Quando se fala em saúde preventiva, muitos pensam em plano de saúde. A healthtech gaúcha hygia saúde está chamando a atenção do mercado com uma ideia menos ortodoxa. Combinando uma plataforma de saúde preventiva e serviços que mais parecem o de uma fintech, a companhia conquistou investidores internacionais e parceiros conhecidos do público, como o jogador de futebol Dani Alves e o investidor/influencer Joel Jota.
Segundo o cofundador e CEO Maikol Parnow, o plano da hygia é ser um player que reúne o melhor de diversos mundos – a segurança dos planos, a acessibilidade de uma clínica popular, e a flexibilidade financeira de um cartão de benefícios – mas sem ser nenhum deles. “Pensamos uma forma de levar valor a todos os envolvidos nesta cadeia – médicos, usuários, clínicas e empresas”, pontua Maikol, em entrevista ao Startups.
A empresa opera simultaneamente em duas frentes: B2B e B2C. Para os pacientes, a hygia desenvolveu um app dedicado, que através de um questionário gratuito avalia o perfil e estabelece um score de saúde de cada pessoa, levando em conta quesitos mentais, nutricionais físicos e também de saúde do usuário. “Também é possível subir resultados de exames como o de sangue, que também ajudam a compor o score”, explica Maikol.
Além disso, o usuário pode solicitar um teste genético (pago à parte), que aumenta a precisão da avaliação, trazendo paineis adicionais que orientam o usuário em questões como alimentação, exercícios, restrições farmacêuticas e suplementação nutricional. Tudo isso é cruzado para aprofundar o perfil de caa usuário dentro da plataforma da hygia.
Para validar o método, a companhia se respaldou em diversos estudos e pesquisas globais, contando também com uma equipe de médicos reforçando a parte de inteligência. Aliás, um dos sócios da empresa é um médico – Alexandre Parma é cofundador – e o CEO, por sua vez, tem a medicina na família. Os tios de Parnow trabalham no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e a mãe foi uma das técnicas de enfermagem que participou da primeira equipe de transplante de pulmões na América Latina.
A camada B2B2C
A partir de todas as informações levantadas, entra a estratégia da hygia com as empresas, com uma nova camada: a de predição. “Com os dados coletados, eu posso prever que um paciente tem um risco alto de desenvolver diabetes no futuro. A partir disso posso ajudar a reverter o quadro, através de ações e mostrando como isso impacta os produtos de saúde que pode adquirir”, pontua Maikol.
Para as empresas que utilizam a plataforma da healtech, para cada funcionário é emitido um relatório de quinze páginas, inclusive trazendo informações de saúde mental. “Em um programa que rodamos recentemente numa empresa, detectamos que 25% dos colaboradores estavam com risco de burnout”, aponta o CEO. “Outra coisa que detectamos nos questionários é que quase metade desta parcela estava com problemas financeiros, ou seja, saúde financeira afeta a saúde mental e até física”.
De acordo com o executivo, a solução hoje está atendendo diversas empresas que não possuem os recursos para bancar planos de saúde para os funcionários, ajudando-as a agir antecipadamente aos riscos e oferecendo serviços complementares como seguros e serviços conveniados. “Em empresas que já possuem plano para seus colaboradores, estamos ajudando a reduzir o valor dos planos e a sinistralidade, a partir dos dados”, completa Maikol.
É por conta destes aspectos que a hygia se autodenomina uma finhealth. “No final das contas, para muitos um plano de saúde é um produto financeiro, e não de saúde. O medo das pessoas não é o de ficar doente, e sim de ficar doente e não ter como pagar o tratamento”, dispara Maikol. “Na nossa plataforma, promovemos a qualidade de vida como uma forma de economia”, afirma.
Com a proposta, a empresa fechou 2021 com cerca de R$ 1,2 milhão de faturamento, e hoje atende cerca de dez empresas, a maioria concentrada no Rio Grande do Sul. O plano é aumentar esta base em até dez vezes até o final do ano. Como fazer isso? Com investimento e uma injeção de star power.
Investimentos de renome
Mesmo com pouco tempo de vida – a companhia foi fundada em 2020 – a hygia já chamou a atenção de alguns nomes conhecidos. No ano passado, a companhia foi uma das dez empresas selecionadas para aceleração no Google For Startups, e no mês passado levantou 3 milhões de euros (cerca de R$ 16 milhões), aportados pela holding Amad, criada por nomes como o brasileiro Daniel Nepomuceno, ex-presidente do Atlético Mineiro, e o espanhol Pedro Vaquer, sócio da Solatio Energia. “Claro que vamos também investir em produto, aprimorar produto, mas nosso foco no momento é go-to-market mesmo”, afirma Maikol.
Para dar este “gás” em exposição, a companhia trouxe para seu quadro de conselheiros o jogador de futebol Daniel Alves e o ex-nadador Joel Jota, que hoje é investidor e influencer. Ambos entraram como sócios, mas também se comprometeram a “emprestar” suas imagens para ajudar no crescimento da marca. No caso de Dani Alves, teve até um pouco de sorte: a cunhada do sócio Alexandre Parma é secretária do jogador, que comprou a ideia e trouxe Joel Jota para o negócio junto.
“Conseguimos trazer pessoas capazes de abrir mais portas, para ter um crescimento acelerado e assertiva. No caso do Daniel Alves, faz todo o sentido para nossa proposta, já que ele é uma figura pública que transmite a imagem de saúde, jogando futebol em alto nível aos 39 anos de idade”, aponta Maikol.
Apesar de tudo, a hygia não está sozinha no mercado das healthtechs com a ideia de saúde preventiva. Nomes como Gen-T (com foco em mapeamento genético) e Smart Doctor (focada em telemedicina), empresa peruana que chegou este ano no Brasil, estão todas, à sua maneira, buscando uma fatia junto aos RHs com suas propostas de valor.
“Temos competição, mas não é um oceano vermelho ainda, ainda mais levando em consideração todo o mercado brasileiro. Estamos falando de um país em que apenas 20% dos cidadãos têm plano de saúde, então há muita oportunidade para todos”, finaliza Maikol.