Em bom mineirês, dar trela significa dar confiança, dar atenção. E quem não dá atenção a um desconto que pode chegar a 50% na hora de fazer as compras? Nem a classe A resiste. Talvez por isso mesmo a startup Trela tenha chamado a atenção da elite do venture capital e fechado uma série A de US$ 25 milhões liderada pela SoftBank.
A rodada ainda contou com a participação da Kaszek, da General Catalyst, da Y Combinator (W21) e do fundador da Ualá, Pierpaolo Barbieri, que já tinham entrado na captação seed de abril/21. Na época, ela ainda se chamava Zapt. O rebranding para Trela aconteceu no mês passado (fevereiro/22) com apoio do estúdio Rebu.
A proposta da startup é unir vizinhos na hora de fazer compras e assim conseguir descontos polpudos que podem variar de 20% a 50%. Para quem vende, o modelo é interessante porque permite tirar elos da cadeia e ganhar mais vendendo diretamente para os consumidores.
Sim, parece muito o modelo de compra coletiva que ficou famoso – e depois implodiu – no começo da década passada. Mas é na verdade a modalidade de social commerce da chinesa Pinduoduo e do unicórnio brasileiro Facily. A diferença é que a concorrente brasileira tem um foco em consumidores da classe C. Já a Trela está de olho na venda de produtos premium para as classes A e B.
“É impressionante como ninguém olhou para esse público. São 50 milhões de pessoas que respondem por 50% do volume do varejo de alimentos e de food service. É o maior mercado de todos. E não é verdade que não é um público sensível a preço. Todo mundo gosta de ter alguma vantagem, que se sentir inteligente na hora das compras”, diz Guilherme Nazareth, cofundador e presidente da Trela. Os outros fundadores são João Jönk e Guilherme Alvarenga.
Ele acrescenta que produtos voltados às classes A e B geralmente têm cadeias de distribuição mais longas e também têm margens mais altas, o que gera oportunidades. “É difícil vender farinha mais barata que o Atacadão. Exigiria uma escala absurda ou subsídios. E o que a gente quer é criar valor para a cadeia”, reforça.
Apesar de estar aberta à entrada de grandes marcas, a Trela tem buscado criar uma rede de produtores de médio porte. Mas o espectro é amplo. “Temos gente com receita de R$ 100 mil por ano e também de R$ 400 milhões por ano”, diz o fundador.
Origem e funcionamento
A companhia nasceu em 2020 na cidade de Nova Lima, em Minas Gerais, e hoje opera em Belo Horizonte e São Paulo. Até o fim do ano, o plano é iniciar operação em 3 a 5 novas cidades. No site, a Trela já coloca Porto Alegre e Rio de Janeiro como “em breve”.
Para participar das ofertas, o condomínio tem que ter no mínimo 60 unidades e estar em uma região atendida pelo aplicativo para poder ter seu grupo criado. Quando o mínimo de 25 compradores é atingido, ele passa a funcionar e recebe 3 ofertas por semana em categorias como hortifruti, carnes, vinhos, frutos do mar e queijos e grãos.
Se os vizinhos decidirem pela compra e o fornecedor também topar, os consumidores recebem o produto em casa. A entrega é gratuita com logística por conta do vendedor. “O custo é baixo porque todo mundo mora junto, só tem um local de entrega”, diz Guilherme.
Um dos use of proceeds para a série A, inclusive, é exatamente internalizar a parte da logística. Em BH, a Trela já atua com a oferta direta .
Use of proceeds
Além da logística própria e da expansão geográfica, o marketplce tem mais 2 destinos para os recursos que acabam de ser captados.
Um deles é a melhoria do produto. Segundo Guilherme, está nos planos melhorar a experiência de compra com a opção de compra em um clique e também criar um aplicativo de entregas voltado aos fornecedores.
Outro ponto é acelerar a aquisição de clientes. Desde o lançamento a startup tem ganhado usuários de forma orgânica, sem investimento em publicidade online. Guilherme não abre a base atual, mas diz que expansão tem disso a um ritmo de 45% ao mês desde abril/21, pretende fechar 2022 com um crescimento de 80 vezes na comparação com o ano passado.
Para suportar essa projeção, a equipe que hoje conta com 33 pessoas, chegará a 100. De acordo com Guilherme, a Trela tem unit economics positivo e lucro bruto – mas como ainda está em fase de expansão, queima caixa e a última linha fica no negativo.