O centro de inovação independente Onovolab, de Anderson Criativo e Leandro Palmieri, iniciou um movimento de expansão para cidades do interior e capitais brasileiras em parcerias com organizações do setor privado.
Criado em 2017, o Onovolab teve início em uma antiga tecelagem em ruínas na cidade de São Carlos (SP). O espaço restaurado em uma área de 21 mil metros quadrados abriga mais de 400 profissionais entre seus residentes, que incluem startups da cidade e grandes empresas, como o banco Santander, Votorantim e Magalu, assim como a Movile e a construtech Ambar. Mais recentemente, a empresa abriu uma segunda unidade em um shopping center em Indaiatuba (SP), que será inaugurada em maio deste ano.
O novo momento de expansão, adiantado com exclusividade para o Startups, é impulsionado por um investimento de R$ 25 milhões da cooperativa de crédito Sicoob Credicitrus. Com mais de R$ 8,7 bilhões em ativos sob gestão, a cooperativa tem uma rede de agências físicas em mais de 110 cidades em São Paulo e Minas Gerais. Cliente do Onovolab em projetos de inovação desde 2019, a companhia tem avançado em projetos em áreas como blockchain, inteligência artificial e automação robótica de processos em parceria com o centro nos últimos anos.
Segundo o CEO da companhia, Walmir Segatto, o investimento feito pelo Instituto Credicitrus na expansão do Onovolab foi motivado pela busca por inovação para trazer valor para os mais de 160 mil sócios da cooperativa e acelerar crescimento. Além disso, a expectativa é que a parceria também atenda as metas da companhia nas frentes de ESG (meio ambiente, social e governança).
“Quando vimos a iniciativa do Onovolab, pensamos que poderíamos ser um agente propulsor de transformação social, com o aspecto de inovação se tornando ainda mais presente nos pilares existentes de atuação do Instituto. Tínhamos essa vontade, mas não o know-how [de inovação],” diz o executivo. “Não vamos alcançar somente os sócios, mas também as sociedades onde estamos presentes.”
Sob o acordo, o centro de inovação ocupará prédios inteiros da cooperativa, como um imóvel de mais de 3 mil metros quadrados, em Ribeirão Preto. O foco na cidade será inovação voltada aos segmentos de agronegócio, saúde e inteligência artificial, além de inovação aplicada ao cooperativismo, com uma cooperativa de startups entre os projetos no pipeline. O prédio passará por uma reforma e deve ser inaugurado às vésperas da Agrishow, feira do setor de agro que acontece em abril.
A escolha de Ribeirão segue um estudo feito pelo Onovolab, que incluiu um mapeamento encomendado à startup de inteligência geográfica Datlo, de Maringá (PR), que buscou definir os principais polos universitários do Brasil, já que a proposta de valor do centro está diretamente ligada ao acesso à academia. O resultado do estudo, que levou em conta uma série de outros fatores econômicos, foi uma lista de cerca de 50 centros em território nacional, que orientou o shortlist de cidades que o centro entrará nos próximos meses.
Transformando cidades
Além da nova unidade em Ribeirão, a parceria com a Credicitrus também prevê a inauguração de um centro em Bebedouro (SP), cidade que abriga a sede da cooperativa, em um prédio que tinha sido comprado para ser um estacionamento. Esta unidade terá um papel diferente: segundo Anderson, o objetivo é fazer com que o Onovolab cumpra um papel de transformação da comunidade local.
“Bebedouro é uma cidade muito menor, que não tem a mesma tradição em academia de São Carlos, nem a relevância econômica de Ribeirão. Apesar de ter a força da Credicitrus empurrando esse movimento, o que queremos demonstrar é como um centro de inovação impacta uma cidade pequena”, diz Anderson, em referência a aspectos como talentos do interior, que não raro acabam mudando para grandes centros urbanos por falta de oportunidades. “A ideia é mostrar que, quando se cria o ambiente, os talentos são atraídos – e ficam.”
Segundo Walmir, da Credicitrus, o investimento não está limitado às duas unidades já fechadas, e que as empresas podem replicar o modelo de Ribeirão em centros maiores do interior, e a abordagem de Bebedouro em cidades menores. “O que é escalável pra nós hoje ainda não tem medida”, pontua o executivo. “Essa parceria nos dá velocidade: um desenvolvedor que custa um valor para nós pode ganhar o mesmo em uma startup operando no Onovolab, mas este profissional está sendo provocado a fazer isso [em contato com] vários parceiros. Vale muito a pena para nós, como compradores dessa inovação.”
