgar seus números regionais, porém destaca que está competindo com poucos no segmento em que atua, que é o de aulas particulares. Segundo a country manager da edtech no Brasil, Ana Luiza Purchio, a plataforma traz uma camada nova à dinâmica clássica de alguém que procura um tutor particular.
“Empregamos inteligência artificial, junto com a curadoria de nossos consultores, para fazer a conexão dos tutores mais adequados com a necessidade de cada aluno”, explica a executiva, destacando que o modelo funciona melhor que a simples indicação, já que nem todo tutor pode ter o “fit” esperado com o aluno.
O modelo da edtech inclusive gerou uma nova linha de atuação no mercado brasileiro: à parte do atendimento de alunos em idade escolar (o core business global da marca), por aqui a startup também abriu espaço para o ensino de reforço em inglês e outros idiomas (francês, alemão e outros) para adultos.
“Para isso investimos na criação de um corpo de tutores diferenciado, já que o ensino de inglês para um adolescente é bem diferente que para um adulto que quer aprender o idioma para negócios, por exemplo”, explica.
Especificamente no mercado brasileiro, Ana estima que a GoStudent conta com aproximadamente 300 tutores certificados até o momento, porém a executiva gosta de destacar o número global da base da companhia, que fica em torno de 20 mil tutores, que também podem atender alunos no Brasil.
Segundo a executiva, a oferta de tutores atualmente atende à demanda dos usuários, mas que deve ser ajustado de acordo com o ritmo de crescimento. Para isso, a empresa conta com uma equipe local de consultores pedagógicos, que certificam os professores para atender dentro da metodologia e da plataforma da edtech.
Atualmente, a operação brasileira conta com cerca de 30 funcionários, entre consultores pedagógicos e time comercial. A parte de tecnologia e desenvolvimento da empresa ainda fica toda no quartel-general da companhia, em Viena.
Encarando a competição
Quanto aos preços, a country manager afirma que sua empresa se mantém competitiva com o mercado, com aulas a partir de R$ 70 a hora. É um mercado povoado, com sites como o MeSalva oferecendo aulas na casa dos R$ 50 e outras plataformas como a Preply derrubando o preço da hora para R$ 25. Mesmo assim, Ana confia na sua metodologia e nos planos oferecidos. “Nos planos família, podemos criar grades personalizadas e ter preços mais baixos por aula, chegando a R$ 65”, completa.
Mais do que competir em preço, o plano da GoStudent, segundo Ana, está na experiência e no resultado dos alunos, tanto que a empresa coloca sua taxa de sucesso – de 90% – como um de seus chamariscos. “Alunos utilizam nossa plataforma para uma necessidade pontual, mas acabam ficando para outras matérias, ou para se preparar para o Enem”, diz Ana, mostrando como a empresa também consegue reter alguns de seus clientes.
Para reforçar esta proposta mais perene com os usuários, um dos atuais projetos que a empresa quer trazer ao Brasil é a utilização do metaverso como instrumento lúdico na aprendizagem. “Fizemos alguns testes envolvendo a captura de reações e emoções dos estudantes em ambientes virtuais e estamos animados com as possibilidades”, afirmou Ana ao falar de como esta novidade pode agregar ao modelo da startup. Segundo ela, o plano é incluir estes recursos na plataforma da GoStudent muito em breve.
O metaverso vem há algum tempo sendo colocado como um “game changer” para o mercado edtech. Por exemplo, os laboratórios de realidade do Facebook investirão US$ 150 milhões em programas educacionais para improvisar treinamento e desenvolvimento tecnológico. A empresa firmou parcerias com Coursera e EdX para alavancar o aprendizado, oferecendo o currículo Spark AR da Meta que usará realidade virtual e aumentada.
Da mesma forma, a Microsoft lançou o Mesh em 2021. Por meio desta novidade, a empresa está promovendo a adoção do metaverso, oferecendo-o a instituições educacionais e setores de edtech.
Edtech unicórnio
Fundada em 2016, a GoStudent se tornou uma das primeiras edtechs unicórnio em junho do ano passado, após levantar uma série C de US$ 244 milhões. Mas não foi só isso: em janeiro deste ano a empresa já mandou ver uma série D de US$ 340 milhões que colocou a avaliação de mercado da edtech em 3 bilhões de euros.
O aporte, liderado pelo conglomerado holandês Prosus, também teve a participação de pesos pesados como Deutsche Telekom, SoftBank Vision Fund 2, Tencent, Dragoneer, Left Lane Capital e Coatue, reforçando o bolo de aproximadamente US$ 669 milhões já captados pela companhia austríaca.
Segundo destacou o CEO da empresa, Felix Ohswald, para o TechCrunch na época da mais recente rodada, o plano da companhia é intensificar sua presença internacional. Além da entrada na América do Sul, a edtech abriu escritório no México e Canadá, e também está iniciando sua investida nos EUA. Atualmente, a companhia conta com 19 escritórios internacionais.