Negócios

Como a hygia lidou com o cancelamento de um sócio famoso?

Com o escândalo pessoal de Daniel Alves, finhealth teve que repensar estratégias e agir rápido para gerir a crise

Dani hygia
Dani hygia. Crédito: Canva

A hygia saúde, startup gaúcha que está ganhando seu espaço no mercado com uma proposta mezzo healthtech mezzo fintech – tanto que ela se define como uma finhealth – teve um problema e tanto para lidar no começo deste ano. A companhia se viu às voltas com um escândalo policial protagonizado por um de seus investidores famosos – no caso, o ex-jogador de futebol Daniel Alves.

No fim de janeiro, o ex-lateral direito da seleção brasileira foi detido em Barcelona após acusações de estupro, o que colocou a hygia em uma corrida contra o tempo para contornar os danos que esta crise poderia colocar sobre a marca, já que Dani Alves era não apenas um sócio, mas uma das “caras” da companhia, com a sua imagem em materiais promocionais e no site da empresa.

“É um momento complicado para trabalhar com celebridades. A internet tem um poder muito grande de viralizar fatos de uma maneira ruim”, avalia Maikol Parnow, cofundador e CEO da hygia, em papo exclusivo com o Startups, e que será um dos episódios da próxima temporada do podcast MVP.

Para evitar possíveis prejuízos para a empresa, ainda uma startup em estágio inicial e buscando aumentar sua presença no mercado, foi necessário agir rápido. De acordo com o CEO, desde a descoberta do fato relevante até a publicação de um posicionamento oficial, em que a companhia anunciou o desligamento de Daniel Alves como parte da companhia, alegando quebra de contrato, foram dois dias.

“A notificante, sendo uma empresa que tem como pilar a valorização da mulher, empreendendo esforços para que elas sejam cada vez mais reconhecidas na sociedade, e que, com as soluções ofertadas pela Notificante, possam ter uma vida mais saudável e melhor, não pode sequer cogitar manter a relação contratual com o notificado”, afirmou a empresa em nota divulgada ainda em janeiro.

Corrida contra o relógio

Dois dias não parecem um tempo tão curto para uma tomada de decisão, mas segundo o CEO da hygia, foi uma corrida contra o relógio, especialmente para uma companhia que sequer pensava em um problema deste tipo. “No começo, nossa preocupação é outra, voltada ao negócio, ao produto, e o que menos se espera é que um problema desses aconteça nesse estágio”, afirma Maikol.

Segundo revela o executivo, lidar com a crise de imagem foi um aprendizado em tempo real, aprendendo a responder a questionamentos da imprensa, dar satisfações aos colaboradores, conversas com outros investidores e pessoas envolvidas com o negócio. Conforme explica o CEO da finhealth, não foram conversas fáceis, e o risco de tomar uma decisão equivocada era real.

A empresa ainda está aproveitando o momento de uma rodada seed captada há menos de um ano. Ela levantou em setembro um aporte de 3 milhões de euros (cerca de R$ 16 milhões), assinado pela holding Amad, criada por nomes como o brasileiro Daniel Nepomuceno, ex-presidente do Atlético Mineiro, e o espanhol Pedro Vaquer, sócio da Solatio Energia.

“Em grandes empresas, muitas já estão preparadas para possíveis crises de imagem, tem times que sabem lidar com isso. Agora, para uma startup de early stage, que mal tinha captado um seed pra começar a fazer tração, não tínhamos um comitê para isso”, pontua.

Maikol Parnow, cofundador e CEO da hygia, em gravação do podcast MVP com o Startups (Crédito: reprodução)
Maikol Parnow, CEO da hygia, em gravação do podcast MVP (Crédito: Reprodução)

Na correria para responder ao turbilhão midiático trazido pelo ex-sócio, a hygia chegou a buscar a ajuda de especialistas, como a professora de gestão de crise da ESPM Porto Alegre, Rosângela Florczak de Oliveira.

“Foi uma corrida contra o tempo, pois numa hora dessas o que conta é ser rápido. O cancelamento vem se você não agir. A decisão pode não ser a melhor, mas demorar demais pensando em como agir seria pior. A internet não te dá esse tempo”, avalia Maikol.

Lessons learned

Relembrando a experiência passada, Maikol tenta enxergar pelo lado positivo, apesar de todo o contratempo. “Pelo menos, ao final disso tudo, já saímos com um plano de gestão de crise pronto, algo que poucas startups early stage tem”, pondera.

Ao falar do futuro da startup, o CEO não descarta unir forças com outra celebridade investidora, até porque a companhia ainda conta com um nome conhecido no seu corpo de investidores. É o caso do também ex-atleta e influencer Joel Jota, que é um dos principais embaixadores da finhealth.

“O Joel é uma potência. Quando ele abraça uma marca, ele é um ‘canhão’, tanto que levei oito meses para montar uma estrutura para suportar o volume (de negócios) que ele geraria”, diz o CEO da hygia.

Este assunto é apenas um trecho da conversa que o Startups teve com o CEO da hygia para a segunda temporada do podcast MVP. Em breve, divulgaremos mais detalhes sobre o lançamento da temporada, mas por enquanto você já pode salvar o MVP na sua lista de podcasts preferidos e conferir episódios anteriores, acessando este link.