“Além de inovar no core bancário, há também o valor para o cooperativismo no ambiente do Onovolab. Vamos trabalhar nesse ponto, em exponencializar o resultado da inovação para os associados. Todo mundo poderá ter acesso a isso”, diz o executivo.
O projeto de Indaiatuba, por outro lado, acontece em um terceiro tipo de contexto, segundo Anderson. Além de ser um movimento estratégico do Onovolab para entrar na região de Campinas e acessar talentos da Unicamp, a presença do Onovolab é vista pela prefeitura como meio de acelerar a empregabilidade e empreendedorismo para jovens formados por fundações da prefeitura.
“Estamos entrando em Indaiatuba de uma forma totalmente diferente de quando começamos em 2017 – depois de 4 anos, temos o poder público muito interessado em como podemos dinamizar cidades”, diz o empreendedor, que com seu sócio recebeu o título de cidadão honorário de São Carlos este ano, por serviços prestados à economia da cidade.
Para além da parceria com a cooperativa, o Onovolab está em tratativas com outras grandes empresas interessadas em ancorar os centros de inovação. Segundo Anderson, as negociações estão em estágios avançados nas cidades paulistas de Araraquara, Bauru, Catanduva, São José do Rio Preto, além de Jundiaí e Sorocaba. Além disso, o centro de inovação deve começar uma expansão para outras cidades fora do estado de São Paulo, com Chapecó (SC), Porto Alegre (RS), Londrina (PR) e Recipe (PE) como cidades prioritárias.
A oportunidade da crise
A expansão do Onovolab subverte a incerteza sobre o futuro dos centros físicos de inovação trazida pela pandemia, segundo Anderson, que compara a crise causada pelo vírus em seu segmento ao impacto sofrido pelas companhias aéreas depois do 11 de setembro: “A Covid-19 inicialmente trouxe muitas dúvidas sobre o modelo de negócio baseado em espaços físicos. Acontece que durante os últimos meses, dobramos a ocupação física, com clientes como Santander chegando, e entendemos que era o momento de acelerar a expansão.”
Segundo Anderson, o impacto sentido por centros físicos das cidades no interior durante a pandemia foi menos severo do que nas capitais. “Buscamos uma alternativa entre o ‘fique em casa’ e o outro extremo de ‘não tem nada acontecendo’. Foi nesse meio termo que trabalhamos, continuamos disponíveis e silenciosamente, retomamos as negociações”, acrescenta. “A profecia do pior cenário possível não se concretizou porque pensamos diferente.”
Este resultado também se deve à intensificação do componente online da prestação de serviços do Onovolab, que atende seus clientes, com soluções que acessam pools de conhecimento de universidades locais e startups, além de empresas menores e fornecedores de tecnologia. “Somos um conector entre grandes empresas, startups e a academia, e usamos essa inteligência coletiva para resolver os desafios de inovação dos nossos clientes”, pontua.
“Em países como Israel, vemos que a hélice tripla [em que governo, empresas e academia se unem efetivamente para inovar] tem como miolo o governo. Aqui no Brasil, o que estamos propondo é ser o miolo da hélice, sendo uma iniciativa privada. Não há referência de uma rede como essa no Brasil, muito menos que tenha começado como uma startup”, diz o CEO do Onovolab.
Além disso, o Onovolab tem a característica de ser um produto da crise, diz Anderson, o que confere resiliência adicional ao projeto. “Para nós, a crise é um momento de oportunidade, por conta da disponibilidade de imóveis em situação delicada e muitas das conversas que estamos retomando agora começaram lá em 2017”, pontua Anderson. “Queremos fazer a expansão agora e nos preparar para receber essa demanda por inovação das cidades quando a pandemia estabilizar.”
Para Walmir, da Credicitrus, a aposta da cooperativa em apoiar o desenvolvimento dos centro de inovação também vem de encontro a necessidade da vida em comunidade em espaços físicos. “A pandemia confirmou o fato de que somos gregários e não seres isolados”, pontua o executivo.
“Em um ambiente de inovação, é muito claro que as pessoas precisam estar se encontrando e vivendo, respirando isso: o desafio atual é equilibrar a presença física e digital. Mas a vontade, a aspiração, a formação, o exemplo para inovar não são formados em ambientes somente digitais: muito pelo contrário,” finaliza.