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O último ano foi agitado para a Creators, plataforma que conecta criadores de conteúdo e profissionais criativos a empresas. Com um novo modelo de negócio amparado pelo uso de algoritmos e curadoria especializada, a startup paulistana redirecionou seu modelo de negócio, teve um salto exponencial na receita e agora mira uma rodada para crescer.

Liderada pelos co-fundadores Nohoa Arcanjo, Rodrigo Allgayer e Pedro Emilio, a startup já teve algumas encarnações desde seus primórdios como Nosotros, em 2017. Em seu formato inicial, a empresa fazia o match de empresas em busca de profissionais para a criação de campanhas e materiais publicitários com freelancers atuantes nesta área. No início de 2021, a empresa teve uma virada de chave, e colocou creators no centro da estratégia.

Na proposta atual, os times (squads) que a startup disponibiliza para as marcas são compostos por criadores de conteúdo e podem ser incrementados com profissionais criativos, com os quais a empresa já atuava. Atualmente com uma base de mais de 8 mil profissionais, a Creators orquestra a formação de grupos multidisciplinares de profissionais para marcas como Google, Globoplay, Nubank, iFood, Xiaomi, TikTok, e agências como Soko, BETC, VMLY&R e Almap-BBDO.

“As verbas de marketing estão claramente migrando de mídia para conteúdo, e as marcas estão trabalhando com outras possibilidades de co-criação, e formas de se aproximar, fazer relacionamento de longo prazo com creators, e colocá-los na mesa para discutir suas ideias”, diz a co-fundadora Nohoa, que também é chief growth officer da empresa, em entrevista ao Startups.

Com o reposicionamento e a mudança de produto, a atuação com criadores de conteúdo passou a representar 80% do fluxo de trabalho da Creators. A receita transacional deu um salto de 420% em 2021 na comparação a 2020. Para este ano, a expectativa é crescer 300%.

Como funciona o serviço da Creators

O acréscimo de criadores de conteúdo digital à base de profissionais da Creators conferiu à empresa uma robustez adicional na prestação de serviços para as marcas. “Como temos uma gama muito grande de talentos criativos, conseguimos cobrir qualquer aspecto das demandas”, diz Nohoa. Por exemplo, uma marca pode contratar um grupo de criadores, além de profissionais como um estrategista para planejar o impulsionamento dos conteúdos, um gerente de projetos ou um especialista em audiovisual.

Do ponto de vista do cliente, a jornada de contratação começa na plataforma da Creators, em que a marca fornece as informações que vão posteriormente informar a estratégia de marketing de influência. Ao responder uma série de perguntas, a empresa informa aspectos como o público a ser impactado e os objetivos da campanha – no caso, se a marca quer mais cliques, gerar cadastros, ou aumentar awareness.

Os fundadores da Creators: Pedro Emilio (CTO), Nohoa Arcanjo (CGO) e Rodrigo Allgayer (CEO)
Foto: Paulo Liebert

O tamanho do squad também é definido neste ponto: empresas tendem a pedir entre 11 a 20 criadores, mas em certos projetos, a Creators trabalha com mais de 100 pessoas. Os perfis de criadores também são selecionados durante este processo. A marca pode escolher se quer desde um micro ou mega-influencer, o alcance desejado, os assuntos abordados pelo criador. Além disso, a plataforma permite fazer recortes étnicos e demográficos.

“Temos muito orgulho de oferecer esta possibilidade de escolha. Se o cliente não pensava em fazer um squad diverso, agora ele vai pensar”, diz Nohoa. A partir destas escolhas do cliente, a plataforma automatiza a seleção dos creators da base e produz um shortlist. O time de curadoria da startup entra em ação para garantir o match entre as necessidades do cliente e as sugestões feitas por algoritmo.

A marca então recebe a montagem do squad com detalhes como a média de views esperada para a campanha, bem como o custo por view. A partir daí, o fluxo é automatizado com inteligência artificial: os creators recebem o briefing do projeto e contratos individuais. O split dos pagamentos é feito pela plataforma (a marca contratante não precisa pagar os criadores individualmente) e é possível montar equipes pagando em dólar e euro. A startup fica com um fee de 15% do valor total do projeto.

Entre os concorrentes da Creators, estão atores como as agências de marketing de influência. Sobre a vantagem que a startup tem em relação a este segmento, Nohoa diz que o trabalho destas empresas é normalmente nichado, ao passo que a startup tem uma base mais ampla para oferecer às marcas. “Conseguimos ser um catalisador e ter mais abrangência e capilaridade”, explica.

Respondendo à novas demandas

A Creators faz parte de um movimento em que influenciadores compõem uma parte cada vez mais relevante do marketing mix: segundo pesquisa da We Are Social, 40% dos usuários de redes sociais afirmam já ter comprado um produto recomendo por um creator. “As marcas estão dispostas a experimentar e os creators, por sua vez, não estão deixando a desejar: eles estão se mostrando extremamente solícitos, dispostos. Temos nos surpreendido positivamente com o nível das entregas”, diz Nohoa.

