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Apostando no crescente mercado de criadores de conteúdo no Brasil, a Orelo está evoluindo. Nascida com a proposta de empoderar e remunerar creators, a startup está desenvolvendo uma plataforma para atender todas as necessidades destes profissionais. Para impulsionar estes planos, ela planeja buscar capital e fazer aquisições, ainda este ano.

Lançada em julho de 2020, a Orelo é liderada por Luiz Felipe Marques, jornalista que nos últimos anos vinha atuando na área de marketing em grandes empresas e mais recentemente, fez parte do founding team da Yellow, e posteriormente, da Grow Mobility. Munido dos aprendizados na finada empresa de mobilidade, sobretudo na área de produto, o hoje empreendedor buscou problemas para resolver que fossem relacionados ao seu repertório profissional até então.

“Pensei na minha trajetória no mundo de de jornalismo, cultura e arte, e o que eu queria fazer. Neste processo, meu primeiro insight foi sobre como é difícil para um produtor de conteúdo ganhar dinheiro, ainda mais se se este criador é independente”, relata Luiz, em entrevista ao Startups. “A Orelo vem para tentar mudar atual o cenário de produção de conteúdo independente no Brasil.”

A Orelo iniciou suas operações endereçando as necessidades de criadores no mercado de podcasts, com uma proposta de remuneração com base nas assinaturas do serviço. O escopo foi ampliado desde o fim do ano passado e a plataforma passou a abraçar criadores de conteúdo operantes em outros tipos de mídia.

“Começamos olhando para a realidade dos produtores de podcast, que era a mídia que mais crescia em termos de consumo e também era onde o produtor tem mais problemas [de monetização]. A cada ferramenta que trouxemos, o efeito na cadeia foi imediato: conseguimos trazer muito valor em pouco tempo para os criadores”, diz o fundador.

Através de sua operação de agregador de podcasts, a Orelo hoje conta um catálogo de mais 1 milhão de títulos incluindo conteúdo original. Além disso, a startup tem mais de 2 mil creators cadastrados, produzindo conteúdo em formatos além de áudio, como texto e até workshops. Criadores presentes na plataforma incluem os jornalistas Xico Sá, Marina Person e o autor afrofuturista Ale Santos, além de programas como o podcast Petit Journal, que tem foco em economia e política internacional, e o podcast sobre basquete Café Belgrado.

Rodada no horizonte

Segundo Luiz, a estratégia da Orelo vem de encontro a constatação de que fãs de programas não querem consumir só podcasts. “Boa parte dos fãs também querem uma newsletter e também querem conversar, fazer perguntas, interagir mais com os creators. A partir destes movimentos, os próprios criativos foram nos pedindo mais recursos”, aponta.

A plataforma foi então incrementada com diversas funcionalidades, que incluem a possibilidade de criação de newsletters e que criadores lancem suas próprias campanhas de arrecadação, além de fóruns. Com a evolução do modelo e o aumento do volume transacionado na plataforma (que mais que dobrou nos três primeiros meses de 2022) e creators ganhando mais dinheiro, a Orelo deixou de repassar uma porcentagem da assinatura para os produtores. Desde o ano passado, a startup passou a cobrar uma taxa de 9% dos criadores sobre a receita que geram através do site.

Luiz Felipe Marques, fundador e CEO da Orelo

No roadmap da startup para os próximos meses está o lançamento de um recurso de vídeos – tanto para hospedagem quanto para lives – além de melhorias em frentes como vendas de produtos físicos e digitais. Além disso, a empresa está de olho em possíveis aquisições de empresas atuantes em nichos que podem contribuir para a sofisticação da plataforma, bem como a concentração do mercado.

Os planos de ser o one-stop-shop para criadores de conteúdo a ganharem dinheiro com suas audiências serão apoiados pela primeira rodada institucional da empresa. A Orelo conta com R$ 5,5 milhões levantados com anjos que aportam smart money. Neste rol estão Pedro Tourinho, empresário de artistas como Anitta; Renato Mendes, cofundador do multifamily office Oikos; e Ariel Lambrecht, fundador da 99 e Yellow, que atualmente está desenvolvendo o marketplace Mara. A startup agora planeja levantar um aporte de cerca de US$ 10 milhões em até seis meses.

“Pelo fato de a cultura de creators ser muito nova, queríamos provar a tese e montamos o time e o captable com pessoas que podem contribuir para o retorno econômico. Mas estamos chegando em números relevantes muito rápido: queríamos ter pelo menos 40% de crescimento mensal e agora estamos batendo essa meta com folga”, frisa o empreendedor.

Mesmo sendo uma relativa novidade, a creators economy tem tido um crescimento relevante, o que deve contribuir para chamar a atenção dos fundos. Estimativas frequentemente citadas por fundos especializados em creators e passion economy, como Atelier e Variant sugerem que o segmento vale aproximadamente US$ 100 bilhões, e que o Brasil representa cerca de 20% deste total.

