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O volume de investimento anjo no Brasil deve apresentar um aumento de 10% em 2022, passando a R$ 1,1 bilhão, segundo levantamento feito pela Anjos do Brasil.

Apesar de ser um avanço menor que os 17% apresentados entre 2020 e 2021, o percentual é uma sinalização positiva em meio a um cenário de expectativas pessimistas e de redução no tamanho dos cheques assinados para as startups. “Mostra que os investidores têm apetite para crescer e continuar crescendo o nível de investimentos. Claro que ainda é aquém do que a gente precisaria que fosse, mas dentro do cenário que a gente tem, com notícias aparentemente no mercado, essa é uma boa notícia”, diz Cassio Spina, presidente e fundador da Anjos do Brasil.

A rede caracteriza como investimento anjo os aportes com cheques R$ 800 mil e R$ 1,5 milhão, valor médio feito por ela atualmente. A Anjos tem atualmente 480 investidores em 17 estados.

Otimismo mantido?

A pesquisa sobre os ânimos e expectativas dos investidores é feita anualmente, e, em 2022, circulou na Anjos e outras redes de investidores ao longo do mês de fevereiro, ou seja, antes do caldo das expectativas econômicas globais azedar, carregando o mercado de venture capital junto.

Para Cassio, pode ser que uma mudança de humor tenha acontecido de lá para cá por conta do impacto psicológico dos últimos acontecimentos e notícias, mas a expectativa é que o otimismo se mantenha no 2º semestre. “2020 começou ótimo, daí veio a pandemia e foi um desastre. Em março, todo mundo falou que o ano seria um desastre. Mas depois no 2º semestre a coisa voltou. Em 2022, acho que houve um impacto agora, mas vai bem o resto do ano. Para o ecossistema que pensa em inovação, o horizonte mais longo. Se é realmente inovador, a economia não importa”, diz.

Cassio destaca que os problemas de cortes e ajustes tem se concentrado nas companhias de maior porte e valuation, que precisam pisar no freio de forma mais forte diante de um cenário de revisão de expectativas. Para as companhias em estágios mais iniciantes, os efeitos são bem menores, e os valuations não têm sido tão afetados. “Os fundadores estão começando a entender, principalmente aqueles que puxavam valuations mais estratosféricos, que essa realidade não vai ter mais. Você tinha startup no MVP falando em valuation de R$ 20 milhões. Tinha gente investindo assim ano passado. Mas esse ano não vai acontecer mais dessa forma. Haverá mais razoabilidade”, diz.

2021

Olhando para o ano de 2021, a Anjos do Brasil detectou um crescimento de 17% no volume de investimentos feitos por anjos no Brasil. Foi pouco menos de R$ 1 bilhão aplicado por 7.834 investidores. A base de investidores aumentou 13% na comparação com 2020.

Na avaliação de Cassio, ainda há muito espaço para crescimento. A conta é a seguinte: o volume de investimento anjo no Brasil representa apenas 0,7% do que é investido nos Estados Unidos, que soma aproximadamente US$ 29 bilhões anualmente. “Apesar da evolução que tivemos na última década no volume de investimento anjo, ainda estamos muito aquém do que nosso potencial. Considerando a relação do PIB dos países é de cerca de 7 vezes, o investimento anjo no Brasil deveria ser de pelo menos R$ 10 bilhões. Para que o Brasil atinja todo seu potencial é necessária a criação de políticas públicas de fomento ao investimento em startups conforme recomendação da OCDE, que é aplicada em diversos países, incluindo todos os BRICS, exceto pelo Brasil”, avalia Cassio

Ele reforça que medidas recentes do governo não têm ajudado nesse processo. O Presidente da República vetou o artigo 7º do Marco Legal das Startups, que previa a compensação de perdas com ganhos, como é feito em investimentos em ações de empresas listadas na Bolsa. A posição de Cassio é que isso cria uma situação de desequiparação no tratamento tributário. “O investimento em startups é penalizado enquanto outros investimentos em empresas bem maiores e emissoras de debêntures incentivadas é isento, o que cria um desestimulo para as startups”, diz.

Perfil dos investidores anjo brasileiros

Pela 2ª, a pesquisa da Anjos do Brasil avaliou a questão de raça ou cor dos respondentes. O resultado foi que a maioria dos investidores são brancos (91%), com 3% se declarando pretos, pardos ou indígenas e 4% amarelos. A participação chegou a 16%, o maior número da série, que começou a ser medida em 2017, quando estava em 10%. De acordo com Cassio, a média internacional é de 20% de participação de mulheres. “Não estamos muito longe da média, mas podemos ambicionar ir além”, diz.

Para Maria Rita Spina Bueno, diretora executiva da Anjos do Brasil é preciso que sejam feitas mais ações para ampliar a participação de outros perfis no universo de startups e investimento. “A ação individual e coletiva precisa estar no sentido de estímulo a diversidade”, diz.

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