O segmento em que a startup atua passa por uma trajetória de franco crescimento: dados da Global Content Marketing sugerem que a creators economy deve chegar em um valor de US$ 269 bilhões até 2024. Segundo Nohoa, ao passo em que outros mercados como os Estados Unidos estão mais maduros, o mercado brasileiro passa por um momento de profissionalização, o que traz oportunidades.

“Todo mundo que está participando deste mercado ainda está se descobrindo. [As empresas] estão entendendo quais são seus objetivos com as campanhas, como devem se relacionar com creators no longo prazo, e como obter melhores resultados destas relações”, pontua.

Do ponto de vista do criador, a Creators percebeu que as dores dos freelancers com quais já trabalhava eram muito parecidas com as do novo público. “[Os criadores] têm dificuldade em se conectar comercialmente e viver de suas paixões, que são as verticais que eles escolheram falar e engajar suas comunidades. Eles também tem muita dificuldade de precificar seu trabalho, entender quanto valem estas entregas e o valor que eles proporcionam [para as marcas] nestas conexões de trabalho”, explica a co-fundadora, sobre o valor do meio de campo que a startup faz.

Capital para impulsionar crescimento

Em 2020, a Creators passou a fazer parte do portfolio do Black Founders Fund, do Google, depois de passar por três programas de aceleração da empresa. Além disso, a startup também passou pelo programa de scale-ups da Endeavor. Segundo Nohoa, a participação nestes programas contribuiu de forma significativa para alavancar o negócio.

“Em ambos os programas, tivemos acesso a conexões muito importantes, além de uma maior visibilidade no mercado”, ressalta a empreendedora. No caso específico do Google, a Creators é um exemplo de startup que não é somente investida, mas também virou fornecedora: a empresa contratou a startup para lançar o Web Stories (uma ferramenta que ajuda criadores a explorar o formato de histórias visuais interativas online e tornar a experiência de busca mais visual no Google Search) no Brasil e na América Latina.

Para continuar a acelerar aspectos como o aprimoramento de sua plataforma, a Creators está se preparando para buscar uma rodada seed no segundo semestre, entre US$ 1,5 milhão e US$ 2 milhões. O esforço deve acontecer tanto no Brasil quanto fora. Com clientes baseados em países como Itália e Alemanha, a Creators também contempla uma expansão internacional, mas deve começar este movimento pela América Latina, onde também tem projetos, em mercados como Argentina e Colômbia.

No entanto, dados recentes apontam para o início de uma baixa na disponibilidade de capital para o segmento nos últimos tempos. Em março, o site The Information publicou uma pesquisa que sugere que startups atuantes na creators economy nos Estados Unidos levantaram mais de US$ 6.5 bilhões em 2021. No entanto, este nicho teve uma baixa em financiamentos de 30% no 1T22, comparado ao 4T21, chegando a US$ 1 bilhão em rodadas.

Por outro lado, a demanda por marketing de influência não mostra sinais de desaceleração. Segundo um estudo da eMarketer, cerca de 72,5% dos departamentos de marketing nos Estados Unidos usarão criadores de conteúdo digital para campanhas em 2022, um aumento de 55,4% rem relação a 2019. Segundo o Influencer Marketing Benchmark Report, publicado no ano passado, o mercado de marketing de influência cresceu de US$ 9,7 bilhões para US$ 13,8 bilhões em 2021.

Quando o assunto é o mercado em terras canarinhas, Nohoa ressalta que a oportunidade é significativa. A executiva pontua que o Brasil já ultrapassou a China em termos de potencial de influência e abarca um contingente de cerca de 50 milhões de heavy users de mídias sociais. Segundo uma pesquisa da Hootsuite e We Are Social, o Brasil gasta em média 09h29min conectado na internet, o equivalente de 142 dias do ano online, todos os anos.

“A maioria dos fundos está capitalizada. Eles só estão mais seletivos e procurando boas oportunidades que ofereçam um bom retorno e escala. E nosso mercado é muito grande e interessante, e está só começando a ser explorado,” diz a fundadora, acrescentando que tem recebido abordagens orgânicas de fundos interessados em fazer suas apostas na creators economy.

Ao analisar o atual momento de ajuste no mercado de venture capital e como ficam empresas lideradas por grupos sub-representados, Nohoa diz que em um cenário onde a lucratividade é priorizada em relação ao crescimento a qualquer custo, founders diversos que já passaram por dificuldades e conseguem crescer na crise serão privilegiados.

“Considerando que fundos agora estão tomando muito cuidado e exigem que startups deem lucro o quanto antes ao invés de só inflar seus valuations, imagino que quem já teve que tirar leite de pedra e hoje vive de receita e é lucrativo será visto com bons olhos. Temos uma grande vantagem neste sentido: hoje, não tenho outro mindset que não seja gerar lucro”, finaliza.

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