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Depois de 1 ano no país, Clara mira Brasil como maior mercado na AL

Brasil já representa 30% do faturamento da fintech, e em 2023 deve ultrapassar a receita do México

Clara fintech. Crédito: divulgação
Clara fintech. Crédito: divulgação

A Clara, fintech unicórnio mexicano de serviços financeiros e gestão de despesas para empresas, completou agora em dezembro o seu 1º ano no mercado brasileiro. Nestes 12 meses, entre movimentos de expansão e contenção frente ao cenário econômico desafiador, a companhia está confiante, e mira planos grandes para o país.

“Hoje o Brasil já representa 30% do faturamento da Clara na América Latina, e para 2023 já estimamos que ele venha ter a maior fatia do bolo”, dispara Layon Costa, general manager da fintech no Brasil. Atualmente, o país-natal da empresa, México, ainda tem a maior representatividade, com 60%, com os 10% restantes ficando com a Colômbia, outro mercado em que a startup está presente.

Apesar de ter anunciado a sua entrada no mercado brasileiro em dezembro de 2021, a Clara ainda utilizou boa parte de 2022 para “afinar” sua operação, investindo em equipe e plataforma para customizar as soluções desenvolvidas pela matriz no México. Inclusive, foi neste período que a companhia investiu no crescimento do time, chegando a 75 colaboradores, um aumento de 150%.

Segundo explica Layon, em termos de clientes, no primeiro semestre a startup firmou contrato com alguns early adopters, e foi de fato ao mercado a partir de junho. “Desde então temos registrado um crescimento em ritmo exponencial”, pontuou o general manager. Segundo a companhia, durante o ano a empresa emitiu no país 27 mil cartões de crédito corporativos, físicos e virtuais, e processou cerca de 500 mil transações, representando um montante de US$ 48 milhões.

De acordo com o executivo, o segmento enterprise atualmente ocupa 10% da receita da Clara no Brasil, com empresas e startups de médio porte ficando com 60% a 70%. Startups de porte menor, mas com um foco mais tecnológico na sua gestão, completam a base de clientes.

Na visão do manager, o desafio e oportunidade está no segmento enterprise, em que concorre não apenas com outras startups como Conta Simples, mas também com grandes empresas de ERP. Mesmo assim, Layon mantém a confiança no produto, mais até do que o nome adquirido pela Clara no cenário startupero, o que abre portas junto aos founders mais “antenados”.

“Tem um nicho que conhece a Clara, mas tem um universo de empresas que não é tão ligada nesse mundo de startups. Neste caso, nosso atrativo não é tanto o nosso nome, mas sim as nossas soluções. No final, o que realmente precisa fazer o crescimento acontecer, é a qualidade da solução”, afirma Layon.

Layon Costa, general manager da Clara no Brasil (Crédito: divulgação)
Layon Costa, general manager da Clara no Brasil (Crédito: Caco Parise/divulgação).

Segundo ele, um dos diferenciais para ganhar clientes na parte de cima da pirâmide é a liberação que a Clara conseguiu junto à Mastercard para liberar cartões diretamente, diferentemente de outros players que utilizam operadoras de BaaS como a Dock e a Zoop para entregar algumas de suas camadas financeiras. “Foi uma decisão estratégica, que aumenta o nosso poder de customização da plataforma junto aos clientes”, explica.

Crescimento com parcimônia

Apesar da animação com o crescimento durante o primeiro ano no Brasil, a Clara teve a sua parcela de complicações durante 2022. No meio do ano, a empresa se viu obrigada a fazer uma onda de demissões em seu quadro de funcionários. Inclusive, o CEO da companhia, Gerry Colyer, chegou a escrever um comunicado no seu LinkedIn dando as suas razões.

“A situação macro global mudou significativamente mais do que era razoavelmente previsível seis meses atrás, quando colocamos nosso atual plano de investimento em ação. Por isso, nos últimos dois meses, temos feito ajustes em nossas operações e redefinido nosso planejamento financeiro. Considerando o custo humano envolvido, a redução da equipe foi o último ajuste que analisamos”, afirmou Gerry, sem abrir informações sobre o número de cortes.

A notícia veio menos de seis meses depois da companhia captar US$ 70 milhões em uma rodada série B liderada pela Coatue. Foi a rodada que elevou a empresa para o status de unicórnio, e na época coincidiu com a entrada da fintech no mercado brazuca.

Falando especificamente do Brasil, a Clara já tinha levantado em maio de 2021 uma rodada de US$ 30 milhões para colocar em ação o plano de sua operação tupiniquim. A série A foi liderada pelos fundos DST Global — investidor do Nubank — e monashees. Kaszek, Avid Ventures e General Catalyst também acompanharam na rodada. Depois, ela ainda conseguiu uma adição de US$ 5 milhões, vinda de nomes como Sebastian Mejia, fundador da Rappi; Ariel Lambrecht, cofundador da 99, Daniel Vogel, da bolsa de criptomoedas Bitso; e Sergio Furio, fundador da Creditas.

Mesmo com o caixa reforçado, a operação brasileira da Clara se viu às voltas com a necessidade de segurar gastos. Segundo Layon, depois do boom inicial de contratações no começo do ano, a empresa “estacionou” sua expansão interna. “Agora estamos aos poucos abrindo novas vagas, de acordo com a necessidade”, destaca.

Para dar um fôlego maior à suas operações na América Latina, a fintech buscou uma nova capitalização em agosto, porém em um formato diferente: dívida. A companhia captou US$ 150 milhões em um financiamento com o Goldman Sachs, de olho em oportunidades para liberar mais crédito e empréstimos para seus clientes.