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Com ‘Netflix’ de notícias, Headline quer fomentar jornalismo independente

Ideia é criar uma espécie de Netflix de notícias. Com uma assinatura, o internauta tem a comodidade de acessar diferentes tipos de conteúdo

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Quem lê tanta notícia? Bom, se você está lendo esta daqui, é um sinal de que bastante gente ainda busca fontes confiáveis para se informar e entender o que está acontecendo no mundo. O jornalismo mantém seu papel fundamental na sociedade.

Se parte do problema está resolvido, a outra metade ainda carece de solução: como sustentar a produção de conteúdo. Diversos modelos de negócios têm sido testados nas últimas décadas, mas ainda não uma resposta definitiva.

O jornalista Andrei Netto quer colocar o ovo de pé. Pelo menos no lado do jornalismo independente, com a newstech Headline.

Netflix de notícias

A ideia é criar uma espécie de Netflix de notícias. Com uma assinatura, o internauta tem a comodidade de acessar diferentes tipos de conteúdo. Quem escreve, ganha acesso a uma estrutura tecnológica que pode ser mais robusta que a sua, escala na divulgação e garante um fluxo de remuneração – baseado no volume de acessos ao seu material. “É uma mistura de Médium com visão de Netflix e infraestrutura de Spotify. A ideia é trazer para o jornalismo a ideia de plataforma”, diz Andrei.

A Headline também vai atuar com uma agência de notícias, licenciando conteúdo para que outros publiquem (o famoso syndication). Não está prevista, por enquanto, a remuneração com a venda de publicidade.

Em algum momento no futuro ela ainda pretende atuar no modelo de software como serviço, licenciado para outras publicações, mesmo que elas não estejam debaixo do seu guarda-chuva de publicações, o sistema de gestão de conteúdo (CMS) que ela mesma desenvolveu.

A proposta é oferecer opções que ajudem publicações desde seu estágio mais inicial, como um jornalista solo, por exemplo, até as demandas mais avançadas. “[O veículo] Não vai ter que sair do Headline em algum momento”, diz Andrei. A Headline terá produção de conteúdo própria, mas em áreas que não sejam competidoras com a especialização de seus parceiros.   

O conceito lembra muito com o que nomes como Substack e Médium têm se proposto a fazer. Mas esses players são mais abrangentes, voltados a produtores de conteúdo de forma geral, não apenas às organizações jornalísticas, que têm necessidades específicas. Eles também não têm a pegada de agregação e divulgação dos conteúdos como um portal de notícias. É cada um por si.

Em desenvolvimento há 2 anos, a Headline acaba de levantar uma rodada pre-seed de 500 mil euros (cerca de R$ 3 milhões). O investimento foi feito pelo family office Santos Vision, do brasileiro Helio Santos, presidente da empresa de desenvolvimento de softwares industriais Safekick.

A captação se soma a outros 400 mil euros que ela já tinha levantado com investidores anjo e inciativas de fomento como o Digital News Initiative (DNI), do Google. Em novembro, a newstech levantou 150 mil euros com o Banco Público de Investimento da França (Bpifrance).

Nascimento e lançamento

A conexão europeia está relacionada à origem da Headline. A companhia nasceu em Paris, onde Andrei mora desde 2006, tendo atuado como correspondente do Estado de S. Paulo por mais de um década.

Assim como todo jornalista faz quando se encontra com outros jornalistas, ele ficou muitos anos criticando os patrões e lamentando os rumos da profissão. Até que um dia resolveu mudar o jogo criando algo novo.  

A ideia inicial era criar uma nova publicação. Ao perceber que as dores delas eram as mesmas, a avaliação foi que o melhor caminho a ser seguido não era criar mais um negócio que fosse ter os mesmos problemas. Mas criar algo que pudesse ajudar todo mundo a resolver essas questões.  

Embarcaram no projeto Deborah Berlinck (ex-O Globo), Mario Camera (correspondente independente na Europa), Danilo Rocha Lima (ex-CBN e France Télévisions), Felipe Paiva (ex-Rua/Mídia Ninja) e pelo francês Jean-Baptiste Bouvier, diretor financeiro. Mais recentemente se juntou à equipe o brasileiro Joaquim Santos Maia, que vinha desenvolvendo por aqui um projeto semelhante, a NAV.

A produção de conteúdo já está acontecendo nas redes sociais com uma equipe de jornalismo própria. O objetivo é ter o serviço no ar oficialmente no fim de janeiro. A estreia vai acontecer no Brasil, mas a ideia é apostar na internacionalização o mais rápido possível. “O Brasil é um mercado grande, mas acreditamos que o potencial seja global”, diz Andrei.