Com investimento inicial de R$55 milhões, a proptech recifense Yolo lança hoje (10) seu primeiro empreendimento, que propõe o modelo de moradia compartilhada com o uso intensivo de tecnologia para a gestão de comunidades.
Inspirada no aumento da adoção de moradia como serviço entre parte da população em grandes capitais na Europa, a Yolo mira a geração Millennial, entre 25 e 40 anos de idade, como principal público-alvo. O nome da startup é um acrônimo em inglês que ganhou força desde o surgimento da pandemia – de que “só se vive uma vez”, portanto pessoas deveriam fazer o que gostam.
O trio de irmãos por trás da startup é liderado pelo engenheiro Diogo Nogueira, CEO da nova empresa e da incorporadora responsável pelos empreendimentos. Os outros sócios são Italo Nogueira, empreendedor do setor de tecnologia e presidente da Federação Assespro e Yves Nogueira, investidor e também empreendedor serial, com um histórico que inclui saídas como a lawtech Kurier, vendida em 2020 para o grupo canadense Constellation Software.
Em conversa com o Startups, Yves falou sobre a estratégia e diferenciais de mercado da startup, que pretende construir seu primeiro empreendimento no histórico Bairro do Recife, na região do parque tecnológico Porto Digital.
“Temos nos provocado desde 2015 sobre o que poderia ser feito de diferente no mercado de construção civil. Percebemos que, apesar de ter muitas coisas boas acontecendo, este setor ainda inova muito pouco”, diz o cofounder, acrescentando que a ideia de criar a Yolo surgiu depois de experiências de Diogo em Londres, Amsterdã e Paris para entender o funcionamento do conceito de co-living. A startup também encomendou um estudo de Christian Schmitz e Gui Pedrix, consultores especializados em co-living, para mapear as tendências de mercado e informar o processo de design thinking.
A escolha de lançar o projeto em Recife vem de encontro a estratégia do Porto Digital, que inclui a criação de espaços de moradia no bairro histórico da capital pernambucana. “Não estamos lançamento isso agora por acaso: estamos acompanhando um movimento muito forte de revitalização do bairro do Recife, e temos a oportunidade de surfar nessa onda em que o município entende que precisa olhar com mais carinho para esta região da cidade”, pontua.
Os números
A primeira unidade Yolo será construída em um antigo galpão de armazenamento de alimentos no centro histórico da cidade, com vista para o rio Capibaribe e para o oceano Atlântico. Serão 7 mil metros quadrados divididos entre 225 apartamentos e uma área comum com 4mil metros e 14 lojas. Apesar de ainda precisar da autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a startup estima que poderá começar a construção no início no segundo semestre deste ano e concluir a obra em 24 meses.
Os fundadores estão investindo 20% do capital inicial com recursos próprios. A startup conta com um conselho de administração com nomes como Eduardo Gouvêa, ex-presidente da Cielo, Brunno Bagnariolli, sócio da Mauá Capital, gestora com mais de R$ 6 bilhões sob gestão, e Jayro Poggi, ex-Odebrecht e Iron House, o braço de real estate do grupo pernambucano Cornélio Brennand.
A expectativa é que alguns dos nomes do conselho também contribuam com cotas mínimas de R$1 milhão cada para compor o restante do capital para o projeto inicial. Em paralelo, a Yolo está fazendo pitches para um misto de investidores do mercado imobiliário e fundos de venture capital, em um esforço apoiado pela Multinvest. Yves espera fechar estes acordos nos próximos 90 dias.
O empreendedor conta que, durante um pitch recente, um investidor usou a expressão “proptech segura” para descrever o modelo de negócio da startup. “Se der PT [perda total] na platforma, as unidades habitacionais são a garantia: por isso estamos nos posicionando como uma proposta que é interessante e inovadora, mas também é segura [para os investidores]”, pontua.
O diferencial
A novidade da Yolo em relação a outras startups atuantes do segmento de moradia como serviço é o elemento de comunidade enfatizado pela tecnologia, segundo Yves. “A grande diferença é a capacidade de criar e gerir comunidades”, ressalta o empreendedor. Ele acrescenta que a plataforma proprietária da Yolo, que será desenvolvida e testada durante o tempo da construção da unidade de Recife, terá um papel central no modelo de negócio.
“Nossa jornada na área de tecnologia também conta muito: em um mercado em que os empreendedores são do meio imobiliário e da construção civil apenas, queremos trazer a inovação tecnológica para o centro do conceito da Yolo, incluindo abordagens da Indústria 4.0 e Internet das Coisas, além de [facilidades possibilitadas pelo avanço] do Open Banking”, ressalta.
Além de fazer a gestão integrada dos apartamentos – que contarão com itens como eletrodomésticos conectados e fechaduras eletrônicas – a plataforma terá a função de “aprender” as preferências de estilo de vida dos moradores, que poderão optar por estadias de curta ou longa duração. Estas informações devem informar as demandas para a utilização das áreas comuns, que devem abrigar eventos como experiências culinárias e shows.
“Também é através desta plataforma que os community managers [dos empreendimentos da Yolo] vão cuidar da jornada dos clientes, antes, durante e depois da estadia”, diz Yves, ressaltando que a função do community manager – uma espécie de zelador reinventado para o conceito de co-living – será a função mais importante dos empreendimentos da startup.
A Yolo usou os cases de proptechs como a QuintoAndar como benchmark como meta de múltiplos a serem alcançados nos próximos anos. “Admiramos e acompanhamos a jornada de empresas como a QuintoAndar, mas o que nos diferencia em relação a eles é o foco na gestão de comunidade”, pontua Yves, acrescentando que parcerias com players de aluguel, com o intuito de melhorar a experiência de que aluga pelo viés de comunidade são absolutamente possíveis”.
Colaboração
Ao longo dos próximos 12 meses, Yves espera ter fechado acordos com os fundos de investimento que vão financiar a construção de pelo menos 5 novas unidades Yolo em diversas capitais do Brasil. Após a entrega do primeiro projeto em Recife, a ideia é construir mais uma unidade na mesma cidade para atender os Millennials que atuam em empresas do Porto Digital.
Segundo Yves, possibilidades incluem unidades menores em casarões reformados do centro histórico. O plano também contempla uma expansão para cidades do nordeste que concentrem polos de empreendedorismo, como Salvador e Fortaleza.
Além disso, outros polos em estados como Santa Catarina estão no radar da empresa, que prevê uma expansão internacional em cerca de 5 anos. O roadmap também contempla unidades menores do que o projeto inicial, e a gestão de unidades de terceiros, assim como fazem outros players de mercado, como a Housi.
“Vamos avaliar qualquer cidade que tenha [hubs de empreendedorismo]. Precisamos estar em locais onde está o público que vive em comunidade,” diz o empreendedor. Por outro lado, Yves ressalta que esse processo passa pela colaboração com os ecossistemas locais.
“É preciso ter um adensamento desse tipo de público, e não adianta a gente chegar com uma proposta, por mais bacana que seja, e fazer isso de forma isolada. A colaboração é comum nos ecossistemas de inovação e o papel de instituições que apoiam os ecossistemas locais, como o Porto Digital, é super importante para o sucesso desse tipo de negócio”, conclui.