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O sequenciamento genético foi um avanço científico que abriu um novo capítulo para a medicina ao permitir um entendimento profundo de como funciona o corpo humano. Mas passados 15 anos do início dessa revolução, o mapeamento genético ainda não está amplamente acessível, e a maior parte do que se faz ao redor do mundo hoje (80%) é de perfis de pessoas brancas da Europa e dos EUA.

Essa falta de diversidade chamou a atenção da geneticista Lygia da Veiga Pereira em 2017. “Está se desenvolvendo uma medicina genômica que só é precisa para pessoas com essa ancestralidade. Uma parcela enorme da população está sendo excluída. E isso é uma perda de oportunidade de fazer achados sobre a população global”, conta ela. E que lugar melhor para falar de diversidade do que o Brasil.    

Ela então se juntou com outros dois colegas da academia, ela lançou o projeto DNA Brasil, que em 2020 virou um programa do Ministério da Saúde, o Genomas do Brasil. A iniciativa abriu os olhos de Lygia para outros projetos privados ao redor do mundo e ela viu ali a oportunidade de empreender.

Assim nasceu, em 2021, a gen-t. O plano é complementar a iniciativa do governo fazendo um mapeamento da população atendida em serviços privados, com foco na camada da classe B para baixo. Em 5 anos, o objetivo é chegar a 200 mil pessoas, com um acompanhamento da saúde delas ao longo do tempo. “É um número ambicioso, mas é possível”, afirma Lygia.  

Para financiar esse plano, Lygia fechou uma captação de R$ 10 milhões (US$ 2 milhões). Os recursos foram aportados por um grupo de peso que inclui Eduardo Mufarej, Armínio Fraga, Daniel Gold (QVT Financial) e a farmatech americana Roivant Sciences.

Será?

Lygia conta que na 1ª conversa que teve com Mufarej para apresentar a iniciativa, ele não entendeu nada do que ela falou. Mas ele chamou Dan Gold, que disse que aquilo tudo era muito interessante, mas que não sabia se tinha um negócio ali. O próximo passo foi pedir o apoio de uma consultoria para criar um plano de negócio. Com isto feito, veio o investimento.

Com o aporte, ela aprovou o projeto de pesquisa e conseguiu as liberações para tocar a iniciativa, montou um laboratório para processamento e armazenamento das amostras (de sangue e de plasma), contratou um time de tecnologia e fechou um acordo com a rede de clínicas Dr. Consulta para recrutar pessoas interessadas.

Qualquer pessoa com mais de 45 anos pode participar. “Estamos coletando de forma agnóstica porque ainda não conhecemos a genética da população brasileira. E precisamos conhecâ-la”, diz Lygia.

Depois de consentir com os termos propostos é feito o onboarding com uma batelada de exames e um extenso questionário de saúde. O “pagamento” pela participação é feito por meio dos resultados dos exames feitos e dos insights obtidos a partir deles.

Segundo a fundadora, o plano é divulgar uma parte dos achados sobre a genética do brasileiro pelo seu potencial de impacto no sistema de saúde como um todo.

Modelo de negócios

A linha de receita mais óbvia é se aproximar da indústria farmacêutica para vender informações das descobertas feitas e com isso ajudar no desenvolvimento de novos medicamentos.

De acordo com Lygia, já há um histórico de mercado que mostra que com o uso de dados genômicos, é possível reduzir o tempo de desenvolvimento e aumentar em 2 vezes a chance de uma determinada pesquisa virar um produto. “O uso tem resultados. Nem que ser para mostrar que determinado medicamento não funciona”, diz. O plano também passa pelo desenvolvimento de produtos ou serviços próprios.

“Temos a vantagem competitiva da diversidade da população e também por ter começado tarde e poder aprender com tudo que deu errado com outras iniciativas”, avalia. Segundo ela, há conversas com mais 3 sistemas de saúde em diversas regiões do Brasil para ampliar o alcance do recrutamento de participantes.

“Teremos um biobanco que permitirá um uso contínuo de armazenamento de amostras. Trará a possibilidade de desenvolver parâmetros, oxigenar a saúde pública, impulsionar a predição de doenças e as pesquisas por novos medicamentos, e ajudar pacientes em todo o mundo”, diz Mufarej em comunicado.

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