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O interesse de fundos estrangeiros por startups do Brasil é um fenômeno que já vem acontecendo nos últimos anos e que ganhou muita força em 2021. De fato, o dinheiro dos gringos já está presente em 27%, ou 1 em cada 4 rodada de investimento que aconteceu no país até o fim de novembro.

O percentual é quase o dobro do registrado em todo o ano de 2020, quando a fatia foi de 15%, segundo dados da SlingHub compilados com exclusividade para o Startups.

Foram 186 rodadas que contaram com a participação de fundos estrangeiros no acumulado do ano por nomes internacionais. Em 2020, foram 95. Até 30 de novembro a SlingHub contabilizou 695 rodadas anunciadas no Brasil, 83 a mais do que as 612 de todo o ano passado. Com este movimento, no acumulado desde 2019, as rodadas realizadas somente por brasileiros deixaram de representar 64% do total, para ser 58%.

O relatório leva em conta apenas fundos de venture capital e não conta aportes de investidores ou redes de anjos nem de corporações. O SlingHub considera como nacional os fundos de origem brasileira, como Bossanova, monashees e Igah, mesmo que seus veículos de investimento estejam juridicamente estruturados fora do Brasil.

Os fundos internacionais avançaram tanto nos coinvestimentos com casas brasileiras quanto quando nos aportes feitos apenas por estrangeiros. No 1º caso, foram 111 eventos, ou 16% do total de rodadas, contra 58, ou 9% do total, em 2020. Quando o assunto é só fundos estrangeiros, foram 75 rodadas, ou 11% do total. Ano passado, foram 37 (6% do total).

“Mais rodadas maiores estão acontecendo com as startups crescendo e se desenvolvendo. E a batalha por elas aqui é menor do que nos EUA ou em Israel. Por isso os investidores internacionais estão aparecendo”, avalia João Ventura, fundador e presidente da SlingHub.

Fonte: SlingHub

Fé Renovada

A fé renovada dos investidores estrangeiros é um reflexo do amadurecimento do mercado e parece deixar para traz o estigma que tinha sido criado no mercado na 1ª metade da década de 2010. Quando a 1ª onda de startups voltadas principalmente ao B2C e ao varejo que surgiu e se deu mal até por volta de 2015, muito investidores internacionais que embarcaram amargaram prejuízos e se afastaram do mercado por algum tempo.

O exemplo mais concreto disso é a Tiger Global, que deixou o país depois de perder dinheiro com investimentos como o Peixe Urbano e hoje é um dos principais criadores de unicórnios da América Latina. Em julho, a gestora Sequoia fez um post tecendo louros ao mercado latino. Antes, em maio, a a16z tinha feito declaração de amor semelhante.

O que parece não ter mudado ainda é a dinâmica da participação dos fundos estrangeiros, com uma forte concentração nos negócios com cheques de maior porte. Na faixa de US$ 10 milhões a US$ 50 milhões, eles são quase dois terços (62%). Acima de US$ 50 milhões, 8 entre cada 10 negócios teve a participação de estrangeiros.

Na avaliação de João, 3 fatores justificam esse modelo de atuação. O 1º é a questão dos custos envolvidos no investimento em uma startup no Brasil. “Para um cheque pequeno, não compensa os gastos para entender o Brasil, fazer due diligence. Além disso, a maior parte das startups não tem estrutura fora, o que dificulta o processo”, diz. O 3º aspecto é o fato de os próprios fundos brasileiros não terem, ainda, disponibilidade de recursos para fazer as rodadas mais avançadas, de série B para cima, tendo que contar com cheques maiores vindos de fora.     

Mas os números da SlingHub mostram que há um início de um movimento de mudança nas dinâmicas com estrangeiros entrando em rodadas menores e brasileiros aumentando a aposta em investimentos maiores.

Os estrangeiros participaram sozinho de 24 rodadas com valor de até US$ 1 milhão ao longo de 2021, mais que o dobro do número registrado no ano passado. Já nas rodadas entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões, os brasileiros levaram para si 21 investimentos, contra 15 ao longo de 2020.  

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