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Com mais de 2 milhões de ucranianos fugindo do país desde o início da guerra com a Rússia, profissionais de tecnologia do país tentam se ajustar à nova realidade. Ao redor do mundo, diversas iniciativas têm surgido para apoiar profissionais que buscam recolocação – seja por meio de trabalho remoto, ou mesmo deixando a Ucrânia.

O país é reconhecido pela qualidade de seus profissionais de tecnologia, tendo sido o berço de diversos fundadores e startups conhecidas globalmente. De acordo com a IT Ukraine Association, são 285 mil profissionais de tecnologia no país, com uma projeção de mais 80 mil se formando entre 2022 e 2025 – isso antes dos ataques russos, obviamente.  

Uma das iniciativas para ajudar profissionais ucranianos em busca de trabalho é o UAtalents, um site criado por voluntários onde empresas europeias podem postar suas vagas. Aqui no Brasil, pelo menos 3 startups se prontificaram a apoiar quem perdeu o emprego ou quer fugir dos horrores de uma guerra.

Em um post publicado na semana passada, o fundador da InEvent, Pedro Goés, abriu as portas para quem tiver interesse em mudar para a Nigéria, África do Sul, Indonésia, Colômbia ou para o Brasil. A companhia se propõe a pagar a passagem aérea a partir de qualquer aeroporto na fronteira da Ucrânia, com possibilidade de trabalhar remotamente. Procurada, a InEvent disse que ainda não recebeu nenhuma candidatura.

Também na semana passada, Igor Marinelli, da Tractian, fez um convite semelhante para quem quiser se mudar para o Brasil.

Na Palqee, startup anglo-brasileira atuante na área de gestão de dados e privacidade para pequenas e médias empresas, a busca por talentos globais já está na estratégia há algum tempo, e as oportunidades estão abertas a profissionais ucranianos.   

“Sempre tivemos um mindset global, pois há gente talentosa nos quatro cantos do mundo, e por isso, queremos ter uma operação o mais remota possível com talentos de qualquer parte do mundo,” diz o co-fundador e chief privacy officer da empresa, André Quintanilha, em entrevista ao Startups.

“Logo após a rodada [a empresa levantou R$3 milhões em investimento anjo no final de fevereiro deste ano, liderada pelo fundo Fuel Ventures e com a participação da GV Angels], começamos a contratar ativamente e nesse processo, começamos a olhar para a Ucrânia no contexto da atual situação,” acrescenta.

André conta que a empresa já tinha trabalhado com profissionais da Ucrânia, mas como subcontratados e não colaboradores da empresa. “Achamos que este momento seria ideal não só para trazermos alguns destes talentos para dentro de casa, mas também ajudar estas pessoas”, diz o empreendedor.

Ofertas na mesa

Além de cobrir os custos de relocação para os profissionais e seus dependentes diretos, incluindo voos de qualquer aeroporto de cidades da União Europeia, a Palqee patrocina o processo de visto destas pessoas, que podem escolher se transferir para o Reino Unido ou para o Brasil.

Em um primeiro momento, a empresa está em busca de desenvolvedores e deve contratar 15 pessoas em 2022 no total, sendo que 10 serão da área de tecnologia. Salários no Brasil estão em torno de R$15-30mil por mês, enquanto no Reino Unido a faixa salarial está entre £4-6mil, dependendo da senioridade.

Dada a determinação do governo de que homens entre 18 e 60 anos devem permanecer na Ucrânia para ajudar a defender o país, a Palqee tem sido abordada predominantemente por mulheres, que estão saindo ou saíram do país. Porém, a procura não vem somente do país sob ataque. “Também temos sido procurados por profissionais russos, por conta da desvalorização da moeda e da mudança brusca das condições por lá, que fazem com que muitas destas pessoas não consigam mais manter a qualidade de vida que tinham antes, e acabem buscando recolocação em outros países”, diz André.

Segundo o empreendedor, o processo de recrutamento teve algumas adaptações para responder ao atual momento de urgência. Por exemplo, se o objetivo é recrutar um profissional com 5 anos de experiência e surgir um candidato com necessidade de recolocação com a metade deste histórico, a startup esta disposta a ajustar a vaga para contratar profissionais que possam ser preparados para chegar no nível esperado em um futuro próximo. “Estamos basicamente adaptando o nível de senioridade das vagas, dentro das necessidades que a empresa tem, para ser algo que beneficie os dois lados”, conta.

“De modo geral, há uma motivação mútua em trabalhar juntos. Estamos buscando pessoas talentosas, e sabemos que haverá um carinho e aproximação maior entre os dois lados que é maior do que se estivéssemos contratando em condições que não fossem tão críticas”, adiciona André. A contratação destes profissionais também tem sido um processo de aprendizado, diz o co-fundador da Palqee. “Com certeza, nenhuma das partes estava preparada para isso”, observa.

(com Gustavo Brigatto)

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