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Focada em atender um segmento carente de inovação tecnológica, a startup de bem-estar sexual Feel planeja o próximo movimento de sua estratégia, com ganho de escala através de uma nova frente de serviços e uma nova rodada de investimento em 2022.

Fundada por Marina Ratton no final de 2020, a sextech surfa na onda global da conscientização entre pessoas com úteros entre 25-40 anos sobre suas questões sexuais. Isso inclui tanto o público que se manteve sexualmente ativo em meio à crise global, quanto públicos como mães com dificuldades em manter uma vida sexual saudável em meio às múltiplas demandas que surgiram com a pandemia.

A partir de pesquisas com potenciais consumidoras, a Feel atendeu uma lacuna pouco explorada por fabricantes do setor, e criou produtos naturais e veganos focados em sexual wellness, como um lubrificante, um sabonete que reduz os efeitos da candidíase recorrente, e um óleo hidratante. O desenvolvimento dos produtos é pautado por pilares como a dor na masturbação, bem como na relação – que 59,7% das mulheres afirmam sentir, segundo dados do Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (Prosex).

“Devido a uma falha no sistema de saúde, mulheres brasileiras demoram muito a descobrir várias coisas sobre a sua intimidade, mas o assunto vai além disso. É muito mais sobre os grandes marcos da vida da mulher que se relacionam com outras áreas da vida, do que o sexo, ou o lubrificante por si só”, diz Marina, em entrevista ao Startups.

Neste contexto, a startup busca apoiar o que a fundadora descreve como “jornada da intimidade”. Isso passa pela construção de parcerias estratégicas, com a venda de produtos em marketplaces de marcas como Amaro, e a Renner, que vai iniciar a venda da linha Feel em breve. Outra aliança nesse sentido foi feita com a Quem Disse, Berenice?, empresa do Grupo Boticário, que acelerou a startup no ano passado.

A entrada da Feel em serviços

Apesar de não revelar números específicos, Marina diz que a Feel tem tido um crescimento mensal em vendas de 20%, e a empresa fechou 2021 com um faturamento 15% superior ao projetado para o ano. Segundo a fundadora, os produtos são o ponto de partida para a construção de uma oferta que incluirá serviços, em áreas como tratamento.

“Ainda temos um mar muito grande para desbravar em termos de faturamento e crescimento, e esse trabalho é muito pautado pela educação, pelo conteúdo. Dependo disso para sensibilizar essa mulher para que ela [perceba que] ‘nossa, isso acontece comigo também'”, diz a empreendedora, em referência a temas como a dificuldade da retomada da vida sexual após o parto – um tema que Marina passou a focar após a aceleração pela B2Mamy, no ano passado – bem como outros problemas como o diagnóstico tardio da endometriose.

Foto da fundadora da Feel, Marina Ratton - Startups
A fundadora da Feel, Marina Ratton. Crédito: Bruna Bento

Para apoiar a entrada em serviços, o plano de Marina contempla a evolução de sua comunidade de profissionais como ginecologistas e terapeutas, que já ajudam a startup no desenvolvimento e teste dos produtos.

“Algo que é muito comum acontecer é a nossa comunidade de clientes pedir indicações de profissionais da saúde, pois elas entendem que nossas indicações tem um espaço aberto e acolhedor para esse debate de intimidade”, diz Marina. “Para nós, isso é uma super oportunidade.”

Em outras palavras, se hoje, a Feel vende lubrificante, amanhã poderá vender serviços que complementem o uso desse produto. “Nessa frente, tenho um outro ganho que é a comunidade, que é a nossa cereja do bolo e permite escala, com a coleta de dados via anamnese, telemedicina e outros serviços digitais”, ressalta.

Outra abordagem que a Feel deve usar nos próximos meses para ganhar tração adicional é o modelo de alianças com outras startups ativas no segmento de saúde feminina, diz Marina, que é líder da Femtechs Brasil, associação formada em 2021 com 21 empresas do segmento.

“Entendo que outras femtechs podem oferecer portfólios e serviços que ampliem a minha jornada, criando algo muito mais forte, estratégico e com robustez de faturamento. Esse movimento de consolidação com outras femtechs de uma maneira mais avançada é outra área de foco para nós”, pontua.

Reunindo investidores estratégicos

Além de clientes e profissionais, a Feel também conta com uma comunidade de investidores. No meio de 2021, a startup fechou uma rodada de equity crowdfunding de R$550mil pela Wishe Women Capital no meio do ano passado. Na época, a empresa – que até então era bootstrapped – já crescia, baseada no modelo de pré-venda, em que clientes aceitavam receber o produto em um prazo maior.

Foto de produtos da Feel para o bem estar sexual - Startups
Os produtos de sexual wellness da Feel

“O investimento veio para pavimentar uma estrada que já estava muito desenhada, pois a gente já faturava, estava crescendo, tinha bons indicadores. Além disso, a rodada também segue uma lógica de comunidade, que temos desde o dia 1”, pontua a fundadora, ressaltando que 85% dos apoiadores foram mulheres e comunidades como a rede de investidoras Sororité.

“Essa [representatividade de gênero na rodada] foi simbólica, e diz muito sobre a direção para onde o ecossistema o ecossistema de startups está indo”, diz Marina. Apesar da percepção de que o equity crowdfunding costuma ser o último recurso de empresas que não conseguem atrair a atenção de fundos, a empreendedora diz que o caso da Feel é diferente.

“Temos bons investidores: [o grupo inclui] desde clientes, lojas e revendedores que nos apoiaram por acreditar muito na nossa tese, até investidoras estratégicas com cheques muito expressivos. Sabemos que essa composição de portfólio é muito importante pra uma startup”, ressalta.

A fundadora cita episódios como a conversa recente com um fundo farmacêutico, que reforçou a validade da abordagem: “Me foi dito que, pelo fato de termos feito equity crowdfunding, conseguimos provar o fato de temos uma comunidade – que não é somente composta de fãs, ou lovers, como vemos em outras marcas”, ressalta.

Marina diz estar em conversas com investidores para sua rodada seed, que deve acontecer no segundo semestre deste ano. A sextech tem suas vontades, como atrair fundos corporativos com foco em bem-estar e saúde, assim como investidores anjo interessados no setor e aptos a contribuir no crescimento da startup, e talvez até mulheres à frente de startups de alto crescimento.

A tese exposta no deck da empreendedora é convincente: além dos indicadores de pesquisas como o Prosex – que sugere que 55,6% das mulheres têm dificuldade para chegar ao orgasmo em relações sexuais e 40% não se masturbam – há o potencial para serviços de saúde sexual, já que mulheres brasileiras gastam sete vezes mais que os homens com produtos e serviços nessa área, segundo o Inside Healthtech Report 2021, do Distrito.

No entanto, a fundadora diz que será criteriosa na escolha de seus próximos investidores. “Temos uma operação muito saudável financeiramente, e isso nos deixa com fôlego para tomar boas decisões”, aponta. Por outro lado, Marina espera uma virada de chave no que diz respeito ao interesse no segmento de sexual wellness por grandes fundos de venture capital.

“Seria um grande marco a gente chegar em fundos que ainda não estão sensíveis a esse movimento, em lugares onde talvez nenhuma femtech ou uma empreendedora chegou”, diz Marina. “Isso seria muito importante para outras startups lideradas por mulheres, e para o ecossistema como um todo.”

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