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Os gestores de fundos de venture capital brasileiros podem estar mais receosos e seletivos na hora de assinar os cheques para novas rodadas em startups, mas seus cotistas – ou LPs, sigla de limited partners – não parecem ter diminuído o apetite por risco e continuam colocando recursos em novos veículos de investimento.

Ao longo de 2022, o volume de recursos captados pelos gestores já soma US$ 617 milhões, segundo dados do Venture Pulse, da KPMG, antecipados ao Startups. O montante acumulado em 9 meses está em linha com o observado em 2021, quando foram US$ 782 milhões. “A liquidez permanece disponível”, diz Rodrigo Guedes, líder de assessoria em mercados de ações da KPMG no Brasil.    

Na lista dos fundos que trouxeram novos recursos para seus cofres ao longo do ano estão nomes como Maya Capital, SaaSholic e a recém-criada Atman, do ex-ONEVC Pedro Sorrentino.  Só a Headline, da XP, trouxe para casa quase R$ 1 bilhão.

A formação de um estoque de capital, ou dry powder, como os iniciados nesse mundo gostam de falar, em um momento como o atual, de juros e inflação altos e de riscos geopolíticos, é um sinal positivo pois indica que o mercado de venture capital brasileiro já tem uma dinâmica bem azeitada. Em bom português: não tem bolha!

Fundos de VC têm, por definição, um ciclo de vida de 10 anos, sendo que os 3 primeiros são dedicados à construção do portfólio de startups, e os anos restantes à gestão dele. E é justamente o dry powder acumulado agora que vai garantir esses aportes nos próximos anos.

Aqui, o momento conturbado até joga a favor. Isso porque, com a correção dos valuations, a expectativa é que os investimentos feitos agora, com cheques menores e mais atenção aos fundamentos, tragam retornos muito melhores do que algumas das loucuras feitas ao longo dos últimos dois anos – que nunca vão se pagar, ou já têm até levado à perda de dinheiro.

Tendência global

O interesse dos LPs brasileiros segue uma tendência global. No mundo, a captação dos fundos de venture capital soma US$ 220,7 bilhões no acumulado do ano. O número é maior que os US$ 210,4 bilhões de 2020, e é  quase o mesmo que o registrado em todo o ano de 2021 (US$ 257,8 milhões). Se o ritmo de avanço for mantido, 2022 pode se aproximar, ou mesmo passar 2018, quando o total de recursos captados chegou a US$ 292 bilhões.   

Na hora de alocar seus recursos, os LPs têm procurado mais os gestores com histórico. Do que foi colocado cerca de 20% foi para novos veículos de gestores que já têm algum histórico e também mais porte. Novos fundos acima de US$ 250 milhões representaram um quinto das captações, com os de US$ 1 bilhão para cima dobrando sua participação na comparação com todo o ano de 2021.

Dinheiro é o que não falta.

Aportes startups em 2022

Seguindo a tendência já apresentada no 1º semestre, a escadinha dos investimentos em startups registrou mais um degrau para baixo no 3º trimestre.

No Brasil, foram US$ 517 milhões em 69 transações, um recuo de 72% em termos de valores, na comparação com o mesmo período do ano passado, e de 48% em relação ao 2º trimestre de 2022. De acordo com Rodrigo, as rodadas do período foram concentradas em fintechs, inteligência de dados para marketing e vendas e na ‘economia verde’. “Os fundos continuam priorizando rentabilidade e resultado em detrimento de crescimento”, pontua.

Globalmente, foram US$ 87 bilhões em 7.817 operações, menos da metade dos US$ 190,1 bilhões do ano passado, pouco mais de um terço a menos que os US$ 136 bilhões do 2º trimestre. “No 3º trimestre, o investimento em venture capital caiu para a uma mínima não vista desde o 2º trimestre de 2020 apesar de todas as regiões terem registrado pelo menos um mega aporte superior a US$ 1 bilhão. As empresas com altos valuations terão que se esforçar para mantê-los. Pelo lado positivo, ainda tem muito dry powder no mercado. As companhias fortes e resilientes continuarão a atrair recursos e vão prosperar”, disse Jonathan Lavender, head global da KPMG Private Enterprise, em material de apresentação dos números do período.

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