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Conforme os bancos aceleram seus processos de transformação digital para responder às mudanças nas demandas dos clientes, o mercado global para empresas que oferecem ferramentas para ajudar outras companhias a realizar essa tarefa nunca foi tão agitado. Ativa nesse segmento e capitalizada após rodada liderada pelo SoftBank em outubro passado, a techfin brasileira Pismo quer conquistar clientes globais expandindo suas operações em todo o mundo.
Fundada em 2016 por Daniela Binatti, Ricardo Josuá, Juliana Motta e Marcelo Parise, a Pismo desenvolve soluções de plataforma como serviço (PaaS) baseadas em nuvem que incluem meios de pagamentos, carteiras digitais, marketplace e gerenciamento de ativos financeiros. A carteira de clientes da empresa inclui empresas já estabelecidas, como o gigante bancário brasileiro Itaú e o BTG+, braço digital do banco de investimento BTG Pactual, além da Falabella, maior varejista do Chile.
Ao longo do processo de due diligence para sua recente rodada de financiamento, a startup recebeu alguns feedbacks positivos: “Mais de uma vez, nossos investidores disseram que nossos clientes gostam mais de nós do que imaginamos – isso foi uma confirmação de que o que estávamos buscando estava acontecendo de fato. No entanto, temos experiência suficiente para saber que isso pode mudar em um piscar de olhos se não tivermos cuidado”, disse a cofundadora e diretora de tecnologia da empresa, Daniela Binatti, em entrevista ao Startups.
Segundo a executiva, foco no cliente é fundamental para a proposta de venda exclusiva da empresa. “Quando projetamos a Pismo e a maneira como operaríamos, não estávamos falando apenas sobre tecnologia – também era muito sobre relacionamentos”, afirmou Daniela. Ao lado de Josuá, ela fez parte da equipe por trás da Conductor, empresa de tecnologia focada em pagamentos comprada pela Riverwood Capital em 2014 e posteriormente investida pela Visa em 2018.
“As empresas ativas em nosso espaço são tipicamente odiadas ou, na melhor das hipóteses, toleradas – e decidimos que nos afastaríamos desse modus operandi”, observou a fundadora.
A decisão de expandir
Com o aumento drástico de compras online impostas pela Covid-19, a Pismo apoiou seus clientes ajudando-os a mudar seus modelos de negócios para ambientes digitais. Um exemplo foi o marketplace da Falabella, inicialmente planejado para o varejo físico e logo após o início da pandemia, foi transformado para se tornar a solução de marketplace de e-commerce do banco.
“À medida que criamos ferramentas, mecanismos, endpoints e APIs para ajudar os clientes a adaptar suas jornadas para operar na nuvem, uma nova demanda surge globalmente entre as organizações. Alguns conseguem adaptar suas soluções rapidamente, e outros, que estavam funcionando em sistemas legados, lutam para fazê-lo e perdem seu time to market”, afirmou Daniela.
Assim que as oportunidades para vender as soluções bancárias da Pismo começaram a surgir além dos principais mercados da empresa na América Latina, os fundadores decidiram acelerar a expansão internacional. O fato de a funcionalidade da empresa ter um design multi-países e multi-moeda também apontava que a empresa poderia se apresentar a clientes globais com mais confiança, Daniela apontou: “A verdade é que trabalhar em um sistema de processamento de pagamentos na Argentina não é diferente de fazê-lo na Índia, por exemplo.”
“Nossos concorrentes são empresas globais; pensamos que não havia razão para não nos tornarmos globais também. Então o plano [de expandir internacionalmente], o sonho, já existia, mas a pandemia veio para reforçar a tese de que era a hora certa de realizá-lo”, observou a cofundadora.
A empresa escolheu o Reino Unido como ponto de partida para iniciar sua expansão global, com escritórios em Bristol e uma operação na Índia, também gerenciada pela equipe do Reino Unido. Segundo Daniela, a Pismo vai abrir um novo escritório em Cingapura, e outras bases globais também estão no horizonte para os próximos meses. “A ideia é criar uma operação follow the sun para cobrir o horário comercial de qualquer um de nossos clientes globalmente”, disse ela.
Metas para 2022
Antes da Covid-19, a fintech já estava em contato com Vishal Dalal, ex-consultor da McKinsey, que também ocupou cargos de tecnologia sênior no Citigroup e no Barclays, para entender melhor as prioridades da transformação digital entre os bancos globais. Após a decisão de expansão, Vishal foi nomeado presidente para os mercados dos EUA, Europa e Ásia.
Com mais de 14 anos de experiência na implementação de sistemas de apoio a empresas bancárias e gestão de sistemas legados, Vishal tem uma boa noção dos desafios enfrentados pelas empresas do setor. Ele também tem muitos contatos nesse meio, o que deve ser vantajoso para a Pismo para ganhar mercado com executivos de TI em bancos, neobanks e fintechs. “Meu principal objetivo em 2022 será tornar a Pismo mais conhecida internacionalmente, estar presente em todos os principais mercados que importam para nós e ver um impulso comercial significativo”, disse o executivo ao Startups.
Em relação ao que torna a oferta da Pismo mais atrativa em relação aos seus concorrentes, Vishal observou que a solução de ponta a ponta é o que faz a empresa se destacar. “Cobrimos toda a base de produtos: muitos bancos usam sistemas separados para cartões e bancos e tem que fazer muitas integrações para chegar a uma proposta unificada, enquanto oferecemos os dois em uma única plataforma”, argumentou o executivo.
“Também sabemos lidar com a escala, o que é fundamental, pois nossos clientes são empresas da Fortune 500 para quem a implementação de sistemas como esses é complicada”, acrescentou. De acordo com Vishal, a Pismo tem algumas implementações de seus sistemas de core banking em andamento em duas grandes empresas europeias. Além disso, diversos outros negócios – incluindo uma fintech focada em imigrantes e uma startup do segmento de delivery de alimentos – assinaram cartas de intenção.
Ainda de acordo com o líder de negócios internacionais da Pismo, seu principal desafio pela frente será continuar a gerar fluxo de negócios e manter a cultura original e o espírito de cooperação da Pismo, enquanto continua a contratar mais funcionários em meio a uma guerra global por habilidades tecnológicas. “O sucesso neste mercado depende da capacidade de atrair os melhores talentos – sem isso, todo o resto fica aquém”, disse ele.
“Mas temos uma proposta de trabalho muito boa aqui: queremos que as pessoas vejam a Pismo como um lugar onde podem construir uma carreira internacional, trabalhar no escritório ou remotamente, transitar pelo mundo fazendo projetos interessantes, se expor a diferentes culturas, crescer mental, espiritual e profissionalmente. Por isso estou muito animado com o que temos conseguido fazer nessa frente até agora”, observou.
Sobre suas impressões de trabalhar para uma empresa global com DNA brasileiro, Dalal descreveu a experiência até então como uma “grande jornada de descoberta”. Trabalhando há anos em organizações tradicionais, Vishal disse ter ficado agradavelmente surpreso com os níveis de abertura e interesse dos players do setor em relação à oferta da startup. “A qualidade da tecnologia fala por si”, disse.
“Foram meses intensos, mas também fascinantes. Já trabalhei em todo tipo de grandes empresas, bancos tradicionais, consultorias, mas essa é uma experiência completamente diferente. E o tipo de emoção que você sente quando entra em um novo país pela primeira vez e alguém assina um contrato é praticamente incomparável.”
(tradução por Fabiana Rolfini)