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Dínamo avança discussão sobre políticas públicas na diversidade em startups

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* Maria Laura Saraiva, especial para o Startups

Em 2018, o mercado brasileiro de inovação assistia o nascimento do primeiro unicórnio nacional, um marco grandioso para o setor de startups. Quatro anos depois, com uma consolidação considerável desse ecossistema, empreendedores e investidores se voltam para outro problema: a falta de diversidade gritante entre os fundadores de novos negócios no país.

Foi com o objetivo de promover esse debate e avançar o tema através de políticas públicas que a Dínamo, organização sem fins lucrativos focada no ecossistema de inovação, realizou na noite da última quinta-feira (28), no Google for Startups em São Paulo o evento “Conversas Diversas: Um papo sobre Políticas Públicas em Diversidade para Startups”. O encontro foi pautado no lançamento da segunda edição do “Mapeamento de Diversidade e Startups”, realizado pela entidade.

Entre os principais indicadores levantados pelo mapeamento, estão aqueles associados ao gênero e a raça dos fundadores de startups no Brasil. De acordo com dados obtidos pela ABStartups, 73,8% dos negócios de inovação são criados por homens e 69% por pessoas brancas. Consequentemente, os empreendimentos femininos representam apenas 16,9% do total, enquanto empresários negros somam 25%.

Com a apresentação do diretor e vice-presidente do grupo, Rodrigo “Kiko” Afonso e Felipe Matos, respectivamente, além de Arlane Gonçalves, consultora e especialista em D&I (Diversidade e Inclusão), Na nova versão, o documento traz como destaque, entre dados, estatísticas e levantamentos, o cenário de desigualdade de gênero e de raça no mercado de empreendedorismo e startups brasileiro.

“Não temos como pensar e desenvolver produtos para a maioria se elas não estão incluídas nessa esfera de decisão”, ressaltou Felipe, que também é o atual presidente da ABStartups (Associação Brasileira de Startups). Em vista do problema, a Dínamo propôs a elaboração e implementação de políticas públicas que impulsionam o empreendedorismo desenvolvido por representantes de grupos minorizados – em especial, mulheres negras.

Para debater o tema internamente, a organização ainda criou, este ano, um Grupo de Trabalho (GT) de diversidade voltado para a discussão de políticas públicas com enfoque em práticas e soluções equitativas e de inclusão. A equipe, formada por especialistas em equidade, inclusão, ESG, inovação, tecnologia e empreendedorismo, foi representada no bate-papo pela psicóloga e gestora de projetos Aline Ferreira, a coordenadora do comitê de Igualdade Racial Campinas do Grupo Mulheres do Brasil, Fabricia Garcia, a antropóloga e fundadora da Integra Diversidade Keyllen Nieto, a especialista em equidade organizacional Mariana Macário e a investidora anjo e diretora executiva da Anjos do Brasil, Maria Rita Spina Bueno.

Além das representantes do GT presentes no evento, outros membros do grupo incluem Guilherme Santos, assessor da diretoria de TI da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e pesquisador de inovação e empreendedorismo, Diego Silva, coordenador do INOVA RS, programa de inovação da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, e a editora-executiva deste Startups, Angelica Mari.

Grupo de Trabalho Dínamo de diversidade (Foto: Beatriz Bevilaqua)

Políticas públicas para promover mudanças

O mapeamento também trouxe destaque para a dificuldade da população negra em receber investimentos para suas empresas. Apesar de movimentarem cerca de R$ 1,7 trilhões por ano no país, segundo número obtido pelo Instituto Locomotiva, o grupo recebe a minoria absoluta dos aportes no país. No caso das mulheres negras, a luta é ainda maior: apenas 0,04% do valor total aportado em startups tem como objetivo negócios fundados por elas.

Em sua fala, Arlane Gonçalves chamou a atenção para como essas porcentagens não condizem com a proporcionalidade de tais grupos no Brasil, visto que as mulheres são, atualmente, 51,8% da população brasileira. “Já as pessoas negras representam 56,2% do país. Sendo assim, mulheres e pessoas negras formam a maioria da população em geral”, destaca.

Neste cenário de desigualdade, as políticas públicas entram como ferramentas de aceleração, legitimação e apoio para que o mercado de inovação seja integrado por empresas e executivos cada vez mais diversos. À exemplo de medidas de inclusão como o PROUNI, de 2004, e a Lei de Cotas, de 2012, os esforços governamentais se mostraram capazes de gerar transformações estruturais de modo mais rápido que a iniciativa privada, explica Felipe.

“Existe hoje uma imensa oportunidade de políticas públicas para startups, em especial se analisarmos o recorte de raça e gênero. Nesse sentido, o ecossistema pode e deve exercer sua pressão no Estado para que interesses como esses sejam atendidos”, diz.

Essa influência, que deve acontecer de forma legítima, como ressaltou Marina Rita Spina Bueno, é tida como uma troca entre as demandas do setor público e privado. Afinal, enquanto as startups precisam de diversidade para alavancarem seus resultados, a esfera do governo depende do mercado para sanar outras necessidades, principalmente no que tange a tecnologia. “O que se precisa entender é que os ganhos da inovação não se limitam às startups; eles se expandem para toda a sociedade”, afirma o presidente da ABStartups.

Iniciativas de sucesso

Entre os exemplos de iniciativas de sucesso trazidas pela Dínamo estão o programa de fomento do Sebrae for Startups. Em 2021, ele foi responsável pelo investimento de mais de R$ 83,1 milhões em empresas de mulheres e pessoas negras, impactando cerca de 3.262 negócios.

Também ganhou destaque o “Programa Mulheres Inovadoras”, iniciativa da Finep e do Ministério da Ciência que irá apoiar 15 startups com fundadoras do gênero feminino com aporte de R$120 mil.

Além disso, o GT da organização destacou o papel simbólico de políticas públicas voltadas à pauta de D&I. “Como único detentor do poder escolhido pela maioria, as causas reconhecidas pelo governo acabam ganhando esse tom de legitimidade, o que aumenta a força da discussão”, sintetiza Mariana Macário.

Assim, para além de capacitações, investimentos e outros tipos de suportes, o próprio discurso em defesa do tema é capaz de ampliar as portas para quem hoje não se vê representado no seleto grupo de brasileiros à frente de startups.

“Para lidar com a desesperança dessa desigualdade, você precisa olhar para quem já está lá. Nem todo mundo precisa virar um unicórnio – é mais sobre explorar negócios que atendam a necessidade da maioria, que são mulheres e negros”, conclui Fabricia Garcia.

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