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Para Andrezza Rodrigues, CEO e co-fundadora da HerMoney, os últimos meses foram marcados por uma (r)evolução. A fintech, que desenvolve uma assistente financeira para empreendedoras, fechou parcerias com gigantes do setor, colocou em pé sua plataforma tecnológica e agora investe na expansão da base de clientes e de seu ecossistema de produtos financeiros.

Há 18 meses, a empreendedora conversou com este Startups, quando a plataforma que criou para empoderar micro e pequenas empreendedoras tinha apenas 55 clientes. Naquela época, a gestão financeira era feita manualmente – as mulheres enviavam seus comprovantes, e a startup devolvia um panorama das finanças. Uma fila de espera começou a se formar, e, em certo ponto, 100 mulheres aguardavam para usar o serviço. Mas muita coisa aconteceu desde então.

Ciente da necessidade de escalar, a empresa fundada em 2020 e co-fundada por Beatriz Furtado levantou cerca de R$1,3 milhão de nomes como FEA Angels, Sororité e Wishe Women Capital para aumentar o time e desenvolver a plataforma, que está no ar há pouco mais de um ano. Empreendedoras enviam imagens do que recebem e gastam via WhatsApp e a tecnologia de inteligência artificial da startup faz a mágica, usando modelos de machine learning para automatizar o controle financeiro dos micro negócios e “aprender” padrões de movimentação. A base de clientes cresceu 15 vezes, e a startup atualmente conta com mais de 2,5 mil usuárias.

O mercado endereçável da HerMoney são as 30 milhões de empresas lideradas por mulheres no Brasil que, segundo Andrezza, frequentemente encontram muitas dificuldades em gerenciar sua vida financeira. “Esse relacionamento com a gestão financeira nos foi negado por muito tempo”, pontua a fundadora, em referência a um artigo no Código Civil de 1916 (revogado em 1962), que considerava mulheres incapazes de gerir e gerar recursos financeiros.

Endereçando um gap cultural

Segundo dados do Sebrae Delas, programa de aceleração do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de 2020, 70% dos negócios liderados por mulheres costumam falir no primeiro ano de operação por motivos como falta de controle na gestão de dinheiro. Por outro lado, Andrezza ressalta que mulheres tem uma capacidade de geração de recursos maior em meio à instabilidade – por exemplo, mulheres (34%) têm buscado mais soluções digitais para lidar com a crise que os homens (31%), segundo outro relatório do Sebrae, do ano passado.

“A HerMoney olha muito para um problema econômico do Brasil. Mas para resolver um problema econômico, a gente precisa ainda endereçar um gap cultural que também temos, e esse é o nosso propósito”, diz a empreendedora, em entrevista ao Startups. Segundo a CEO, outro entrave é o fardo administrativo que a gestão financeira implica, que o Sebrae diz tomar cerca de 73 horas da vida de pessoas que lideram seus pequenos negócios.

Nesse contexto, o “robozinho” da fintech atua como ferramenta para construir e controlar a gestão financeira, fornecendo recursos para a tomada de decisão: entre as funcionalidades, está um dashboard que mostra um raio-x financeiro, além de envio de pushes de dados, metas e lembretes de ações como contas a pagar. O serviço tem uma assinatura gratuita no modelo freemium e uma versão mais avançada por R$ 47, que dá acesso a mentorias, conteúdos educativos e relatórios financeiros, além de integração bancária com uma dúzia de instituições.

O perfil típico da usuária HerMoney é a empreendedora com faturamento médio de R$20 mil, que já tem funcionários e um CNPJ – segundo Andrezza, a fintech consegue fazer com que cerca de 60% das novas clientes se formalizem em 40 dias. Apesar de terem uma receita relativamente pequena, este tipo de negócio já gera informações financeiras o suficiente para que a empreendedora se perca ao tentar registrar isso manualmente, ou de qualquer outra forma. “A HerMoney vem para digitalizar e facilitar este processo. Nossa maior concorrente é a [fabricante de cadernos] Tilibra“, brinca a fundadora.

Novas frentes de atuação

Até recentemente, a HerMoney esteve focada em “resolver o básico”, diz Andrezza, e fazer com que a tecnologia de IA da startup se torne cada vez mais treinada e inteligente, ao atrair mais usuárias para a plataforma. Exemplos de movimentos neste sentido incluem a parceria com o Sebrae-SP para oferecer acesso ao software de gestão financeira para 1 milhão de micro e pequenas empreendedoras. A expectativa é ter cerca de 10mil mulheres usando a plataforma nos próximos 12 meses.