Também conta ponto o volume transacionado por estes criadores: a fintech de pagamentos Stripe diz ter movimentado mais de US$ 10 bilhões neste mercado ao redor do mundo, e aponta um crescimento de 170% ao ano no Brasil. “Ninguém duvida que [a creators economy] é a bola da vez. O que falta é um player que concentre a oferta, e lidere o discurso”, aponta.

À medida em que a proposta de valor da Orelo evolui, uma vantagem é não ter mais que explicar a fundos sobre uma possível concorrência com o Spotify, diz o CEO. “Antes sempre tínhamos que dizer que não competimos com o Spotify, que leva uma audiência de centenas de milhares de pessoas para sua plataforma, mas não paga nenhum produtor de conteúdo. Queremos ser muito bons para criadores: possibilitar a monetização para eles é o que nos diferencia.”

O valor de fãs verdadeiros

Criar e manter um podcast de sucesso não é uma tarefa simples. O criador precisa de cerca de sete serviços distintos para colocar o show na rua, que incluem um serviço de hospedagem de conteúdo, e um canal de distribuição, que são os agregadores. Além disso, precisa recorrer a crowdfunding para levantar recursos para manter o projeto, além de um serviço de newsletter. Um criador pode gastar até US$ 300 por mês nestes serviços, segundo Luiz.

“Além de um custo significativo [os diversos componentes nos bastidores de um podcast] geram um trabalho sem fim para o criador. Este é o desafio que estamos tentando encaminhar, já que existem centenas de ferramentas, cada uma cuidando de um pedaço da cadeia”, diz o CEO da startup. Ele acrescenta que profissionais da área também enfrentam toda sorte de problemas, como administrar planilhas de dados de apoiadores, e evitar vazamentos de dados de acesso a episódios exclusivos para assinantes.

As dificuldades com remuneração e em administrar as diversas tarefas do dia a dia do creator não atravessam somente podcasters, diz Luiz, que já tinha a intenção de atrair mais produtores de conteúdo desde o início da Orelo. “A partir das nossas conversas diárias com criadores, recebemos muitos pedidos de ferramentas de engajamento e monetização, e vimos que a coisa no Brasil não é tão verticalizada”, pontua Luiz.

“Na maioria dos projetos, o produtor tem um podcast, que é o core, e também uma newsletter, um grupo no WhatsApp e às vezes também faz merchandising, divulga o nome dos apoiadores no programa; esse criador precisa ter muitas contrapartidas para manter esse público engajado e foi aí que vimos que o [público endereçável] era muito maior, tanto em entregas de outros formatos de mídia, quanto em termos de ferramentas de engajamento de público”, ressalta.

Apesar dos desafios desta indústria incipiente, criadores de conteúdo estão percebendo que é possível “viver de internet”. Citando a teoria de Kevin Kelly, ex-editor da revista Wired e atual guru da economia digital – de que nem todo mundo precisa escrever um best seller, mas pode se manter como artista se tiver pelo menos mil fãs verdadeiros – Luiz ressalta que criadores brasileiros estão tendo sucesso em nichos, como true crime, e ganhando cerca de R$ 10 mil por mês.

“A internet possibilita que você não necessariamente precise estar no mainstream e ter que buscar uma audiência enorme para ser relevante. Hoje, tendo 1,000 pessoas contribuindo R$10 por mês, é possível ganhar uma grana razoável sem precisar ir para o estrelato e buscar patrocínios de marcas que ainda querem audiências na casa dos milhões”, frisa o CEO.

Luiz acredita que esta percepção das marcas também está mudando, em relação ao valor dos criadores de nicho. “Departamentos de mídia são muito focados em quantos impactos terão [ao investir em um produtor de conteúdo relativamente menor]. Há uma mudança em curso, mas também um caminho pela frente nesse sentido”, argumenta.

À medida em que a Orelo quebra paradigmas, sobretudo entre criadores, Luiz prevê que a creators economy deve ganhar ainda mais força neste ano no Brasil e em países latinos – inclusive, a empresa prevê uma expansão internacional para atender criadores de outros mercados na região.

“A América Latina é o continente que mais consome redes sociais e passa tempo online no mundo, e ama influenciadores e criadores, com enormes oportunidades”, aponta. Mas ainda há trabalho a fazer para convencer profissionais a monetizar sua expertise.

“Estamos trabalhando para mudar os hábitos dos creators, para que eles parem de tentar buscar audiências gigantes e contratos de propaganda que vão demorar anos para vir – e talvez nunca venham – e olhar mais para o que eles já têm de poderoso, que é a audiência deles”, conclui.

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