A Investo, gestora independente especializada em ETFs, está com caixa renovado para escalar o seu plano de atrair mais investidores brasileiros para os fundos negociados em bolsa. A startup levantou um aporte de US$ 8 milhões – aproximadamente R$ 40 milhões, em uma rodada seed com um pool de investidores estrangeiros. Entre os investidores está a tradicional gestora internacional de ETFs e mutual funds Van Eck Associates Corporation.
Com o cheque, a fintech ganha fôlego para reforçar sua carteira de produtos, assim como expandir áreas como as de relações com investidores, vendas e tecnologia. “Nossa expectativa é continuar a construir nosso portfólio com classes de ativos diversificadas, incluindo ações, renda fixa e criptoativos”, explicou o cofundador e CEO da Investo, Cauê Mançanares, em entrevista ao Startups.
A empresa ainda é jovem, com pouco mais de um ano de atividade. No ano passado, ela já tinha captado R$ 15 milhões em uma rodada pré-seed com investidores-ano do ecossistema de Harvard, escola em que Mançanares fez seu MBA e desenvolveu a ideia da startup.
No seu curto tempo de vida, a gestora já reuniu mais 30 mil clientes ativos, totalizando cerca de R$ 200 milhões de ativos sob gestão. Quanto à oferta de ETFs, a Investo tem 12 ofertas listadas na B3 – e agora o plano é aumentar o leque de opções.
“Hoje temos 8 (ETFs) de renda variável internacional, 2 de renda fixa internacional e 2 de cripto. Agora estamos nos preparando para trazer mais produtos com ativos nacionais e aumentar a oferta de renda fixa”, detalhou o CEO.
Com a aceleração trazida pelo aporte, a expectativa da companhia é fechar 2022 com cerca de 20 ETFs listados na B3, incluindo novas opções fora do índice Ibovespa. Quanto ao número de investidores, a meta é passar da marca dos 50 mil, com um montante de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão.
Jogo de longo prazo
Na visão do CEO, o plano de crescimento da Investo não é o de adquirir novos clientes de forma agressiva, mas sim de forma consistente. “Construir patrimônio com investimentos é algo se faz gradualmente, e queremos expandir a Investo assim. Queremos clientes que querem investir conosco no médio e longo prazo”, explica Mançanares, que fundou a Investo junto com os sócios Luiz Junior (COO) e Gabriel Lansac (CRO).
Para ilustrar a visão da Investo, o executivo citou o exemplo do ETF cripto que a gestora lançou no primeiro semestre do ano, um momento não tão favorável para as criptomoedas. Mesmo assim, na visão de Cauê o fundo teve uma recepção acima do esperado, captando mais de R$ 30 milhões. “Talvez se lançássemos no ano passado fosse melhor, mas isso é importante na estratégia de longo prazo”, analisa.
Com o aporte, a empresa não tem planos de fazer grandes gastos em aquisição direta de clientes via campanhas digitais. Para o CEO, o modelo da Investo vai por outro caminho, e a companhia deve investir em mais conteúdos educativos (vídeos e artigos), ajudando potenciais clientes a conhecer o mercado de ETFs e fazer seus primeiros investimentos. Para isso, a empresa foca também em faixas de entrada para suas cotas, a partir de R$ 10.
O foco educacional e de engajamento, de certa forma, encontra relação com o ETF de maior sucesso da gestora, justamente o primeiro que ela lançou. O WORLD11 foi lançado como uma declaração de intenção da empresa, reunindo ações de mais de 9 mil empresas ao redor do mundo. “Lançamos o ETF como uma representação de nossa missão, convidando investidores a diversificarem globalmente a sua carteira, e muita gente comprou a ideia”, comemora Cauê. Hoje o fundo conta com R$ 50 milhões em patrimônio.
Popularizando os ETFs
Segundo a estimativa da Investo, atualmente o mercado nacional de ETFs tem cerca de R$ 40 bilhões em valores movimentados, um percentual ainda minúsculo em relação aos R$ 7 trilhões que o país tem em investimentos. “Isso representa pouco mais de 0,5% do mercado total do país, mas ainda é o começo. Tem um grande potencial de crescimento”, avalia Cauê.
Para fins de comparação, os Estados Unidos, que já têm os fundos negociados em bolsa como um produto popularizado há muitos anos, cerca de 25% do mercado de investimentos já está em ETFs. “Nos EUA já temos mais de 4 mil ETFs, e em regiões como Ásia e Europa o número está crescendo rapidamente. No Brasil ainda estamos engatinhando”, dispara.
Por enquanto, poucas instituições maiores estão nesse barco – um deles é o BTG, que lançou seu primeiro ETF no mês passado. Cauê tem um motivo para essa timidez: 2022 vem sendo um ano difícil para os investimentos no geral, e também inibiu o interesse por novos (e desconhecidos) tipos de investimento. “O montante investido (em ETFs) caiu, por conta do valor dos ativos, mas na Investo nos mantivemos estáveis, e consequimos um crescimento de novos investidores em 35%”, pontua.
Enquanto o mercado engatinha, a Investo pretende caminhar firme, para ficar bem posicionada quando os players maiores “acordarem” para os ETFs. “O mercado vai crescer, mas ainda não sabemos em quanto tempo. Em poucos anos devemos chegar nas centenas de bilhões, mas não vou chutar números, pois provavelmente estarei errado”, finalizou Cauê, com um sorriso no rosto.