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Se você é daquelas/daqueles que enche a boca para falar sobre as startups criadas por ex-funcionários de startups como 99 e Nubank, saiba que essas empresas estão bem longe de terem inventado as “máfias” no Brasil.

Um dos primeiros casos disso foi o da Spring Wireless, de sistemas móveis para empresas que em 2002 recebeu aporte da Intel Capital depois de ter levantado dinheiro com nomes como… wait for it… SoftBank!

“Mas que catso isso tem q ver com Kinea, Itaú e Paketá?”, você deve estar se perguntando. Explico. Essa digressão (firula?) foi para apresentar Fabian Valverde, fundador e presidente da Paketá e um dos sócios da Spring Wireless – depois da união com a Onirium, cofundada por ele. Ou seja, um espécime da “Spring Wireless máfia”.

E ter esse contexto é importante para explicar alguns conceitos que cercam a nova rodada e a atuação da Paketá. A fintech de crédito para funcionários CLT nasceu em 2018 para ser uma empresa lucrativa desde o princípio e poderia ter levantado 4 vezes mais dinheiro do que pegou, mas para que? “Pegamos só o razoável para trazer um selo, um nome que mostrasse governança e confiabilidade”, explica Fabian. No caso, o Kinea.

Segundo ele, todos os empréstimos concedidos até hoje deram lucro. “Não estamos aqui só para fazer uma saída. Não temos essa ansiedade de veluation. Nada contra os ciclos de crescimento gigantes. Já fiz isso. Mas o modelo da Paketá é entregar retorno ao acionista”, completa.

Fabian Valverde, fundador da Paketá Crédito

A rodada

O aporte de R$ 27 milhões liderado pela Kinea com participação da Shift Capital e de atuais investidores vem menos de 1 ano depois de a Paketá levantar R$ 9 milhões com a própria Shift Capital e também com a 4Z. Antes, no começo de 2019, ela tinha levantado R$ 2,6 milhões com 8 investidores pessoa física. Fabian não revela o número exato, mas diz que a Paketá vem triplicando seu valuation a cada ano. Esse é o segundo investimento anunciado pela Kinea Ventures, o braço de venture capital da gestora especializada em private equity. O 1º foi na Monkey Exchange, em fevereiro.

Com um crescimento de 444% na carteira até agosto, a Paketá começou o ano com 34 pessoas. Atualmente tem 72 e deve começar 2022 perto de 100. A ideia era ter esse número ainda em 2021, mas a dificuldade para contratar gente deve jogar o número um pouco mais para a frente.

Na lista de próximos passos está a criação de novas ofertas além do crédito consignado. A ideia é atender todas as necessidades dos funcionários das empresas quando o assunto for crédito com diferentes modalidades. Uma nova oferta já está em teste com 10 dos maiores clientes e deve chegar às prateleiras nos próximos 3 meses.

A operação, que no fim de 2019 tinha 15 clientes com um total de 6 mil funcionários e R$ 20 milhões para emprestar, hoje tem mais de 1,3 mil convênios e R$ 800 milhões divididos em 10 fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) emitidos pela companhia. O menor cliente tem 3 funcionários e o maior, 60 mil. “Tem empresa que empresa R$ 5 milhões, R$ 6 milhões por mês”, diz Fabian.

Modelo de negócios

A proposta é oferecer “crédito contextualizado”, ou seja, a melhor opção de acordo com o momento de vida do funcionário. Isso é feito por meio de uma integração e um relacionamento próximos à área de recursos humanos das empresas. Para os funcionários, ela oferece uma plataforma de bem-estar financeiro, com conteúdo e acompanhamento das finanças. “A gente não gosta do crédito pelo crédito”, diz Fabian.

Fabian conta o caso de uma companhia que encontrou uma forma de reduzir o número de faltas dos funcionários ao oferecer a quem mantivesse uma frequência maior uma taxa de juros muito mais baixa que a oferecida normalmente.

A Paketá começou a operar com a oferta de serviços com marca própria, que derivou para um modelo de Consignado como Serviço (CaaS), em que ela oferece sua infraestrutura para que outros bancos, ou até mesmo family offices ou outras instituições entrem nesse jogo. Segundo Fabian, há casos de clientes em que a Paketá está presente nas duas vertentes: com sua marca própria e com um banco que contrata seus serviços.

Hoje, cada operação representa 50% da receita. Mas a expectativa é que o negócio de plataforma se torne muito maior. Até 2025, a marca própria deve atingir um volume de R$ 2,5 bilhões em créditos. Já o modelo white label pode chegar a R$ 10 bilhões ou R$ 20 bilhões. “A distribuição já está feita. É só ativar”, explica Fabian.

Mesmo sendo tão menor, ele diz que é importante manter a marca própria por ela permitir ganho de capital para os acionistas e também por funcionar como um laboratório onde são testadas novas funcionalidades.

Perguntado se ter o Kinea, e em última instância, o Itaú, como investidor não iria contra essa proposta e poderia afastar concorrentes, ele diz acreditar que não uma vez que não há uma relação direta com o banco, nem a perspectiva de compra de controle da fintech.

Concorrência

Desde antes da pandemia o a oferta de crédito para funcionários de empresas já estava na mira das fintechs com nomes como Facio, Xerpa, Grupo H, SalaryFits e Creditas. No começo de julho, a Quansa entrou na brincadeira.

Para ele, o mercado é muito grande, com R$ 140 bilhões, e a Paketá não precisa ser dona de tudo sozinha. Se pudermos transformar os concorrentes em parceiros e chegar em toda empresa, a gente cumpre o objetivo da nossa existência que é democratizar o acesso ao crédito”, diz.

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