Com menos de dois meses de casa, Cristiane Ferreira Taneze está à todo vapor na Visa. A executiva tem entre suas tarefas prioritárias o relançamento do Visa for Startups, programa integrante das iniciativas de inovação e design da gigante de pagamentos.
Cristiane assumiu como diretora executiva de inovação, respondendo diretamente a Vanesa Meyer, vice-presidente de inovação da Visa América Latina e Caribe. A executiva assume as funções de Erico Fileno, que deixou a empresa em outubro de 2021 e atualmente é sócio na EY. Com experiências no mundo de startups como a Dr Consulta e em empresas tradicionais como a Rede e Mastercard, Cristiane vai colaborar com clientes e parceiros em projetos de cocriação.
“O que trago para a mesa é um formato novo de trabalho, uma cultura de inovação multidisciplinar baseada em metodologias ágeis e design thinking, que coloca o usuário no centro de todas as soluções para solucionar dores de clientes”, diz a executiva em entrevista ao Startups, sua primeira após assumir o cargo.
As iniciativas da Visa junto a startups são parte da estratégia da empresa, que busca se posicionar como “rede das redes”, fornecendo a tecnologia por trás de formas de pagamentos além do cartão, meio pelo qual é tradicionalmente conhecida. Esta visão inclui o acompanhamento de tendências de mercado – por exemplo, a companhia anunciou ontem (30) um programa que ajuda criadores de conteúdo no universo dos NFTs – e a inovação junto a startups, em que vários parceiros atuam simultaneamente no ecossistema de meios de pagamento.
Projetos da Visa relacionados a startups incluem o programa global de inovação aberta Everywhere Initiative, pelo qual já passaram mais de 8,5 mil startups, que levantaram mais de US$ 16 bilhões desde que passaram pela competição. Lançado em 2015, o programa tem fases regionais com prêmios de mais de US$ 500mil. A final para a América Latina está prevista para julho e o encerramento será no Catar, em novembro. Além disso, há o Visa for Startups, que Cristiane começou a avaliar logo que chegou na empresa.
“[O Visa for Startups] é um um programa muito importante para o escritório do Brasil, pois nos aproximou do ecossistema de startups local. Antes, antes tínhamos o programa global e não participávamos tanto do dia a dia [das novas empresas]”, diz a executiva sobre a iniciativa.
Lançado em 2021, o Visa for Startups é descrito pela empresa como um canal de relacionamento para ajudar startups a criar conexões com clientes. Além disso, o projeto inclui o trabalho com desafios em áreas prioritárias para a empresa e seus parceiros e a criação de propostas comerciais.
O projeto é uma reformulação do programa de aceleração da empresa, que foi lançado em 2017 e teve sua última edição em 2020. Um grupo de 69 startups passou pelo programa em sua antiga versão, das quais 36 fecharam negócios. Destas, 53% fecharam com parceiros da empresa de pagamentos e 44% com a própria Visa, enquanto 3% das startups fizeram negócios entre si.
Além disso, 16 startups participantes conseguiram levantar cerca de R$ 133 milhões em investimentos, com auxílio direto ou indireto da Visa. “Os números mostram que estamos transformando o programa em negócios, o que é bacana para todas as partes envolvidas”, diz Cristiane.
Ganhos para as startups
Para a próxima edição do programa, que deve acontecer entre julho e setembro deste ano, a ideia é que startups apresentem propostas para endereçar complexidades e oportunidades que a Visa e seus clientes identificam no Brasil. “Vamos definir os desafios e trabalhar com essas startups no desenvolvimento de MVPs que possam ser colocados no mercado”, aponta Cristiane.
Além de ter suas soluções implementadas e potencialmente fazer negócios em um tempo reduzido em relação ao restante do mercado, a empresa oferece outros benefícios às startups participantes do programa de aceleração. As contrapartidas incluem uma plataforma com acesso direto às APIs Visa, além de um programa de certificação que ajuda as startups a criar e lançar ofertas de pagamento que atendam aos padrões globais da Visa em relação à segurança e funcionalidade.
Considerando que existem diversos programas de aceleração que competem por fintechs, Cristiane quer que o programa entregue resultados para as startups participantes. “Vemos uma evolução no mercado, e o momento requer que o programa seja atrativo para as startups participarem”, ressalta. Ela acrescenta que um aspecto crucial do processo é alocar pessoas responsáveis por produtos e soluções na Visa, com o intuito de desenvolver produtos em conjunto com as startups e promover o crescimento destas empresas.
Quando o assunto é engajamento interno, Cristiane diz que isso sempre ocorreu de forma natural na Visa. Ao longo das 4 edições do programa de aceleração, a empresa dedicou mais de 700 horas de mentoria às startups, com um terço do time Visa participando destas atividades.
“[A participação interna] foi a grande fortaleza do programa desde o começo. Entendemos que este é um ponto forte que deve ser continuado e que agrega valor no desenvolvimento de produtos e serviços que conseguem seguir adiante”, pontua.
Além de disponibilizar o Visa League, grupo de funcionários da gigante de pagamentos que estão envolvidos na iniciativa, a empresa também deve oferecer palestras e “ambientes interessantes de troca” para as startups, e acesso à sua rede de relacionamentos, diz Cristiane.
“O grande benefício que a Visa oferece [para startups] é justamente conectá-las a esse rede de parceiros. Essa conexão com emissores, adquirentes, e outras empresas que se relacionam conosco é muito interessante, e é o que atrai as startups, já que para crescer e escalar elas precisam participar desse ecossistema”, acrescenta.
Orquestrando parcerias
No que diz respeito a avançar com as iniciativas para startups na subsidiária brasileira da Visa, Cristiane destaca a composição de parceiros para resolver um desafio em conjunto como a frente de maior complexidade.
“Em um programa como este, [é preciso decidir] qual será a orquestração de parceiros necessária. Em um ambiente de inovação aberta, sabemos que startups e fintechs têm um olhar de nicho, e resolvem uma dor muito específica do cliente, ao passo que a Visa tem um olhar mais holístico”, diz a executiva.
“Quando analisamos as soluções de nicho para resolver um problema, muitas vezes temos que fazer uma composição, que pode incluir parcerias internas, ou da startup com outro negócio que já existe e já está operando nessa rede”, explica a diretora da Visa. “O grande desafio é ‘dar match’, para que essas soluções possam ir para o ar o quanto antes.”
Apesar dos desafios relacionados a criar um programa que fundadores queiram participar, Cristiane ressalta que o legado dos programas anteriores deve contribuir para o sucesso do Visa for Startups. “A Visa é uma marca muito querida e percebida pelo mercado como um parceiro que agrega valor, e vemos um interesse grande das empresas em se conectarem conosco”, acrescenta.
Ao longo do próximo ano, a diretora da Visa diz que a forma de mensurar o valor das iniciativas da empresa junto a startups será continuar a mostrar números expressivos, principalmente em termos de negócios fechados. “Queremos fazer com que mais startups queiram participar porque viram o benefício em outras. Meu principal objetivo é transformar este programa em negócios e fomentar um ciclo que se retroalimenta”, conclui.