Andrezza Rodrigues, fundadora e CEO da HerMoney

No entanto, a fintech observa uma série de oportunidades para agregar produtos à jornada da mulher que está à frente de seu próprio negócio. “Nosso sonho grande é que a HerMoney seja o oráculo das empreendedoras. Elas não terão que sair de dentro da [plataforma] para tomar nenhum tipo de decisão financeira. Partindo disso, a gente começou a abrir outros caminhos e trazer para esse ecossistema todos os produtos e serviços que elas precisem”, explica a fundadora.

Entre estes novos produtos, está o crédito, que a fundadora acredita ser um mecanismo que reverbera para além do negócio da empreendedora em si, e causa impacto na sociedade como um todo. A demanda é latente entre mulheres: segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em parceria com o Sebrae, 55% das empreendedoras classificam como difícil ou muito difícil conseguir crédito no Brasil.

Para endereçar estas dores, a startup tem orquestrado parcerias com nomes como a entidade de microcrédito Finsol e a Losango, do Bradesco. Com esta última, uma linha de crédito especial foi desenvolvida em parceria com a HerMoney, onde mais de R$ 1 milhão foi concedido a empreendedoras em três meses, a um ticket médio de R$9mil. “Entendemos que, por um lado, a nossa plataforma trata a questão de cultura financeira para empreendedoras, e por outro é um CRM do mercado de produtos e serviços financeiros”, ressalta Andrezza.

Segundo a fundadora, ter uma fotografia das finanças da empreendedora ajuda a entregar ofertas mais assertivas para a base e evitar endividamento das mulheres. Ao mesmo tempo, diminui o risco associado ao crédito para as instituições. “Entregamos leads altamente qualificados e assertivos, com dados que são constituídos sem interação humana através de integrações, e que diminuem a inadimplência e aumentam as vendas de fato”, aponta a CEO.

Fazendo a lição de casa

Apesar de mirar o break-even no início do ano que vem com assinaturas, a HerMoney deve abrir novas linhas de receita. Isso inclui anúncios de provedores de serviços financeiros a partir de julho, na versão gratuita da plataforma. Neste formato, a startup diversifica seu modelo de parceria – que até então consistia somente em acordos diretos para projetos específicos, como no caso da Losango – e permite que marcas acessem a base de empreendedoras.

Ao mesmo tempo, o modelo permite que a fintech teste a receptividade a produtos financeiros ofertados por parceiros. “Eu não quero ser um banco, ou uma financeira. Eu quero ser uma central de dados que conecta os serviços que as empreendedoras precisam a leads qualificados”, detalha a fundadora. “Mas estamos fazendo uma curadoria muito cuidadosa [de quem irá anunciar], pois construímos uma marca forte e [as usuárias] não estão preparadas para consumir qualquer coisa”, frisa.

No rol de anunciantes, deverão entrar marcas de crédito, meios de pagamento e soluções de e-commerce: a escolha reflete as demandas das próprias usuárias da plataforma. Segundo Andrezza, o projeto deverá iniciar com uma marca em cada uma das três frentes, mas a empreendedora revela que mais empresas estão na fila. “Quando comecei a fazer uma pesquisa e sondar o interesse, acabou se formando uma lista de espera, que reflete um excelente relacionamento no ecossistema comercial inteiro como um todo”, diz a fundadora.

A maioria da queima de caixa na HerMoney está sendo na aquisição de clientes, que Andrezza diz ser a principal área de foco para a startup. “Já aprendemos muito, mas nosso foco é aprender ainda mais sobre o comportamento [de empreendedoras] e evolução delas em relação a produtos”, ressalta. Sem abrir dados de faturamento, a fundadora diz que vai levar o resultado desta lição de casa para a nova rodada que deve levantar no ano que vem, fora do Brasil.

“A HerMoney é um produto financeiro cada vez mais concreto, mas também tem um impacto social gigantesco”, diz a fundadora, acrescentando que durante sua aceleração no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pôde comprovar que investidores nos Estados Unidos são bem mais avançados em relação a investimento de impacto do que no Brasil. “[Nos EUA] o impacto social é visto como uma máquina de dinheiro. No Brasil, ninguém ainda conseguiu construir uma visão crítica sobre isso, e olhar para oportunidades além do óbvio e do que já é conhecido”, pontua.

Quando o assunto é o que vem por aí no próximo ano, Andrezza espera bater todas as suas metas, mais uma vez. “Nosso roadmap é conservador: afinal, somos mulheres”, diz a empreendedora, que diz estar em busca de um sócio. “Espero ter superado nossas projeções em termos de novos produtos, clientes, parceiros, tecnologia e conseguido fazer coisas que a gente não previa, porque esse último ano foi assim. O negócio tem vida própria”, conclui.

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